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Buscando…

Buscando...

102 minutos

Mesmo que Buscando… não receba o prêmio de ineditismo, uma vez que Amizade Desfeita já empregou a fotografia exclusiva a partir de webcams há 4 anos (muito bem, por sinal), o trabalho de estreia do diretor e roteirista Aneesh Chaganty merece elogios por saber utilizar a proposta para narrar uma trama convencional: a de David, um pai viúvo e desesperado à procura da filha adolescente, Margot, que desapareceu misteriosamente, deixando apenas pegadas virtuais. Assim, depois de obter acesso às redes sociais de que a filha participava, enfim David começa a conhecê-la além do que esta transparecia ser nos bate-papos e nas conversas por Facetime.

Os contatos na agenda do computador, as amizades no Facebook ou os vídeos que gravou no YouCast começam a revelar uma garota introspectiva, sem amigos próximos, que ergueu um muro intransponível em resposta à morte trágica da mãe, vencida por um câncer, assim como à impossibilidade de dialogar a respeito disso com o pai, que embora presente, não o era emocionalmente. Ao menos, não como Margot necessitava.

Dessa forma, tomando por base o ponto de vista subjetivo de David, herdado por nós como se fôssemos voyeurs, a narrativa é desenvolvida a partir da imagem da câmera do notebook ou smartphone, e da tela destes, além de recortes de reportagens jornalísticas. Somente isto é posto à disposição para solucionar o mistério, aproximando o espectador do protagonista, inclusive em relação à angústia sensível e crescente deste, retratada através de uma atuação convincente e crescente de John Cho (de quem gosto cada vez mais). E se não tivéssemos a empatia para sentir o sofrimento de David, ao menos teríamos conosco o prazer de brincar de detetive, afinal, quem nunca bisbilhotou perfis alheios, conferiu horários e localidades, amigos em comum etc para tentar desvendar as mais diversas questões?

Enquanto pistas vão sendo deixadas proposital e despercebidamente com o passar da trama (matérias jornalísticas, descrições na agenda de contatos, o aparecimento recorrente da gíria catfish – usada para designar usuários de redes sociais que recorrem a fotos falsas em seus perfis – ou mesmo o nome de um Pokémon), o suspense agiganta-se com passadas seguras, e o que parecia ser somente uma adolescente matando aula para curtir o acampamento com os amigos, rapidamente revela desdobramentos que sugerem desde sua fuga ao sequestro.

Mas Aneesh Chaganty, ao lado do co-roteirista Sev Ohanian, cometem equívocos a partir do terço final que impedem a narrativa de ser memorável, e o maior deles está no desfecho rocambolesco. Embora as pistas (bem plantadas) apontem para a recompensa, como ensina a apostila do bom roteirista, e a ação de determinado personagem esteja atrelada ao tema da narrativa, a reviravolta não tem a credibilidade de todo o restante, desde o momento em que um e-mail respondido começa a clarear a verdade. Além disto, a dupla de autores têm a má ideia de explicar, pormenorizadamente ao espectador, como tudo aconteceu (desconfiando, assim, de sua inteligência), e ao fazê-lo, abrem mão da própria proposta, já que abandonam o ponto de vista subjetivo (ou seja, o de David) em troca da objetividade (empregando uma câmera de terceiros).

Afora isso, depois de tudo o que passamos ao lado de David, Aneesh esqueceu de pensar em uma recompensa emocional que conferisse um sentido desconstrutivista à abordagem, que aproximasse em vez de permanecer distanciado e protegido por cabos de fibra óptica, firewalls e avatares. Pode parecer preciosismo, porém é o espaço que, para mim, separa um ótimo thriller (como é o caso de Buscando…, não tenha dúvidas disto) de um que também teria muito mais a dizer.


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