“Eu pago o seu salário”
A luta de classes, um dos principais objetos de estudo de Marx, já foi ilustrada diversas vezes em tela. Seja por documentários, ficções ou até através de registro de discussões em balcões do comércio registrados com o auxílio de um celular. Boa parte dessas representações diz respeito à um sentimento débil de hierarquia social, onde embasados pelo acúmulo, uns indivíduos acreditam ser superiores a outros.
Jogo de Classe reencena essa dinâmica em uma reunião de pais e funcionários de uma escola particular elitista. Após um jogo de futebol cujo resultado desagradou um grupo de genitores, é discutida a permanência de um funcionário de baixo escalão dentro da instituição.
O curta consegue reunir os diferentes arquétipos que compõem a elite brasileira, sem deixar de alfinetar um estereótipo de “desocupado” entre a classe trabalhadora. Conforme a reunião avança, diversos posicionamentos questionáveis são colocados sobre a mesa. E é sublinhando o texto do diálogo que essa sátira se sustenta. Apesar de começar instigante, esse espelho de absurdos tende a se tornar repetitivo. A discussão que desde o início deixa claro que pretendia enveredar para a demissão do funcionário que se prestou a apitar o jogo vai escalonando, e revelando as faces mais narcisistas entre os envolvidos. A troca de ataques entre a professora, que defende o colega, e os pais irritados acaba em uma “lavação de roupa-suja” onde até a ruptura entre aliados passa a ser uma possibilidade.
Mas, se o espectador acredita poder antecipar os acontecimentos seguintes do curta, ele logo é surpreendido por uma abordagem que vai além da fantasia, e abraça o nonsense em prol de sua crítica social. Jogo de Classe subverte o óbvio escancarando a prepotência dos personagens, assim como a do espectador. É divertido o caminho pelo qual se envereda. Ainda mais quando aponta para a infantilidade de todos os adultos envolvidos.
Jogo de Classe foi exibido na 26ª Edição do Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro – Festival do Rio.
JORNALISTA E PUBLICITÁRIO. Cresceu no ambiente da videolocadora de bairro, onde teve seu primeiro emprego. Ávido colecionador de mídia física, reune mais de 2 mil títulos na sua coleção. Já participou de produções audiovisuais independentes, na captura de som e na produção de trilha musical. Hoje, escreve críticas de filmes pro site do Cinema com Crítica e é responsável pela editoração das apostilas do Clube do Crítico.