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Emília Pérez

2/5

Emília Pérez

2024

132 minutos

2/5

Diretor: Jacques Audiard

Se já consigo evitar informações sobre os filmes que são lançados semanalmente, o que dizer de um festival de cinema em que às vezes somente sei quem é o diretor? O que soube antecipadamente acerca do recente trabalho de Jacques Audiard (de Dheepan: O Refúgio, O Profeta e Ferrugem e Osso) era que a protagonista seria vivida por Zoe Saldaña (de Avatar e Guardiões da Galáxia) e que a trama envolvia cartéis mexicanos – logo até podia inferir uma coisa ou outra, só. Entretanto, nada havia me preparado para o que aconteceria com 5 minutos de narrativa.

Zoe é Rita, uma advogada explorada pelo escritório de advocacia em que trabalha e que sabe sobre a culpa do cliente que defende, acusado de feminicídio, mas nada pode fazer acerca senão seu trabalho de assistente. Entra a quebra da expectativa: a frustração da advogada é revelada em um número musical que Zoe desempenha com uma desenvoltura vocal e dançante admirável. Uma esperança surge quando o traficante mexicano Manitas (Karla Sofía Gascón) lhe oferece uma oportunidade: de ajudá-lo a encontrar uma clínica que realize a cirurgia de redesignação sexual para ser a pessoa que sempre nasceu para ser, e que ocultou dentro de si em um reino de violência: Emilia Perez. 

Rita hesita, mas aceita, então o destino das personagens é interconectado inseparavelmente. Manitas morre e nasce Emilia Perez, deixando viúva sua esposa Jessie (Selena Gomez) ao lado dos filhos, realocados na Suíça. Mais tarde, Emilia Perez reencontra Rita para ajudá-la a reaproximar-se da família e, após, inicia um projeto de busca de pessoas desaparecidas pelos cartéis de narcotráfico no México.

O foco múltiplo é um dos equívocos do roteiro. A preparação da cirurgia de Manitas evolui na tentativa de reconexão com a família, após a busca dos cadáveres vítimas do narcotráfico e ainda a trama última sobre o envolvimento de Jessie com Gustavo (Edgar Ramírez). Até gostaria de dizer que a narrativa “transforma-se”, mas a opção do termo é inapropriada, porque Manitas não se transforma em Emília, ele é. Além do mais, a ideia de que a bateria de cirurgias por que passa o personagem poderia modificar a personalidade de uma pessoa cruel em compassiva é otimista, para não dizer ingênua.

Além disso, por mais que goste do fato de a narrativa quebrar a expectativa sobre histórias a respeito do narcotráfico com um musical, não houve nenhuma canção ou dança com que tenha me envolvido, senão pelo elemento surpresa. De fato, estava mais constrangido com a cantoria realizada no interior da clínica médica e no humor involuntário do momento karaokê de Selena Gomez. Este sentimento atravessou o posicionamento de marca exagerado (ex. o cartão Visa Infinite) até a resolução do conflito de Rita, menos pela previsibilidade, mais pela artificialidade.

Por falar em Rita, Zoe Saldana está bem o bastante, não a personagem, que detém uma função acessória a ponto de a remoção dela pouco ou nada impactar o arco da personagem-título. A despeito do relacionamento das mulheres ser nuclear à trama, a frustração de Rita é somente atendida em um ato fortuito. Já Karla Sofía Gascón é dona de uma presença de cena que torna Manitas / Emília em uma personagem ameaçadora o bastante para manter em estado de insegurança e tensão o público. 

Entretanto, a atuação de Selena Gomez é sabotada pela personagem ressentida e facilmente manipulável, cujo desenvolvimento é prejudicado pela ausência de tempo hábil para que as ações dela ressoem. Embora admita ter sido exceção em Cannes – que tem recebido elogios da crítica presente -, Emília Pérez simplesmente não me pegou.

Crítica publicada durante a cobertura do 77º Festival de Cannes

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