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Leonora, Adeus

Leonora Addio

90 minutos

Diretor: ["3620"]

Com a morte do irmão, Vittorio, ao lado de quem estabeleceu uma parceria responsável por mais de 20 trabalho, a maioria deles clássicos (Aconteceu na Primavera, A Noite de São Lourenço, Pai Patrão, César deve Morrer), Paolo Taviani dirigiu seu segundo longa-metragem solo após Maravilhoso Boccaccio, quando ainda contava com a colaboração do irmão no roteiro. Em Leonora, Adeus, o diretor ensaia uma biografia estranha, embora satisfatória, do poeta e dramaturgo da Sicília Luigi Pirandello, cuja obra serviu de inspiração para alguns dos filmes dos Taviani. Em vez de debater a vida ou a carreira de Luigi, Paolo preocupa-se com o destino das cinzas do vencedor do prêmio Nobel. Sua ênfase é no legado.

Estruturado em segmentos, relacionados apenas pelas cinzas de Luigi ou pela presença do autor nas imagens de arquivo ou na idealização de um conto, Leonora, Adeus é intitulado a partir de uma obra do autor, sem que esta obra oriente a história ou os personagens deste longa. Paolo retrata como as cinzas de Luigi foram disputadas até mesmo pelo governo fascista, do qual o dramaturgo era crítico ferrenho, como uma forma de Mussolini tentar lucrar às custas da popularidade do artista.

Durante a maior parte da narrativa, Paolo investe no preto e branco como uma expressão de uma Itália em luto pela perda de um de seus maiores artistas. Ou, talvez, seja a maneira de o diretor associar Luigi com a semente do movimento neorrealista italiano, já que a morte do dramaturgo antecede o marco zero do movimento em 6 anos (que é o filme Obsessão, do diretor Luigi Visconti). As esquetes incidentais homenagem a importância de Luigi enquanto as cinzas são disputadas cá e acolá.

No percurso até o repouso das cinzas na Sicília, Paolo entrecorta a ação com registros de arquivo – inclusive do próprio Luigi – e fragmentos fílmicos amadores e neorrealistas, introduz a trilha sonora clássica, um réquiem de despedida de seu fonte de inspiração. A sensação é de que a narrativa reconhece o peso artístico e importância de quem homenageia, sem que isto venha ao custo de um proselitismo formal. No lugar disto, um exercício cinematográfico que não procura razão nem justificativa narrativa enquanto evidencia a relação unívoca entre criador e musa (Luigi, neste caso).

O experimento introduz, até mesmo, uma adaptação livre do conto final escrito por Luigi antes de morrer, em 1936, como um epílogo dos 90 minutos do filme. Nele, acompanhamos o jovem protagonista atormentado pela memória de um assassinato cometido. Não deixo de pensar na associação entre o conto e Paolo e Vittorio como artistas que adaptaram, ao cinema, as histórias escritas por Luigi.

É que a adaptação é um processo de assassinato da abstração da obra original em favor de uma realização, concreta, pela linguagem cinematográfica; se o jovem presta homenagem à ruiva indomável assassinada (a literatura), também Paolo ao honrar a promessa de celebrar a memória do autor para todo o sempre.

Ao fazer isto, Paolo homenageia o irmão e discute a própria mortalidade em um filme cuja beleza esta na forma particular e original de um diretor nonagenário mas que demonstra jovialidade e imprevisibilidade maior do que 90% dos diretores da modinha.

Crítica publicada durante a cobertura do 72º Festival de Berlim

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