Aumentando seu amor pelo cinema a cada crítica

Análise de Babilônia. Uma carta de amor ao cinema? Acho que não.

Sinopse: Durante a era de ouro de Hollywood, em Los Angeles da década de 1920, um jovem latino está determinado a conseguir uma carreira enquanto o cinema entra em fase de transição dos filmes mudos para produções com falas.

Direção: Damien Chazelle
Elenco: Brad Pitt, Margot Robbie, Diego Calva, Jean Smart, Jovan Adepo, Tobey Maguire

BABILÔNIA está em exibição exclusivamente nos cinemas.

O que vocês acharam do filme?

Crítica que postei no Letterboxd:

“Esqueça o Damien Chazelle de La La Land.

A ideia de celebração de “amor ao cinema” é contraditória para dizer o mínimo. A intenção de Chazelle não é exaltar a arte cinematográfica, a passagem do cinema mudo para o cinema falado, o aparecimento de estrelas, mas revelar como os primórdios de Hollywood eram um misto de hostilidade, oportunismo, excessos e sonhos partidos.

A presença de um elefante, com direito a seus excrementos, no contexto de uma festa hedonista é o retrato coerente, apropriado e desapaixonado desse mundo. Chega até a transformar a orgia de De Olhos bem Fechados em PG-13.

Não há mocinhos, há tragédias vivas. O galã do cinema mudo que, com o advento do cinema falado, não tem o mesmo sucesso ou a aspirante à estrela, que seduz seu caminho pela estrada de tijolos amarelos rumo à fama, ambos evidenciam a facilidade com que a indústria usa e descarta.

Jack Conrad tem mais êxito do que Nellie LaRoy apenas porque é homem em uma indústria machista.

Já o musicista negro Sidney Palmer experiencia o ápice – ao ser creditado, igual a Louis Armstrong, em primeiro lugar – antes de ser violentado e submetido ao capricho de uma indústria que não pode ofender os sulistas (igual houve o apagamento negro porque não queriam ofender os alemães nazistas durante os anos 30).

Há ainda a menção aos latino-americanos que ajudaram a construir a indústria na figura do protagonista interpretado por Diego Calvo – que apesar de protagonista, tampouco é heroico -, a atriz inspirada em Anna May Wong ou a colunista Elinor St. John, expondo a “nudez” de quem já está exposto para vender mais revistas.

É o retrato fedido e encardido – daí porque a fotografia granulada e cores saturadíssimas – de uma indústria que vende sonhos às custas de pesadelos de outros.

Ao mesmo tempo, Chazelle faz isso a partir de uma câmera ainda mais ágil, dinâmica e voyeur do que as sequências musicais de La La Land. Se fosse só a cena inicial, mas não, Chazelle tem faro para criar humor (o aluguel da câmera para as filmagens antes do pôr-do-sol), enquanto percebe o momento de frear o ímpeto de movimento e se concentrar nos dramas individuais.

Babilônia é um filme sobre cinema, não a versão idealizada e romantizada de outros diretores, mas o cinema tal como foi e talvez ainda seja (embora em menores proporções).”

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1 comentário em “Análise de Babilônia. Uma carta de amor ao cinema? Acho que não.”

  1. Sergio Ricardo M.de Oliveira

    Olá, gostei do seu comentário. Gostaria que você falasse um pouco sobre toda a cena do túnel, com todas as bizarrices mostrada lá. Realmente era necessário aquilo? Ou ficou um pouco forra da narrativa? Gostaria muito de ouvir a sua opinião sobre.

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