Contando com uma abordagem narrativa desonesta e apelativa, o roteiro de Abi Morgan apresenta uma frágil e idosa Margaret Thatcher, acometida de sintomas de demência e confusão mental, indicativos do mal de Alzheimer, e vigiada por guardas orientados por sua filha Carol (Colman). Proibida sequer de ir ao mercado da esquina comprar leite, Thatcher convive, esquizofrenicamente, com o falecido marido Denis (Broadbent), uma espécie de fantasma do natal passado do conto de Charles Dickens misturado com o anjo redentor do clássico natalino de Frank Capra A Felicidade não se Compra. Na conjectura proposta pela diretora Phyllida Lloyd (como alguém saí do musical Mamma Mia! e pula em um drama política é o verdadeiro mistério), seria possível ter piedade de homens como Adolf Hitler, Napoleão ou os perversos ditadores militares brasileiros – evidentemente, se todos tivessem atingido os 80-90 anos -, e consigo imaginar um Hitler balbuciante e fragilizado comovendo os espectadores durante um discurso edificante a alucinação de Eva Braun quando justifica o genocídio judeu na segunda guerra mundial. O que levaria a perdoar seu passado e os milhões de mortos nos campos de concentração.
Covarde e não-fidedigna, desvirtuando os fatos reais a seu bel-prazer – o que eleva, por comparação, a recente biografia de J. Edgar à condição de obra-prima -, a roteirista Abi Morgan é acidentalmente feliz na narrativa tradicionalmente episódica, pois revisita os lapsos de memória vivenciados por Thatcher que sobrevêm sem convites, com o rigor esperado de uma mulher demente. Dessa maneira, é natural que no percurso da adolescente idealista filha de um líder político local aos últimos dias a frente do Partido Conservador do parlamento, Thatcher se veja como um baluarte do movimento feminista na política mundial (e foi!) e se sinta quase como vítima no meio de um legislativo predominantemente masculino e machista (e foi, também!). Outrossim, seria absolutamente improvável que, na velhice, ela pudesse tatear a famigerada política que implantou no Reino Unido durante seu governo, restando lembranças de como ela desejava expor o que “não era certo”, a imagem de uma menina certinha ajudando na quitanda do seu pai ou os conselhos de “nunca siga a multidão” proferidos com um entusiasmo tipicamente canastrão e patriótico.
Todavia, nesse compêndio digressivo não há compromisso histórico e a diretora Phyllida Lloyd, na falta de melhor palavra, é totalmente incompetente mesmo quando expõe os elementos controversos da sua trajetória. Veja que, durante as acusações de detratores em rede nacional, a diretora obriga Meryl Streep a desligar o televisor sem ao menos escutar o teor daquelas. As menções à recessão, ao maior índice de desemprego e à baixa produção da indústria ao invés de usados para apontar as falhas na política da Dama de Ferro (apelido “carinhosamente” conferido após os atritos com os Soviéticos), mascaram-se de crise mundial escusando a responsabilidade pessoal das ações da primeira-ministra. Mas, como levar a sério uma diretora que se limita a planos inclinados nos quais Thatcher encontra-se dentro do carro e protestantes agridem os vidros argumentando que “ela deveria ser uma mãe” ou que ensaia a preparação vocal emprestada de O Discurso do Rei? E, depois de comparar responsabilidade fiscal a orçamento doméstico para escusar as privatizações, a taxação aos mais pobres e a desregulamentação econômica, revelando-se voraz governante, Phyllida perde a mão completamente ao expor as verdadeiras causas do conflito nas Malvinas.
