Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles retrata uma invasão alienígena de forma tão sutil quanto observar um elefante no meio de uma sala de jantar. Esta delicadeza da produção permeia desde o seu título, ao ataque propriamente dito dos extraterrestres e uma das primeiras frases ditas em cena “Não podemos perder Los Angeles”. Mas se é exatamente isto que os fãs do gênero esperam, é impossível não desejar um pouco mais de inteligência, ousadia e finura de uma obra que se contenta em, exclusivamente, apresentar em quase 2 horas os confrontos entre humanos e alienígenas sob uma óptica de guerra. Porém, se esta produção norte-americana (guarde a nacionalidade) consegue desenvolver alguma espécie de simbolismo ou alegoria com o mundo real, é a de que o povo invadido deve levantar todas as suas armas e disparar sem remorsos contra aqueles que buscam dizimá-los para extração dos seus recursos naturais (no caso específico, a água, ou ao menos foi isto que eu entendi).
Hãm? Então Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles não apenas critica a invasão ao Iraque como de uma forma estúpida confere validade à morte dos soldados americanos invasores glorificando esta ação como algo notadamente justo? Depois de desconstruir em linhas gerais a inteligência do argumento do roteirista Christopher Bertolini, mergulhamos em um flashback que apresenta o dia anterior à invasão. Neste esforço, o roteirista constrói personagens tão tridimensionais quanto os crachás de patentes que aparecem quando cada um deles surge em cena. Assim, na vã tentativa de torná-los relevantes para o espectador, descobrimos que um deles vai se casar, que o outro tem conhecimento de flores, que outro vai perder sua virgindade ou que um deles vai ser pai (se não pus o nome de nenhum dos personagens é porque, francamente, não importa saber).
Adotando uma linguagem visual desprovida de sentido concreto, o diretor Jonathan Liebesman parece não entender o porquê de aproximar a câmera de seus atores em planos fechados, apresentando dificuldades no básico, como estabelecer planos e contra-planos, que as vezes encobrem a face dos personagens ou criam borrões na tela por causa de objetos de cena. Logo, é sorte que, ao imergir na guerra, o diretor acerte na abordagem desconjuntada e confusa, que acaba reproduzindo a desorientação experimentada após um ataque súbito.
Entretanto, o diretor junto com o montador Christian Wagner parece idolatrar o distinto estilo de Michael Bay ao enxertar mais cortes do que o necessário, de múltiplos pontos de vista, o que torna a ação incompreensível em quase a totalidade. Misture soldados, civis e alienígenas, uns atirando contra os outros, tiros cruzando a tela a cada décimo de segundo, a edição de som altíssima e quase ensurdecedora, e você encontra aquilo que procurou, ou um tratamento de choque ou crises de convulsão automáticas. Desta maneira, é quase satisfatório encontrar os soldados em uma emboscada porque conseguimos efetivamente visualizar, nem que seja mentalmente, como se transcorre a ação.
Conferindo um mínimo de dignidade ao Sargento Nantz, Aaron Eckhart esforça-se em superar o clichê do soldado prestes a se aposentar. Afastando-se da condição de líder, pois o cara naturalmente tem assuntos mal resolvidos no passado, Nantz acaba sendo o típico herói de guerra clichê: corajoso, altruísta e inteligente. E quase caí em lágrimas após a confissão que faz em determinado momento. Do restante do enorme elenco, cito Michelle Rodriguez e Michael Peña por todas as razões erradas – ela é a única soldada mulher, ele o civil latino.
Fruto da árvore genealógica que deu frutos clássicos como Independence Day ou Skyline – A Invasão, Invasão do Mundo pode ser resumido em dois momentos: naquele em que um personagem praticamente realiza uma autópsia tentando matar uma das criaturas ou quando estas infantilmente denunciam a localização do centro de controle escondido em um dos lugares mais óbvios (visualize uma girafa enterrada com o pescoço para fora).
Apesar das qualidades apresentadas no texto, onde eu procurei ser sutil como o filme para demarcar a ironia; eu, no auge de toda a imaturidade e virilidade provenientes do sexo masculino gostei…
Avaliação: 2 estrelas em 5.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.
1 comentário em “Crítica | Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles”
Aborrecido… só gostei da fotografia do filme.