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Robe of Gems

Robe of Gems

118 minutos

Natalia López Gallardo estreia na direção com drama criminal sobre narcotráfico

Para quem assistiu a Post Tenebras Lux (2012), de Carlos Reygados e vencedor do prêmio de direção no Festival de Cannes, e Héli (2013), de Amat Escalante e também vencedor do prêmio de direção no Festival de Cannes na edição do ano seguinte, perceberá que já conhece Natalia López Gallarado, a montadora dos trabalhos citados e que estreia na direção de longas-metragens com este drama criminal que combina a violência e crueza deste último e as questões sociais daquele primeiro. A intenção de Natalia é articula a história de três mulheres, cujas trajetórias se interconectam na trama, e servem de pano de fundo para discussão de um submundo impiedoso e a realidade de centenas de milhares de pessoas no México.

A primeira destas mulheres é Isabel (Norvind), que herda da mãe uma vila no México para onde leva a família, enquanto tenta remendar o resto que sobra de seu relacionamento com o marido. Isabel se reencontra com Maria (Olivares), uma empregada doméstica que cuida da casa mas tem problemas maiores para resolver: o desaparecimento da irmã caçula a empurrou para o mundo do crime que tem estreita relação com a policial Torta (Roa). Apesar de habitarem castas e profissões distintas dentro da estrutura social, estas mulheres estão ligadas pelo mundo do narcotráfico mexicano. Menos cinematográfico, mais real.

Festival do Rio
Héli, de Amat Escalante, é uma das inspirações temática de Natalia López Gallardo

Para retratar este México, Natalia dessensacionaliza o thriller criminal para reduzi-lo ao mínimo denominador comum de mulheres que tentam manter unidas suas famílias, mesmo que isto lhes custe a sua vida. Para tanto, a fotografia de Adrián Durazo emprega tomadas abertas e longas que ajudam ao espectador a enxergar uma ilusão de realidade naquele mundo de cores lavadas e desgastadas, enquanto as relações são costuradas pela encenação, pela movimentação da câmera ou por decisões de estilo que criam barreira – a porta do quarto fechada, por exemplo – que impede Isabel de se comunicar com a filha.

Na narrativa, há menos crime e mais lacunas emocionais. Longe da ação de um cinema típico, a decisão de retratar o íntimo a partir de como as decisões destas mulheres serão transformadoras e dolorosas, contra um pano de fundo desértico e vazio que enfatiza que, muitas das vezes, os esforços são vãos e inúteis. Pode aproximá-las, é verdade, mas de que forma esta proximidade pode lhes ajudar a encontrar o que buscam ou reparar o que não pode mais ser consertado? Este tipo de pergunta retórica é respondida por Natalia com momentos de desespero e brutalidade e de que a câmera não se afasta, ao contrário, acolhe como um referencial poético em meio à violência explícita.

Robe of Gems (2022) Berlinale Film Festival - Filmuforia
A câmera de Natalia López Gallardo enfatiza o mundo cão que é este mundo do narcotráfico.

Já a estrutura da narrativa é disjunta, semelhante ao cinema mexicano de Alejandro Gonzaléz Inãrritú, e abdica do desenvolvimento linear da história em favor de imagens obtidas por uma câmera não intrusiva, em que o movimento (a ação) é produzido pelos personagens, mas não pela câmera, atônita com a barbárie colocada diante de si para ser reproduzida. Ao fazer isto, a direção dispensa trilha sonora (na maior parte do tempo) e primeiros planos emotivos e que promovam uma forma de conexão do espectador através da humanidade. No lugar, a passividade de quem assiste a uma mulher correr nua das mãos de narcotraficantes ou um homem ser incendiado vivo, aos olhos de pessoas imponentes ou que apenas não desejam interferir (como aquelas mulheres fizeram).

Não há filtros colocados diante da imagem, apenas o desejo de violar o olhar do espectador através da violência. Pode ser uma violência frequentemente enquadrada à distância e raramente de forma mais próxima, que evidenciam que, em muitas vezes, não há nada que possamos fazer para ajudar. Uma lição que faltou ao trio de mulheres, ignorantes da torpeza e brutalidade do que estão prestes a desvendar.

Mexican movies compete for the Golden Bear at Berlinale | Al Día News
Um homem dança, em chamas, enquanto a população assiste a seu infortúnio.

Atualização: Robe of Gems ganhou o Urso de Prata do Prêmio do Júri, o equivalente ao terceiro lugar na Mostra Competitiva.

Mexican Natalia López Gallardo wins the Silver Bear at the Berlinale with  the film 'Manto de Gemas' – The Yucatan Times
A boliviana Natalia López Gallardo premiada com o Urso de Prata de Prêmio do Júri

Crítica publicada durante a cobertura do 72º Festival de Berlim/2022

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