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Escolha ou Morra

Escolha ou Morra

84 minutos

Jogos Mortais versão Atari

Com a exceção de tabuleiros ouija, ou verdade e consequência e similares, os jogos no gênero terror existem além da voluntariedade das personagens. Se não jogarem, estão condenadas; caso joguem, têm uma chance ou uma ilusão de chance de permanecerem vivas, a exemplo de Cubo, Casamento Sangrento, Escape Room ou o subgênero de caçada humana. Mas Escolha ou Morra, terror disponível no catálogo da Netflix, deve ser comparado com Jogos Mortais, com uma relevante diferenciação: se neste, para permanecer vivo, o jogador costumava sacrificar algo de si, no terror britânico de Toby Meakins, o jogador precisa sacrificar o próximo.

A diferença modifica o que justifica o terror em nível conceitual. Se em Jogos Mortais, ou ao menos na trilogia original, John Kramer desejava que as pessoas valorizassem mais a vida que fugia de sua mão, em Escolha ou Morra, o roteiro de Simon Allen, Toby Meakins e Matthew James Wilkinson destaca a camada social. A história inicia com Hal (Marsan), que adquire um jogo retrô – daqueles com a fonte verde típica dos primeiros computadores – e precisa decidir entre a mutilação da língua do filho pela esposa ou a morte. No dia seguinte, no mesmo horário, a mutilação é do olho do rapaz. Hal resolve criar cópias do jogo e distribuí-las, em vez de continuar jogando.

Choose or Die Review - IGN
A vida estava mais fácil em Sex Education, hein?

Salte alguns anos e Kayla (Evans), uma jovem programadora que mora com a mãe depressiva após a morte acidental de seu irmão caçula, encontra o jogo. A primeira decisão provoca a garçonete da cafeteria a comer vidro (argh, que agonia!). Seu melhor amigo, Isaac (Butterfield, de Sex Education), acredita no que os olhos colocam diante de si e, agora, enquanto enfrentam as fases do jogo, a dupla tenta descobrir suas origens. Existe um romancezinho platônico por parte dele, mas que não desvia o terror do que deve fazer.

Igual a Jogos Mortais, o gore obriga o espectador a encarar violências explícitas. Mas, diferente da série popular de filmes, Escolha ou Morra também fomenta tensão a partir da sugestão – o rato que devora a porta e que apenas é construído no imaginário do espectador – ou da memória trágica – o retorno à piscina onde o irmão caçula de Kayla morreu. As sequências são dirigidas com segurança por Toby Meakins, aliado à diretora de fotografia Catherine Derry, que joga com tons néon de verde, vermelho e azul e as sombras para mascarar a alma B do thriller.

No que Escolha ou Morra falha é o roteiro, que cria uma mitologia do jogo que provoca perguntas, em vez de respondê-las, além de convidar furos, a exemplo do destino de Hal ou mesmo a ideia que a maldição de um é a benção do outro. Um elemento que fica mal explicado em retrospecto, afinal, de quem foi a benção da garçonete comer vidro? Ou de uma personagem enfiar a cabeça na pia cheia de seringas (argh, que agonia, de novo!)?

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Ok, você tem minha atenção!

A pirâmide e como a maldição violenta de muitos termina por ser a benção (?) de privilegiados, e aí na crítica ao capitalismo, até funcionam, caso você introduza sua leitura ao lado da lacuna deixado pelo roteiro para esta interpretação. Em contrapartida, é bastante embaraçoso o discurso feminista introduzido no terço final, diante de uma personagem que lamenta não ser mais o herói que era nos anos 80.

Se bem que, para um terror em que a protagonista é uma programadora em um mundo de homens, parece lógico ter um vilão, ainda que mal construído, como uma espécie de incel. Além disto, a menção a super-heróis (você entenderá) apela ao gênero mais popular de agora na tentativa de conquistar um público maior. E, se considerar que o trio de roteiristas adota o crédito das séries created by (criado por) no lugar de written by ou screenplay by (escrito ou roteiro por), presumo que pensam no filme como um piloto de uma série de filmes até pelo gancho deixado no final.

Diante da experiência de Jogos Mortais (ou de séries de terror, em geral), se este decente Escolha ou Morra fizer sucesso com o público, aguarde 1, 2, 3 continuações.

Netflix Unveils Trailer for "Choose or Die" - Sada El balad
Verde e vermelho, cores complementares no círculo cromático.

P.S. Robert Englund, o intérprete de Freddy Krueger, é a voz detrás do jogo.

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