Whiteout é o fenômeno onde inúmeras condições ambientais se unem para criar uma nevasca acompanhada com ventos de até 150 km/h e que impedem de enxergar um palmo à sua frente. Ou ao menos é isto que um personagem, no início de Terror na Antártida, explica. Mas a se tratar da (falta de) inteligência deste thriller na neve, desconfio bastante da veracidade da descrição. Escrito a oito mãos a partir de uma graphic novel que desconheço e dirigido por Dominic Sena cujo maior “feito” foi dirigir 60 Segundos e Swordfish, Terror na Antártida é um espetáculo em matéria de estupidez. A começar pela cena inicial, a bordo de um avião russo, em que os tripulantes trocam tiros em pleno ar (e não é difícil imaginar o destino do pobre avião). Aliás, para um filme que se passa na Antártida e chama o fenômeno de Aurora Boreal – que só existe no Ártico -, não dá pra esperar muita inteligência dos roteiristas.Carrie Stetko (Kate Beckinsale) é uma agente do FBI removida para a Antártida após um incidente ocorrido nos Estados Unidos – conforme a cartilha do gênero, em determinado momento da projeção ela irá confidenciar este fato à pessoa menos provável. Logo na sua primeira cena, vemos a debilidade do roteiro ao apresentá-la removendo toneladas de roupas apenas para entrar no chuveiro (como se não soubéssemos que faz frio naquela região). Mas, duvidar da inteligência do espectador é o menor dos problemas, e ao descobrir um cadáver no gelo, Stetko desconfio da possibilidade de um assassinato e confidencia ao médico e amigo Dr. John Fury (Tom Skerritt) a necessidade de um caso para solucionar diante da inexistência de nada mais grave do que meras contravenções. Associada ao misterioso Robert Pryce (Gabriel Macht) e ao piloto Delfy (Columbus Short), Stetko tem que correr contra o tempo para solucionar o caso antes do rigoroso inverno polar.Dirigido próximo ao enlatado, a narrativa tem poucas boas cenas, mas o mérito destas vem da paisagem desolada do pólo que naturalmente cria um sentimento de claustrofobia e tensão, e não de esforços do cineasta Dominic Sena. Recorrendo a deselegantes flashbacks para apresentar o “traumático” passado de Stetko, perguntei-me se aquele seria um motivo forte o bastante para torná-la reclusa no pólo sul? Suponho que a resposta seja um grande Não.Ademais, é muito difícil levar a sério os dotes investigativos de Stetko quando depois de prender um importante criminoso, ela se dá ao luxo de dormir antes de encaminhá-lo preso. Porém, nada explica cometer um “erro” de julgamento duas vezes. Finalmente, a identidade do assassino – mesmo não estando estampado na cara – pode ser deduzida com antecipação usando um pouco da lógica do gênero. “Revelação” que representa um desfavor ao filme, pois vem carregada de uma enorme incoerência e não se sustenta após uma re-análise.
Mais longo do que o desejado, Terror na Antártida encontra-se no único lugar que deveria estar, isolada no local mais inóspito da Terra.
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Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.
1 comentário em “Crítica | Terror na Antártida”
É o tipo de filme que vemos em demasia, sempre com aquele roteiro frágil e convencional.