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Crítica | As Palavras

Título original: The Words | País de origem: Estados Unidos | Ano de lançamento: 2012 | Dirigido por: Brian Klugman e Lee Sternthal | Escrito por: Brian Klugman e Lee Sternthal | Estrelando: Bradley Cooper, Dennis Quaid, Jeremy Irons, Zoe Saldana, Olivia Wilde, J. K. Simmons, Ben Barnes | Duração: 1h37min.

Após esperar impacientemente a visita da musa da inspiração, encontrar o que julgara ser um tópico relevante e uma boa abordagem, esboçar ideias na cabeça e as organizar em uma folha de papel em branco na esperança de criar um texto pertinente e agradável de ler, o esforçado Rory Jansen (Bradley Cooper) sofre um dos maiores baques que um escritor poderia viver: ter as suas preciosas palavras rejeitadas pelas editoras, instante em que encara as suas próprias limitações e descobre não estar à altura dos ambiciosos sonhos traçados para si mesmo. Assim, As Palavras é uma boa surpresa em capturar as aflitivas noites em claro de um escritor iniciante, sentado diante do cursor piscante de um programa de texto do computador, e a frustração de ter a sua profissão enxergada com indiferença, ou como sendo “apenas um hobby”, por aqueles que mais deveriam incentivá-lo.

Escrito por Brian Klugman e Lee Sternthal, que também dirigem, o roteiro propõe o dilema moral de Rory que, durante a sua viagem de lua-de-mel à Paris com Dora (Zoe Saldana), descobre o velho manuscrito de um livro escondido dentro de uma pasta. Encantado pela qualidade do misterioso trabalho, o escritor dá início ao que seria somente um exercício de palavras fluindo por entre seus dedos, mas que se torna plágio depois da esposa ler e adorar o material, insistindo na sua publicação. Ao invés de contar a verdade, Rory toma o manuscrito como sendo “de sua autoria” e obtém um sucesso editorial sem precedentes, inevitavelmente facilitando a publicação da sua obra mais intimista, antes reputada impublicável. Eis que surge o real autor da obra, o ressentido idoso vivido por Jeremy Irons que poderá por em cheque a carreira meteórica do protagonista.

Narrando literalmente a história, está o renomado escritor Clay Hammond (Dennis Quaid), que diante de uma plateia de ávidos fãs, dentre eles a enigmática Daniella (Olivia Wilde), inicia um diálogo entre realidade e ficção que ultrapassa as páginas da sua nova obra. Através do formato metalinguístico de um livro dentro do outro, os diretores eficazmente descrevem a personalidade dos autores simplesmente pela maneira com que contam as suas histórias: se Clay é de uma dicção fria e distante, reforçada na direção de arte impessoal do seu grande duplex, o personagem de Jeremy Irons tem a eloquência imponente, pausada de quem aprendeu a escolher meticulosamente as palavras e investindo em doses equilibradas de sarcasmo e melancolia.

Revelando um crescente desapontamento ao ser exaltado pelo sucesso de um livro que não escreveu, o que a boa e discreta atuação de Bradley Cooper reforça nos sorrisos embaraçados, Rory percorre um caminho de auto-martírio auxiliado pela sabida recusa da história em se aprofundar em sub-textos já conhecidos. Afastadas as consequências criminais e a reprovação midiática e social caso o plágio viesse à tona, a narrativa explora o íntimo de Rory ao se enxergar literariamente inferior ao autor original e as suas inúteis tentativas de remendar o passado. A propósito, ignore o restante do parágrafo se você ainda não assistiu ao filme, se você enxergar que Clay e Rory são a mesma pessoa – uma dentre duas interpretações, não um fato -, é oportuno destacar o mau-caratismo da versão mais velha do cara que, não contente em só furtar o trabalho de outro, ainda escreve um livro de ficção sobre um tema autobiográfico.

Introduzindo detalhes que acentuam a verossimilhança da narrativa (a garota que lê o livro de Rory no ônibus e o aparelho de audição do velho escritor), rimas visuais (o mesmo enquadramento de Clay e Rory de costas discursando em direção a uma plateia) e um instante poético que, embora improvável, uma vez que facilitaria desmascarar o plagiador, indica o retorno da obra às mãos do seu autor, a narrativa ainda conta com a fotografia acertada de Antonio Calvache, retratando mediante cores lavadas o envelhecimento das memórias, porém sem esquecer o caráter lúdico nelas existente.

Exibindo a realidade do universo editorial para aspirantes a escritores e uma punição bem mais amargurante do que se poderia esperar do crime de plágio, As Palavras tem elementos de um bom livro, faltando-lhe somente aquela pequena fagulha existente nas grandes obras que faz com que as devoremos compulsivamente, página após página.

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