Baseado no romance de Christopher Isherwood, o roteiro apresenta o professor George Falconer (Colin Firth), um homem triste, porém extremamente culto e cativante. Metódico – reparem como em determinado momento, todos os objetos formam ângulos retos em cima de sua mesa – George sofre com a dor da perda de um grande amor e flerta com o niilismo e o suicídio em uma época marcada pelo medo dos mísseis de Cuba, a “ameaça comunista”, e conservadorismo de uma sociedade à beira do declínio moral e social.
A boa direção de arte de Ian Phillips e os figurinos de Arianne Phillips desempenham importante papel na reconstrução do tradicionalismo norte-americano e ajudam a definir o protagonista. Trajando ternos de cor pálida e sem vida e a armação de seu óculos quadrada, George parece completamente definido pelo seu guarda-roupa. Já a trilha de Abel Korzeniowski, que permeia quase que toda a narrativa, pontuam os momentos de silêncio de forma precisa, desenvolvendo a melancolia do personagem com segurança.
Enquanto isso, a fotografia de Eduard Grau, nos momentos em que encontra George sozinho, opta por empalidecer o quadro deixando-o sem vida; mudando sua abordagem na eminência de um contato humano, quando a iluminação confere ânimo. Esta dualidade é bem explorada por Tom Ford: a solidão de um homem que acha que perdeu o motivo de viver com a redescoberta disto a partir dos relacionamentos e da conexão com outro ser humano.
Mas é Colin Firth o principal destaque. Ator britânico que nunca me pareceu fugir de um mesmo tipo de personagem – um Hugh Grant mais sério? – aqui ele alcança um desempenho formidável. Sem usar seu homossexualismo como muleta de interpretação, ele se atém à dor de seu personagem e a reviver os momentos que o lembram o que é viver, exibindo uma vulnerabilidade, desde o cabelo grisalho até seu olhar cansado e sem brilho.
Mesmo com momentos embaraçosos, como o clichê de colocar um band-aid em uma ferida, e o peso da estreia no terço final do filme, quando Tom Ford peca em excessos, como não se apaixonar por uma narrativa que, durante a crítica de um personagem, consegue transpor tanto ciúme quanto preconceito enrustido?
O ser humano não nasceu para se isolar e relacionamentos elevam a espécie a algo extraordinário. Ao abraçar esta verdade, Direito de Amar conquista e emociona o coração.
Avaliação: 4 estrelas em 5.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.
1 comentário em “Crítica | Direito de Amar”
Hmmm! Gostei! Quero ver!!! 🙂