O roteiro acompanha as aventuras de um extraterrestre azulado que quando bebê foi enviado do seu planeta em destruição para a Terra e, não conseguindo atrair a afeição dos terráqueos – devido a sua aparência – adota a alcunha de Megamente e resolve se transformar em um supervilão com a ajuda de Criado, um robô comandado por um peixe. Parodiando o homem de aço, é apresentado o arquirrival de Megamente, o super-herói vaidoso, boa praça e com um topete de fazer inveja batizado de Metro-Man. Das épicas batalhas entre os dois surge uma rivalidade interrompida quando, acidentalmente, o herói morre. Experimentando uma solidão que antes não havia vivido, Megamente decide criar um novo super-herói, Titã, para novas batalhas épicas. Porém, as coisas fogem do planejado e Titã prefere enveredar pelo caminho do mal.
Adotando uma estrutura narrativa baseada em um longo flashback, quando vemos Megamente caindo em direção à morte certa, o roteiro de Alan J. Schoolcraft e Brent Simons é feliz ao nos apresentar a uma história que acerta em diferentes camadas – como fez o excelente Os Incríveis. Assim, além de uma boa aventura, o filme funciona como uma critica ao preconceito, e um cartaz de Megamente dizendo “No, you can’t” reflete isto ao remeter imediatamente ao da campanha que elegeu Barack Obama para presidente. Além disso, também são adicionados bons elementos sobre a cultura à excepcionalidade e a pressão que a população exerce os ditos diferenciados.
Dirigido com energia por Tom McGrath, a animação tem um ritmo fluido através de interessantes raccords e um visual espetacular na criação da cidade Metro City e no quartel-general de Megamente. Explorando os conceitos apresentados, um relógio que rouba identidades ou um carro invisível acabam retornando convenientemente ao invés de serem descartados depois do seu uso. McGrath ainda é sutil e inteligente ao fazer uma infinidade de referências ao universo dos super-heróis desde Super-Homem, inclusive com a participação de um pseudo Jor-El, até o conceito do super-soldado de Capitão América na criação de Titã.
Afora a unidimensionalidade da repórter Roxanne Ritchi e do Criado, um alívio-cômico que revela um coração generoso, Megamente, Metro Man e Titã fazem um ótimo trio de personagens formidáveis. O primeiro revela a solidão de alguém que por anos quis ser apenas aceito e é palpável a tristeza que toma conta dele ao descobrir o vazio que a morte de Metro Man lhe causara. Este, por sua vez, consegue a façanha de ser bem mais que um Super-Homem, arrotando seus super poderes de forma prepotente e reconhecendo o fardo de carregar toda a população de Metro City nas costas. Finalmente, Titã mostra o porquê de grandes poderes não deverem ser dados a pessoas complexadas e de baixa auto-estima.
Dispondo de uma trilha-sonora com inúmeras baladas de rock clássico, Megamente só sucumbe ao não abraçar plenamente a maldade de seu vilão, julgando necessário transformá-lo em um herói. O próprio fato de se apaixonar não deveria ser um elemento exclusivo da bondade do personagem, podendo o roteiro inclusive depositar as ações boas perpetradas por Megamente como fruto do egoísmo e da sua auto-preservação.
Encerrando a narrativa com chave de ouro em uma empolgante sequência final, a narrativa longe de excepcional quanto àquelas citadas no primeiro parágrafo, com certeza merece um lugar ao lado delas na mesma estante. Apenas ressinto não ter assistido à dublagem original de atores como Will Ferrel, Brad Pitt, Jonah Hill ou Ben Stiller.
Avaliação: 4 estrelas em 5.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.
4 comentários em “Crítica | Megamente”
É legalzinho, algumas cenas divertem.
Quando eu originalmente comentou eu cliquei a
caixa de seleção “Notificar-me quando novos comentários forem adicionados” e agora cada
vez que um comentário é adicionado recebo vários correio electrónico com o mesmo comentário.
Existe alguma maneira que você pode remover me desse serviço?
Apreciá-lo !
Maria,
Não sei responder, mas vou conversar com o web-admin e retornar.
Gostei muito é um ótimo filme