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The Flash

3.5/5

Quando a notícia da produção um filme solo do Flash baseado no arco Ponto de Ignição imaginei que o ponto central da narrativa seria o tempo, tal qual em filme do Cristopher Nolan. Também imaginei que toda uma abordagem científica iria preencher essa narrativa contando sobre os perigos em tentar alterar a linha do tempo. Felizmente eu estava errado! The Flash até cita o efeito borboleta e possui seus momentos de didatismo – inclusive, apelando ao uso de um ou outro diálogo expositivo.  Contudo, a trama está pavimentada em uma jornada mais emocional do que racional, e focando mais no Barry Allen do que nos poderes do Flash.

Por mais que a morte de sua mãe e a prisão de seu pai sejam conhecidos pelo público mais familiarizado com o cânone do herói, o longa acerta em resgatar esses eventos e demonstrar como eles são essenciais para moldar a personalidade de Barry Allen (Ezra Miller) e nas suas relações interpessoais. Conhecemos mais de perto sua dor, até então camuflada em momentos de alívio cômico que se tornaram a referência do personagem no filme da Liga da Justiça. Vale ressaltar que as últimas vivências do Velocista Escarlate renderam um grau maior de maturidade nesse novo momento em que o filme solo se passa.

Apesar de explorar a incapacidade de Barry em lidar com a perda de seus genitores, o longa não é sombrio. Muito pelo contrário! The Flash abraça o humor que se tornou característico do personagem no DCEU (DC Extended Universe). Não são poucos os momentos que nos tiram gargalhadas. Ver a forma desengonçada em que concilia a vida de super-herói com a de uma pessoa comum e até mesmo como lida com sua supervelocidade e a necessidade de repor sua fonte de energia – que beira uma crise de hipoglicemia – são algumas das boas tiradas cômicas que o filme nos reserva. Uma cena em especial envolvendo o Batman e laço da verdade da Mulher Maravilha é uma das minhas favoritas. Só ouvi verdades – risos.

Em The Flash, ao perceber que a força da aceleração o permite voltar no tempo, o herói retorna para o pior dia de sua vida para evitar a morte de sua mãe. Mesmo sendo alertado pela versão de Bruce Wayne de sua realidade (Ben Affleck) que mudar o passado pode trazer consequências inimagináveis, Barry se sente impelido a traçar um novo destino a seus pais. Como consequência, cai em uma linha do tempo onde General Zod (Michael Shannon) não foi derrotado e os super-heróis que conhece não existem. Cabe a ele garantir a existência de um Flash nessa realidade e buscar novos aliados.

Trazer Michael Keaton de volta ao manto do homem-morcego foi uma escolha certeira. Seu Bruce Wayne solitário e aposentado das atividades de vigilante de Gothan traz uma dinâmica quase paternal – o Batman de Affleck se mostra mais distante, um laço fraternal para Barry se forçarmos a barra. É interessante como seus aparatos aparentam anacrônicos, mas ainda sim mais “quadrinescos” que a pegada hightech militarizada que vimos nos Batmans de Affleck e Bale. Outro acréscimo interessante é a da Supergirl (Sasha Calle). A Kryptoniana tem a força de seu primo, mas sem o pudor de usá-la contra seus adversários. Infelizmente seu pouco tempo de tela não permitiu que a personagem fosse melhor desenvolvida. Inclusive seu papel na trama ficou a um triz de ser o de “mulher a ser salva”.

Barry Allen corre atrás de uma vida que não lhe pertence. E se depara com os vários E Se’s da linha temporal alternativa que se criou em sua busca pelo final com meio da história feliz. Nesse meio tempo, somos nós os presenteados com diversos fan services e easter eggs baseados nos E Se’s que transcendem não apenas os heróis, mas o cinema em si. Existe um apego óbvio a De Volta para o Futuro, e nada mais justo do que uma linha do tempo em que Marty McFly é vivido por seu quase intérprete: Eric Stoltz. A DC consegue celebrar seu multiverso homenageando várias leituras de seus super-heróis, tanto as que passaram na telona do cinema ou da tela da TV. Se mostrando mais saudosista que fábrica de heróis concorrente.

Por falar em histórias de heróis, existe uma rigidez em instrumentalizar a perda de entes queridos para concretizar o passo da provação da jornada do herói. Está claro que Barry precisa passar por todas suas experiências negativas para que o Flash possa emergir. Ser atingido por um raio e banhado por produtos químicos lhe concedem os poderes, mas é o assassinato de sua mãe e a prisão de seu pai que o definem. Da mesma maneira que se Bruce não tivesse perdidos os pais em um assalto, muito provavelmente Batman não existiria… e Bruce seria só mais um rico playboy que odeia pobre.

A partir disso, o longa se depara com a mesma dificuldade de Barry em administrar o tempo. Com um segundo ato que se prolonga, a conclusão do filme parece afoita, ou pelo menos que não restavam muitos grãos de areia na ampulheta para que ela fosse desenvolvida com mais profundidade. A sensação que fica é de que o luto do personagem foi processado com a força da aceleração e que é possível ser autoconsciente em uma única sessão de terapia. Em uma narrativa que se pavimenta no emocional, a resolução tendeu à racionalidade. E, mesmo com algumas lágrimas envolvidas no processo, não tivemos um momento de emoção à flor da pele.

Não costumo apontar problemas relacionados à qualidade de efeitos gráficos. Acredito que uma obra possui outros elementos mais importantes a serem analisados e esmiuçados. Contudo, se tratando de uma produção dessa magnitude e com o orçamento e recursos disponíveis, o CGI em alguns trechos foi decepcionante. O tom de artificialidade de algumas construções era gritante. Chegando, inclusive, a ressuscitar a lembrança do Superman Cepacol de quando tiveram que remover o bigode do Henry Cavill. Ainda mais se tratando do mesmo universo, achei que a DC ia ter mais cuidado com os efeitos especiais. A impressão que fica é que a DC voltou no tempo em 20 anos e usou o CGI de O Retorno da Múmia.

Depois The Batman, com Robert Pattinson, as adaptações de heróis da DC tem sido medianas. The Flash trouxe um bom respiro, inclusive brincando com a ideia do multiverso. Ainda que pudesse ter sido melhor se optasse pelo E Se Tivesse Administrado Melhor o Tempo, conseguiu ser um filme solo muito bom. Até pelos diversos problemas e adiamentos que a produção sofreu. Fora os escândalos envolvendo Ezra Miller. O longa é a prova de que o filme assistido é melhor que o E Se Nunca Tivesse Sido Feito.

Vale lembrar também que o filme possui uma cena pós-crédito. É bom ficar atento que não conseguimos usar a força da aceleração para voltar no tempo e também à sala de cinema. Quem sair, vai ter que esperar a próxima oportunidade de assistir.

The Flash está em exibição nos cinemas.

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