Num futuro pós-apocalíptico, uma pesquisadora lidera os esforços de pôr fim a uma guerra civil. Para isso, clona o cérebro de uma destemida capitã do exército: sua mãe.
Diretor: Yeon Sang-ho
Elenco: Kang Soo-youn, Kim Hyun-joo, Ryu Kyung-soo, Uhm Ji-won, Lee Dong-hee, Han Woo-yeol
Jung_E está disponível na Netflix.
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Yeon Sang-ho, diretor de Invasão Zumbi e Psychokinesis, subverte algumas expectativas nesta ficção científica de ação, em que esta componente é acomodada em um mundo virtual de simulação, até mesmo estéril em que a personagem-título literalmente batalha contra efeitos visuais computadorizados para que o projeto que encabeça seja aprovado em uma corporação.
A virtualização da ação reduz a expectativa em torno da conclusão à aprovação ou reprovação do projeto, conferindo-lhe a perspectiva corporativa que é objeto de crítica pela narrativa. A ação não é o que interromperá a guerra entre as colônias da Terra e o país de Adrian, o que pode ser resolvido por vias diplomáticas. A ação é o que mantém unidas a mãe cujo cérebro é propriedade da empresa (Kim Hyun-joo) e a filha cientista (Kang Soo-youn, atriz que morreu após as filmagens).
Ou seja, a ação é a lembrança da filha da mãe – o action figure que substitui a boneca na infância – mais do que o ponto de satisfação do anseio do espectador em cenas de ação ostensivas. E há questões intrigantes – apesar de não discutidas a fundo – em como Seohyun assiste à mãe morrer ao término de cada simulação e alimentar sua culpa para que o experimento continue, e continue, e continue.
Esse corporativismo futurista, que não tem vergonha em evidenciar que a matéria-prima do lucro dos CEOs é o homem, torna-se centro do conflito narrativo. Daí a manutenção da ação dentro da sede da empresa, em vez do mundo exterior, que apenas vemos de relance (correspondendo às expectativas de um mundo ainda mais desigual). Eu tenho muitos problemas com o humor do jovem CEO, e embora entenda que o diretor esteja criticando a desumanidade antissocial dele, não funciona, só irrita.
Também não gosto de como o terceiro ato da narrativa apela à ação genérica que tinha sido questionada até então. E mesmo que aprecie a forma como a narrativa é resolvida, sinto que, no meio do caminho, houve desperdício da protagonista Seohyun e da figura materna que renascia e morria diante de seus olhos.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.