Como acabei de dizer no meu texto sobre Plano B, eu não considero a previsibilidade como algo necessariamente ruim no cinema. Lógico que eu prefiro muito mais ser surpreendido, mas em certos gêneros é perfeitamente aceitável que a mocinha no final fique com aquele cara ao invés daquele outro simplesmente porque assim tem que ser. E Cartas para Julieta, ao menos a princípio, parecia caminhar em um rumo agradável de romance. Até porque a narrativa representa uma brisa nova no gênero, algo que eu vou mencionar mais adiante, mas infelizmente aceita o mínimo aceitável se tornando uma experiência decepcionante.
Sophie (Amanda Seyfried) é uma mulher que investiga fatos, mas sonha mesmo em se tornar uma escritora. Em uma viagem com o namorado Victor (Gael Garcia Bernal) a Verona na Itália, terra em que se desenrolou o romance de Romeu e Julieta, ela descobre uma carta escrita há 50 anos atrás revelando uma história de amor. Se unindo a um grupo chamado, “As Secretárias de Julieta”, ela responde a carta e dá um novo ar de esperança a Claire (Vanessa Redgrave), uma senhora idosa, que até hoje acredita no amor de verdade que deixou para trás.
Se desenrolando como um autêntico road movie, o que se por um lado denuncia a fragilidade da narrativa, por outro lado é uma oportunidade de conhecer um lado mais bucólico da Itália, Sophie, Claire e seu neto Charlie (Christopher Egan) partem em uma busca por aquele amor perdido há quase 50 anos.
Muitos dos problemas de Cartas para Julieta são do roteiro de Jose Rivera e Tim Sullivan. Apresentando Victor como um homem que se interessa apenas por culinária e abandona a noiva em lua de mel para ir a um leilão de vinhos – e chega a ser cômico como o sujeito toda vez se esquiva de algum programa romântico apenas para degustar uma trufa ou um queijo -, o roteiro facilita o clichê mais batido dos últimos anos, “o casal que se odeia e que se ama” (eu sei, falei disto na crítica de Plano B, por isso, se chama de clichê!). Assim, se a princípio Charlie e Sophie se destratam mutuamente, ora apontando a natureza fria daquele inglês ou as ilusões apaixonadas e falsas esperanças daquela; aos poucos, os dois começam a se aproximar mais, a medida em que se road trip se desenvolve até o inevitável beijo que irá suscitar dúvidas na mocinha e etc.
A própria estrutura em road trip facilita o desenvolvimento de um roteiro mais disperso porque pode se basear nos incidentes episódicos de Claire em busca do seu Lorenzo. E como na Itália existem centenas de Lorenzos, ela se esbarra nos tipos mais pitorescos de sujeitos, dos falastrões aos conquistadores. Isto resume consideravelmente o potencial dramático de uma história de amor que se fosse o núcleo do projeto traria muito mais novidade ao gênero. E muito embora, esta busca pelo amor impossível (ou não), acabe relegada a segundo plano, é notável como Vanessa Redgrave ilumina a cena em tela. Sem aceitar a idade como elemento limitador do amor, seu olhar cansado misturado com um sorriso esperançoso – e em momento nenhum, ela abre mão da possibilidade de que o Lorenzo que procura pode estar morto o que revela bem a experiência de vida daquela mulher.
Quanto a Sophie, o roteiro a concebe como alguém esperta e talentosa no que faz. No entanto, ao buscar o Lorenzo, ela sequer consegue propôr uma forma fácil de reduzir o número de italianos encontrados. Até nos diálogos o roteiro se apresenta embaraçoso, e quando uma determinada personagem pergunta “você consegue se mexer” e outro personagem responde, “eu consigo mexer meus lábios” eu juro que quis me enterrar na cadeira do cinema.
Porém, se a experiência se revela decepcionante, o mesmo não se pode dizer da escolha da direção na escolha das cidades em que Sophie visita. Todas recheadas de imagens apaixonantes que poderiam figurar em um guia de viagens, a direção de Gary Winick, que muito pouco faz – gosto de uma transição das bolhas de um espumante e o céu de estrelas -, ao menos reconhece o potencial de ótimas tomadas panorâmicas.
Apesar de repetir muito de sua atuação em Mamma Mia! (sem a cantoria), Amanda Seyfried se revela uma atriz com charme e carisma suficientes em demonstrar real interesse na história de amor de Claire. No mais, Gael Garcia Bernal e Christopher Egan vivem esteriótipos despidos de maior personalidade. Até mesmo as Secretarias de Julieta são definidas por aquilo que são, a mãe, ou a esposa, ou a enfermeira.
Em Cartas para Julieta certamente existe uma história de amor muito bonita que começou a ser contada, mas assim como a carta que Sophie encontra soterrada nas pedras do muro de Julieta, essa se encontra escondida no meio de outras histórias menos interessantes, que acabam diluindo todo seu potencial narrativo.
2/5
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.
1 comentário em “Cartas para Julieta (Letters to Juliet, 2010)”
Filme lindo onde fala de amor e sem preconceito de idade e fala sobre sonhos que nunca se e tarde para se concretizar. Linda estoria e lindo cenario. Vale a pena ver mais de duas vezes kkkkk!!! Somente para homes e mulheres romanticas que vao entender esse filme… Que com certeza assistiram tambem o filme Note Book….