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The Surfer

3.5/5

The Surfer

2024

99 minutos

3.5/5

Diretor: Lorcan Finnegan

Eu tenho um carro, um tenho um emprego, eu tenho um nome”.

Ainda não houve um prazer maior no Festival de Cannes do que ouvir Nicolas Cage, o surfista do título, gritar a frase anterior em um momento particular desta narrativa dirigida por Lorcan Finnegan (do terror Viveiro). É uma catarse pela qual já estava esperando ansiosamente e que, pronunciada do jeito idiossincrático de Cage, ganha uma dimensão desesperadamente cômica que enaltece a pretensão de The Surfer. É uma experiência deliciosa quando um filme sabe o que é e o que deseja alcançar, mesmo que esta ambição seja apenas a de divertir com um filme assumidamente B.

A história acompanha o personagem de Cage, que acredita que adquirir a casa onde cresceu num idílio australiano antes das festas de fim de ano é o que o requer para reunir a família separada, restabelecer a admiração do filho e pegar ondas no mar que parece saído de uma pintura impressionista. Mas esse plano é interrompido por causa de uma gangue/seita local liderada pelo carismático coach Scally (Julian McMahon), que pretende “devolver” aos homens da região uma masculinidade que pretensamente teriam perdido. Basicamente, somente os moradores podem surfar e, a partir deste impasse, deflui uma sequência de eventos cada vez mais absurdos que desafiarão a resiliência do surfista título e o privaram daqueles valores que acredita bastarem.

The Surfer torna a humilhação alheia na fonte de humor desconfortável, ainda assim humor. Um Além da Imaginação, em que a sanidade é objeto de questionamento a partir do momento em que o Surfista confunde-se com o ‘Mendigo’ nos arredores. E um Midsommar ambientado na praia ensolarada australiana, na expectativa quanto à ‘rebentação’ do protagonista. O Surfista quer só “pertencer” e ter o espaço pessoal respeitado, ainda que esteja perdido na ideia de que a propriedade com que sonha irá solucionar seus problemas. Muito na narrativa é admirável, dentro da proposta criada, a começar em como o roteiro de Thomas Martin desnuda o Surfista do que acredita defini-lo: o automóvel, o relógio presenteado pelo pai, a aliança que ainda teimosamente mantém no dedo e a dignidade finalmente, obrigando-o a beber água suja e empoçada ou chafurdar no lixo por comida. A cada virada do roteiro, Nicolas Cage entra em modo mais e mais insano e descontrolado.

A encenação progride da imagem toda poderosa do Surfista, no início, sedento pelo oceano diante de si e com o sol dourando a cor de sua pele, para lentes angulares que deformam a aparência dele até o snorricam, um recurso em que a câmera está fixada no corpo do ator virada para ele. Enquanto isso, a maquiagem e os figurinos destacam a transformação do Surfista através de queimaduras, do ressecamento do lábio e da roupa rota. 

O mais bacana é como o roteiro concilia dois modos de enxergar o desenvolvimento do roteiro: uma análise textual, na caracterização de que aquele grupo de surfistas é de fato uma seita, e uma subtextual, na qual os elementos indiciários apontam para elementos simbólicos que podem ser ou não o que o espectador espera que sejam. Até penso que a narrativa estende-se 10 minutos além do desejável, mas como, eu digo como, poderia rejeitar um filme em que Nicolas Cage pega um rato pelo rabo e o bate incessantemente contra a lataria do carro?

Crítica escrita durante a cobertura do 77º Festival de Cannes

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