O Casamento do Meu Ex (The Romatics, Estados Unidos, 2010). Direção: Galt Niederhoffer. Roteiro: Galt Niederhoffer. Elenco: Katie Holmes, Josh Duhamel, Anna Paquin, Malin Akerman, Adam Brody, Elijah Wood. Duração: 95 minutos. Cotação: 2 estrelas em 5.
Americanos gostam de realizar grandes celebrações durante um final de semana inteiro, em que parentes e amigos retornam dos centro urbanos para o nostálgico retorno às cidadezinhas onde viveram na juventude e guardam memórias das experiências e amores. Ou ao menos é esta impressão que o cinema dá a nós, brasileiros. Outro coisa que aprendemos é que é bem melhor evitar comparecer nessas “celebrações”, sob o risco de ter o casamento destruído e os relacionamentos familiares abalados. Coisas que O Casamento do Meu Ex tem de sobra nos intermináveis 95 minutos de imaturidade.
Dirigido e escrito por Galt Niederhoffer, o roteiro se desenrola no final de semana antes do casamento de Tom (Josh Duhamel) e Lila (Anna Paquin), cuja dama de honra é convenientemente a ex-namorada de Tom, Laura (Katie Holmes). Além disso, bons amigos do colegial também foram convidados: os noivos Jake (Adam Brody, de The O.C.) e Weesie (Rebecca Lawrence), a atriz Tripler (Malin Akerman) e o marido Pete (Jeremy Strong), o irmão grude de Lila, Chip (Elijah Wood) e a sua precoce irmã adolescente obcecada por casamentos, Minnow (Dianna Agron). Porém, como nem tudo são rosas, é uma questão de tempo para que os personagens revelem a amargura de suas vidas.
Basta apenas uma noite regada a álcool à beira da praia para que os casais confundam as alianças, Laura exiba a sua inadequação naquela cerimônia e Tom desapareça, em dúvidas. Começamos a entrar no pegajoso terreno dos clichês, e rapidamente o que parecia preto e branco apresenta novos tons de cinzas quando os personagens se unem em duplas para ir atrás do paradeiro de Tom (pela dimensão da propriedade dos Hayes é quase uma missão impossível. O problema é que essas duplas parecem ter sido feitas por alguém mais interessado em swing do que em achar o rapaz. Assim, Jake se atraí pela personalidade impulsiva de Tripler e Weesie parece determinada a superar sua sexualidade reprimida com Pete, evidentemente sem ignorar a bebedeira, o que só reforça a ideia da diretora/roteirista do que é necessário para superarmos as angústias.
Enquanto isso, Laura está presa à pulga Chip (em todos os piores sentidos), porém consegue perdê-lo de vista o suficiente para reviver sua paixonite de colegial por Tom. Aliás, em se tratando de uma escritora supostamente talentosa de Nova York, Laura parece não conseguir enxergar as consequências dos seus atos, realizando um papelão durante o brinde no jantar dos noivos. Mas, questionando-se dos incidentes envolvendo Laura e em menor grau o grupo de amigos, é fácil perceber que Galt Niederhoffer se inspirou nos aborrecidos seriados norte-americanos, onde alguém sempre ama outro comprometido muito mais intensamente ou que os amantes encontram palavras rebuscadas para provar algo que deveria ser demonstrado em ações.
Não que o amor seja simples, mas Laura fez as suas escolhas que, se não seguiram os rumos do coração, é graças a insegurança da garota que não consegue se relacionar com mais ninguém. Acompanhar as ações de alguém egoísta, recalcada e introvertida não parece dos compromissos mais divertidos e as limitações de Katie Holmes como atriz não fazem nada para diminuir o gosto amargo. Por sua vez, a escolha de Anna Paquin como a melhor-amiga/rival da garota resulta em um duelo desigual, pois Lila é uma patricinha mimada acostumada a ter tudo o que quer, eventualmente subjugando a “amizade” de Laura. Também não há comparação entre a beleza de Katie Holmes e Anna Paquin, e esta empalidece em todos os atributos a começar pela altura. Logo, é difícil não ter compaixão de Tom, preso a duas mulheres chatas e os conflitos internos do rapaz acabam soando mais reais do que se imaginaria na pele de Josh Duhamel.
Por sua vez, o restante do elenco é visto com casualidade e as consequências das suas ações são prontamente ignoradas no terceiro ato, levando a crer que a bebedeira deve ter sido suficiente para provocar amnésia permanente. E é melhor nem comentar o drama envolvendo o vestida noiva e sua irmã caçula e a participação da aborrecida Candice Bergan.
Tentando recriar o mesmo ambiente melancólico de O Casamento de Raquel, os eventos são registrados com a curiosidade cotidiana que teríamos ao documentar cerimônias análogas. A reação de um maior número de envolvidos não passa em branco e a fotografia granulada de Sam Levy permite inferir que naquela cerimônia não existe nada de feliz quanto se imaginaria.
Mas nem todo o esforço artístico de Galt Niederhoffer mascara o desfecho covarde da narrativa que, buscando deixar em aberto a pergunta-chave, apenas envia o espectador para casa com o sentimento de ser convidado para um casamento sem bolo e champagne.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.
5 comentários em “Crítica | O Casamento do Meu Ex”
Sua última frase foi arrebatadora, Marcio.
Fiquei surpreso ao ver que vc tinha ido ver este filme ao invés de "Capitão". É, já suspeitava que era ruim. Você conseguiu proporcionar profundidade a personagens superficiais (acredito). Mas acho que vou deixar este sair de cartaz hehehe.
Abraços, meu amigo!
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Do final do primeiro parágrafo até a última frase eu morri de rir com o teu texto, tamanha a tua raiva a respeito. hahahaahha
Ótima crítica. Vou passar longe desse, e esperar sair em DVD para alugar num domingo de tédio e frio por aqui… ^^
Matheus,
Assisti a uns 2 meses, como deixo sempre um registro menor das minhas opiniões acaba apenas recheando -)
Luiz,
É muito fraco mesmo. Tem alguma coisa que se destaca, talvez porque eu goste do tom documental de narrativas. Mas, em geral, é ruim.
Pois é Márcio, há gosto pra tudo. Eu, por exemplo, só gostei do final. Achei surpreendente, aqueles tambores todos, ele querendo terminar o casamento e não conseguindo, ela querendo colocar palavras em sua boca, conduzir como sempre a relação e aí vem a chuva, a salvadora chuva. E o casamento (não o do título, que é ridículo), não aconteceu. As românticas acabaram. Fim!
pra mim o problema do filme é ficar muito na superfície, mas não achei horrível como muitos, e mais acho que o final foi o que salvou, a chuva e o grito para mim foram metáforas para um sentimento de libertação.
quanto ao título o batismo é nacional né o que não deve ser levado muito em consideração, já que essas traduções normalmente pecam, vide Rabbit Hole que virou Reencontrando a Felicidade (oi?) e Perfect Sense que virou Os Sentidos do Amor.