Do elenco, apenas Stallone e Dolph Lundgren vêm do cinema oitentista – Schwarzenegger e Bruce Willis não contam porque fazem breves participações especiais – e os outros são ex-lutadores de luta livre que se aventuraram no cinema para ganhar uns trocados a mais (como Randy Couture ou Steve Austin) ou astros de ação à moda antigo, porém dos dias de hoje (caso de Jason Statham e Jet Li). A proposta, portanto, não é inteiramente honesta e muitos elementos que se tornaram marcas registradas, como as frases de efeito e as explosões que arremessavam o herói em direção à tela, são ignoradas por uma roupagem atual.
Escrito por Stallone e Dave Callaham, o roteiro acompanha um grupo de soldados de aluguel enviados a uma missão na fictícia ilha Vilena para depor um general (David Zayas) e interromper as ações na região do ex-agente da CIA James Munroe (Eric Robert, no papel que repetiu durante toda sua carreira).
Abrindo a narrativa com um símbolo icônico do machismo (a motocicleta rugindo motores), Stallone investe na camaradagem dos mercenários para sustentar boas piadas, envolvendo a careca de Statham ou a altura de Li (que acaba se tornando o alívio cômico de todo o filme). A presença de Schwarzenegger ainda permite a divertida gag sobre seu desejo de ser presidente. Porém, Stallone perde a mão quando procura enfatizar problemas pessoais dos personagens, como o vício do personagem de Lundgren, ou um relato feito por Mickey Rourke que só não é mais desastroso porque o cara é um baita ator.
Assumindo que a mulher é a única coisa que poderia amolecer o coração de um machão em um filme de ação, Stallone não hesita de enquadrar a personagem de Gisele Itié em uma câmera lenta reverente que a segue de baixo para cima atravessando uma cortina banhada de luz do sol.
Violento, sobretudo no terceiro ato, e sem hesitar mutilar um inimigo ou esvaziar uma metralhadora sem qualquer resquício de piedade, as especialidades de cada ator acabam sendo prejudicadas pelo fato de que todos usam e abusam de armas de fogo (e Statham é a exceção que comprova a regra ao preferir facas). Li, por exemplo, mal pode usar suas habilidades marciais, enquanto Couture e Austin têm uma “luta” pouco inspirada.
Pobremente decupado, e vejam como depois de decidir invadir a ilha, os mercenários já surgem no palácio do general plantando bombas sem mal explicar a geografia da cena ou como eles chegaram lá, a montagem as vezes incompreensível compromete o entendimento da disposição dos personagens na cena, ou mesmo de quem está atirando em quem (e para isso os closes acabam sendo obrigatórios para retratar as mortes). Bom exemplo disto é que durante a “luta” que mencionei anteriormente, pensei que se tratava de Statham, e só depois descobri meu engano.
Se não é exatamente a experiência sonhada pela testosterona envolvida, Os Mercenários é suficientemente empolgante e movimentado para justificar o tema musical The Boys are Back in Towen e incluir o nome deste nos bons exemplares do cinema de ação.
3 estrelas em 5.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.