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As Agentes 355

As Agentes 355

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Por Alvaro Goulart

“Pela maior parte da história, ‘anônimo’ foi uma mulher”, disse Virgínia Woolf.

A autora britânica se referia principalmente às escritoras em uma época na qual os nomes femininos não eram comuns nas capas de livros, e muitas vezes eram obrigadas a recorrer aos pseudônimos. O número 355 era atribuído à uma espiã durante a Revolução Americana cuja verdadeira identidade até hoje é um mistério. No título, ele se refere às personagens de Jessica Chastain, Lupita Nyong’o, Diane Kruger, Penelope Cruz e Bingbing Fan.

Quando uma arma ultrassecreta cai nas mãos de um grupo de mercenários que ameaçam o mundo, a agente da CIA Mace Brown (Jessica Chastain) terá que unir forças para uma missão letal com a agente alemã Marie (Diane Kruger); a ex-membro do MI6, especialista em computadores, Khadijah (Lupita Nyong’o); a psicóloga Graciela (Penélope Cruz), e com Lin Mi Sheng (Bingbing Fan), uma mulher misteriosa que está rastreando todos os seus movimentos. Se, na mitologia grega, uma feminina foi a responsável por liberar os males do mundo de uma caixa, aqui caberá a elas salvar o mundo de uma “Caixa de Pandora” moderna.

Apesar da premissa dar às mulheres o protagonismo da missão de salvar o mundo – quase sempre ameaçado pela ação dos homens – tive a impressão de que ao longo do filme estávamos com um checklist de conceitos feministas que precisavam ser explicitados mais do que demonstrados. E justamente por se limitar à uma cartilha preconcebida, o filme acaba por tratar o feminismo de maneira rasa e reducionista.

A história é centrada nessas mulheres, mas não consegue ir além em suas histórias, construídas em cima de estereótipos e clichês narrativos femininos. São mulheres com problemas paternais, que não se envolvem romanticamente ou que cuja vida profissional ameaça a familiar…e todas possuem o mesmo ponto fraco: Os homens de suas vidas. Para uma proposta de ação com uma pegada feminista, o roteiro acabou traindo justamente as mulheres.

Mas nem só de clichês femininos vive o roteiro de As Agentes 355. O enredo do filme se sustenta em cima de reviravoltas óbvias já exploradas centenas de vezes pelo cinema de ação, principalmente o de espionagem. Não precisa ser um estudioso do subgênero para sentir um déjà-vu. Basta ter visto alguns filmes de James Bond e nada da trama de As Agentes 355 o surpreenderá.

Como um representante do gênero de ação o filme encontra seus pontos fortes. As sequências de ação são eletrizantes e bem construídas. Não são poucos os momentos que nos tiram o fôlego, sejam com perseguições, tiroteios ou lutas bem coreografadas. E em todas elas é possível sentir a adrenalina sem deixar de entender o que está acontecendo.

A produção não é indulgente com as atrizes, principalmente Chastain e Kruger. Suas cenas são as mais dinâmicas e intensas, exigindo um preparo físico rigoroso para sua execução. Outro ponto positivo do filme é o uso da sedução como arma sem precisar hipersexualizar as personagens e consequentemente as atrizes que as interpretam.

As Agentes 355 funciona melhor como proposta do que como execução. O desejo de ser lembrado como um filme de ação feminista negligenciou a importância de ser bom thriller de espionagem. A necessidade de servir ao debate comprometeu até o terceiro ato, que acabou sendo excessivamente prolongado em prol de uma frase de efeito e perdeu seu clímax. As cenas de ação, no entanto, podem agradar quem busca apenas um entretenimento para o fim de noite. Mas acredito que fora isso o filme não tenha muito a oferecer. Nem mesmo para fazer parte de uma lista de filmes feministas.

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