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Close, indicado ao Oscar de melhor filme internacional

A amizade entre dois meninos de treze anos, Leo e Rémi, acaba de repente. Sem entender o que aconteceu, Léo procura Sophie, mãe de Rémi.

Direção – Lukas Dhont
Elenco – Eden Dambrine, Gustav De Waele, Émilie Dequenne, Léa Drucker, Igor van Dessel, Kevin Janssens

CLOSE está em exibição nos cinemas e, em breve, entra no catálogo da Mubi Brasil.

Minha crítica:

Léo e Rémi, garotos de 13 anos, vivenciam a amizade de brincadeiras, pedaladas de bicicleta, confidências e afeto que extravasa até mesmo o sentimento fraterno em direção ao romântico. Isto é feito de uma forma implícita, não explícita, pelo diretor e roteirista Lukas Dhont (de Girl) antes de o início do período escolar provocar uma modificação na dinâmica do relacionamento, em razão de Léo ser incapaz de lidar com os comentários maldosos e bullying de que é gay.

Sem entrar em maiores detalhes do desenrolar da história de Close, a narrativa proporciona ao espectador a munição que precisa para se envolver emocionalmente: no início, acompanhamos a relação construída no esconde-esconde – brincadeira que carrega forte carga de simbolismo -, nas tardes de verão calorosas colhendo flores cujas cores evidenciam esse mundo de afeto, na intimidade e confiança construída a partir da troca de olhares. Aí, ao entrar no colégio, essa dinâmica é alterada: em vez do esconde-esconde, Léo decide praticar hóquei, uma tentativa de sufocar o sentimento detrás do verniz de masculinidade consequente da violência ínsita a esse esporte; no lugar das cores, o mundo em tons de azul, dos quais apenas se destaca a camisa vermelha de Rémi; não há mais olhares, porque Léo desvia deles.

A direção explora a penetração do preconceito, desde a infância, pelas rachaduras de jovens inseguros, impactando as relações que haviam construído e o desenvolvimento da identidade. Esta repressão transborda no texto que não tem diálogos construídos como se escritos por um poeta, mas por uma criança de 13 anos. É por isto que Rémi, interpretado por Eden Dambrine, mal consegue expressar a culpa ou construir frases completas. Ele fala como um garoto falaria naquela situação, envergonhado por haver provocado o que provocou, incapaz de tatear suas emoções junto aos pais de Rémi, com os quais tinha um relacionamento até mais próximo do que com os seus próprios.

Do que mais gosto em Close é como Lukas Dhont aposta no simples. Em certo momento, flores vermelhas são podadas por um trator com uma violenta naturalidade, expressiva por méritos da imagem e não do intérprete. Noutros instantes, Lukas modifica a movimentação horizontal: ao invés da esquerda para a direita, com que nos habituamos ao ver Léo e Rémi pedalando pelos campos, o diretor inverte o eixo, e coloca Léo caminhando da direita para a esquerda, como se tentasse retornar a algo que sabe que não conseguirá mais. Lukas age assim porque empatiza com o mundo dos jovens e percebe que o sentimento mais forte é aquele compartilhado por todos.

Close venceu o Grande Prêmio do Júri, empatado com Stars at Noon; mereceria a Palma de Ouro no lugar. É um trabalho que revela que o poder do cinema está na linguagem imagética associada à acessibilidade de emoções, convidativa para que vivamos a vida do próximo e sintamos sua dor.

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