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Crítica | Red – Aposentados e Perigosos

A fórmula comédia de ação é um dos gêneros mais explorados no cinema norte-americano e que recorre sempre aos mesmos elementos: absurdos que desafiam a lógica ou revelam a indestrutibilidade de seus protagonistas e o humor baseado na análise mais pessoal dos tiques, manhas e anseios daquelas pessoas duronas. Vez ou outra surge um exemplar que, consciente das limitações da alcunha “filme de gênero”, extraí o máximo de sua premissa e do elenco. É o caso de Red – Aposentados e Perigosos.

Similar a outros dois filmes lançados em 2010 – o decepcionante Esquadrão Classe A e o subestimado Os Perdedores -, a narrativa é baseada na graphic novel de Warren Ellis e apresenta um grupo de agentes secretos aposentados que começam a ser perseguidas pela CIA em uma impiedosa queima de arquivo. Apesar do filme dirigido por Robert Schwentke não receber prêmio de originalidade, ele é uma reunião eclética de grandes nomes, como Bruce Willis interpretando a si mesmo, a rainha Elizabeth Helen Mirren, e o alucinado e entregue ao overacting John Malkovich. Assim, mesmo com a sua premissa burocrática, a narrativa torna-se atraente pelos talentos envolvidos.

Na história, Frank Moses (Bruce Willis) é um espião aposentado da CIA que entre os cheques da aposentadoria vive um amor platônico com a atendente do seguro social Sarah (Mary-Louise Parker). Metódico, rotineiro e auto-confiante – elementos que certamente fizeram a diferença no seu histórico na Agência -, Moses é um hábil combatente e o elo de ligação entre os demais personagens da trama: Marvin (John Malkovich), que após ser submetido ao longos dos anos a testes com LSD, tornou-se neurótico e misantropo; Joe (Morgan Freeman), um paciente de câncer cujo destino é revelado bem antes do tempo; Victoria (Helen Mirren), transpirando a sensualidade e classe que poderia ter lhe rendido o título de viúva negra no MI-5; e Ivan (Brian Cox), o inevitável espião russo da narrativa.

Dirigido com segurança e agilidade por Schwentke, a narrativa investe com frequência em elipses que apresentam os cartões postais dos próximos destinos que os personagens seguirão, contribuindo com a ação fluida. Demonstrando ter alguns recursos na manga, Schwentke retrata uma colisão de automóveis através do travelling circular que segue o movimento centrípeto do carro. E para não fugir da fórmula, ele aposta no absurdo durante um tiroteio no cais, no momento do choque de uma bala e um foguete.

Investindo em detalhes divertidos que somam à personalidade unidimensional dos seus personagens, Sarah surge sentada na sala de espera da CIA com uma revista de cabeça para baixo e remetendo ao desleixo da moça e a surrealidade da situação. Além disto, com um casting tão bom, muito do humor vem justamente de conhecermos aqueles atores e desta forma, a imagem de um amalucado John Malkovich correndo com uma bomba amarrada no peito é um dos momentos mais engraçados da narrativa.

Apresentando ainda os saudosos Ernest Bornigne como o arquivista da CIA, e Richard Dreyfuss, que tem se dedicado a breves participações especiais, é triste constatar que o vice-presidente seja justamente interpretado pelo aborrecido e inexpressivo Julian McMahon (o Dr. Destino de Quarteto Fantástico).

As vezes o cinema contraria alguns de seus ditames de originalidade e, envolto em fórmula (ou clichê), consegue criar um filme divertido, despretensioso, interessante e breve. Não mais do que um filme de gênero, é verdade, mas um baita filme de gênero!

Avaliação: 3 estrelas em 5.

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