A natureza da jornada de autodescoberta de Liz revela-se um obstáculo para o diretor Ryan Murphy que nunca consegue conferir uma linguagem uniforme e fluida para encadear os destinos da moça. Ao invés de ser inovador, o inexperiente diretor caí na mesmice ao usar elementos familiares ao descrever cada escala na viagem de Liz: a agitação eufórica na Itália, o tom contemplativo na Índia e o aspecto virgem e naturalístico de Bali. Jamais funcionando de maneira regular, o filme é desequilibrado e episódico permitindo que o espectador consiga pinçar o destino que o mais agradou ao invés de embarcar na viagem plenamente.
A narração de auto-ajuda in-off deve funcionar no livro e, apesar de oferecer uma sabedoria válida, se torna auto-indulgente comprometendo o ritmo. Desta forma, Ryan Murphy aleatoriamente despeja sobre o espectador recursos de composição de quadro e movimentação de câmera no intuito de conferir agilidade, mas que acabam denotando a imaturidade do diretor. E vão estranhos enquadramentos de baixo para cima, deselegantes travellings e panorâmicas sem quaisquer justificativa diegética.
A falta de inspiração da produção contagia a fotografia de Robert Richardson que é bela apenas por retratar lugares idílicos. Até a trilha sonora de Dario Marianelli é pedestre reusando temas típicos da Itália e Índia – Bali é uma exceção ao introduzir a música brasileira, o que ocorre mais pela história em si do que por escolha do compositor. Ao menos a montagem de Bradley Buecker funciona, como no jantar entre amigos intercalado com a reunião de divórcio de Liz ou na tentativa de vestir uma calça jeans concomitante a um jogo de futebol. O montador é também feliz na dança de Liz e Stephen (Billy Crudup) quando, acertadamente, intercala ambientes distintos na fluidez de um único movimento.
Se narrativamente falho, Comer Rezar Amar apresenta ótimas atuações: Billy Crudup está digno revelando traços de insegurança na maneira quase surreal de enxergar a sua própria vida e que irá contrastar com a entrega do apaixonado e calejado Javier Bardem; mas é James Franco, como um ator envolvido por ideias e sofismas, e Richard Jenkins que em um breve momento no telhado consegue revelar a enorme dor da perda, que se destacam no elenco de apoio. Sem esquecer, claro, o divertido Hadi Subiyanto, o Xamã Ketut.
Enquanto isso, Julia Roberts merece aplausos em tornar a experiência agradável. Atriz carismática e magnética, ela vive Liz ligeiramente acima do peso e apática com o rumo que sua vida toma – algo que a atriz transmite facilmente com sua fragilidade e o tom derrotado que emprega na voz. Julia ainda chora copiosamente durante uma oração, é discreta e melancólica nas sequências seguintes e se entrega a um estado de alegria absoluta quando ajuda uma amiga em Bali.
Ela, no final das contas, quem dá à experiência um algo a mais do que um simples cartão postal de auto-ajuda.
3 estrelas em 5.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.