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Crítica | Os Perdedores

Se Esquadrão: Classe A fosse bom seria parecido com este Os Perdedores. Na verdade a semelhança é tamanha que seria suspeita caso ambas as histórias não tivessem raízes em mídias distintas – a primeira na série de TV dos anos 80 enquanto este nos quadrinhos da Vertigo, criados por Andy Diggle.

Os perdedores do título são uma equipe de combatentes vinculados a CIA e envolvidos em operações de alta complexidade e natureza duvidosa e que, por causa disto, não são associadas ao Governo Americano. A mais recente delas é marcar a mansão de um contrabandista em plena selva Boliviana para ser destruído em um ataque aéreo. Mas eles eles não sabiam que seriam traídos e deixados para morrer pela CIA, mais especificamente pela voz no telefone chamado Max (um Charlie do mal, digamos assim).

Combinando comédia e ação, a cena inicial ilustra claramente as pretensões do diretor Sylvain White ao estabelecer a camaradagem entre os membros da equipe em uma disputa de machões. Baseando-se na ação clássica de tiros e explosões, combinando a câmera lenta e o congelamento de quadros, White também combina bem a trilha sonora que acompanha a velocidade dos quadros, mesmo que não se revele particularmente importante do ponto de vista narrativa.

A bem da verdade, em Os Perdedores há a predileção do estilo em detrimento da substância, e se um é clichê afirmar isto, ao menos os resultados são superiores ao esperado. Especialmente, se considerarmos o olhar do diretor em compor belos quadros e estabelecer uma cuidadosa mise en scene, como na queda do helicóptero, no quarto de hotel em chamas, na fuga vista em um pequeno pedaço de vidro, ou na colisão vista no clímax da narrativa. Porém, o fundamental é que jamais duvidamos da capacidade dos protagonistas de realizaram as façanhas e proezas vistas em cena ou das estratégias pensadas, e o fato de podermos acompanhar tudo sem uma montagem picotada apenas reforça a segurança do diretor na narrativa que conduz.

Apresentando membros estereotipados, seja por sua especialidade, como o Coronel Clay (Jeffrey Dean Morgan), seja por um objetivo, no caso do reencontro de Pooch (Columbus Short) e sua esposa, é relevante observar como eles participam ativamente de todas as ações cumprindo seu papel com boas atuações, evitando soar como bonecos dos comandos em ação mesmo sendo unidimensionais: Roque (Idris Elba) prefere matar com facas o que cria um paralelo interessante ao ar ameaçador do sujeito; o atirador de elite Cougar (Óscar Jeanada) não erra um tiro e a sua destreza destoa de sua habilidade social. Mas o destaque é o imaturo e insano Jensen, interpretado com energia por Chris Evans, o cara desfila uma camisa colorida e protagoniza os melhores momentos de humor do longa, como a invasão da empresa Goliath que revela o seu poder telecinético (?).

Já o vilão Max (Jason Patric) é um antagonista respeitável esbanjando irreverência e excentricidade sem deixar de ser perigoso. Identificado a partir de tiques e adereços na vestimenta, o sapato, o relógio, o pin da bandeira norte-americana e a luva na mão esquerda, Max é uma versão light do Coringa, estabelecida em uma era do “terrorismo verde do século XXI“. E o nonsense que o rege é tamanho que ele não hesita em matar uma mulher apenas por deixá-lo descoberto pelo guarda-sol.

Tendo como grande defeito o roteiro esquemático de Peter Berg e James Vanderbilt, a narrativa abusa do deus ex machina empunhando uma bazuca e de reviravoltas e traições que não funcionam exatamente em retrospecto.

Homenageando os quadrinhos nos criativos créditos finais, Os Perdedores pode não ser tematicamente relevante, mas é um baita entretenimento: descompromissado e ágil na execução, características cada vez mais raras nas produções de ação dos dias de hoje.

Avaliação: 4 estrelas em 5.

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1 comentário em “Crítica | Os Perdedores”

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