Supostamente escondida debaixo do véu da defesa da soberania britânica, o conflito pelas inexpressivas ilhas no atlântico sul provocou desequilíbrio financeiro e a morte de centenas de argentinos e britânicos com fins praticamente eleitoreiros restabelecendo a popularidade da Dama de Ferro para alcançar um novo mandato no parlamento, e a omissão desse subtítulo no contexto da guerra é de uma temeridade gigantesca. Aliás, transformá-la em mártir de atentados patrocinados pelo grupo terrorista IRA (mormente o do Grand Hotel), depois de declamar a oração de São Francisco de Assis e colaborar para a derrubada do muro de Berlim e a queda do comunismo são tentativas desesperadas de atacar para todos os lados e conquistar o maior séquito de adoradores para a ex-primeira-ministra. Ou, os retratos com o Papa e o presidente norte-americano Ronald Reagen, um de seus aliados mais fiéis, e a morte de Airey Neave (Farrell), leal companheiro, fossem o bastante para, junto da trilha sonora edificante de Thomas Newman, transformá-la no ideal mais resplandescente e belo da democracia.
Infelizmente, porém, o espectador médio não parece estar interessado em verossimilhança, bastando a presença de Meryl Streep para eximir a narrativa das incongruências factuais. Digna dos elogios e prêmios recebidos, a composição da atriz norte-americana é milimetricamente precisa, habitando o mito Thatcher da mesma maneira com que reproduziu os maneirismos de Julia Child em Julia & Julie (sua última indicação ao Oscar). Adotando um tom de voz anasalado e pausado, pronunciando as sílabas e frases com rigor gramatical invejável, com um olhar adocicado dissimulando uma imposição fulminante e uma postura austera, Streep perde-se na figura da primeira-ministra e, depois de todos esses anos, me impressiono como a atriz não enlouqueceu no método de atuação perfeccionista que adota. Ajudada por Alexandra Roache, cuja ingenuidade e insegurança retratados na juventude funcionam por contraste realçando a megera intransigente que viria a se tornar, Meryl Streep ultimamente transforma-se na Dama de Ferro graças a boa maquiagem e a arcada dentária de dentes sibilinos, levemente exagerando na prótese do pescoço.
Habitando o n° 10 da Downing Street por mais de 11 anos, renunciando ao cargo após a “traição” de seus lacaios conservadores (não vejo adjetivação mais adequada), A Dama de Ferro tem Meryl Streep. Para muitos, isso basta; outros, como eu, sentirão-se traídos e escarneados. Não é culpa de humanizar o biografado – A Queda demonstrou quão honesto pode ser esse processo sem descaracterizar o sujeito, no caso Hitler -, mas sim transformar uma mulher cheia de defeitos como Margaret Thatcher em uma vítima da sociedade machista, um mártir de relacionamentos familiares e intrigas partidárias e, por que não, uma santa.
Por falar nisso, eis um papel que eu sonho assistir: Meryl Streep vivendo Madre Teresa de Calcutá.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.
20 comentários em “A Dama de Ferro”
Concordo em todos os pontos!
arrasou com a crítica! parabéns! 🙂
Bela Crítica! Concordo em gênero e grau!
ótima crítica "amigo cinéfilo", vc está de parabéns!!!:)
Excelente visão a sua. Concordo plenamente, em tudo. E muito boa a comparação entre o filme e a vida política da personagem. Ela foi mesmo uma, desculpe o linguajar, "escrota". A única coisa boa que fez foi dar origem ao nome "Iron Maiden", da ótima banda, que ironiza Margaret Thatcher. Quanto à Meryl Streep, não está uma deusa, como muitos apontam, mas um monstro, claro, como habitual.
Obrigado a todos pelos gentis comentários 🙂
Minha gratidão a tds pelos excelentes comentários, numa abordagem extremamente crítica reflexiva….
A crítica é boa, mas não é cinematográfica, é política. Um filme não tem OBRIGAÇÃO de mostrar os dois lados da moeda; uma biografia pode partir, sim, apenas do ponto de vista que favorece o biografado. Não admiro Lady Thatcher nem suas políticas, mas partir disso para tirar o mérito de "A Dama de Ferro" em retratá-la – intencional e corretamente de forma favorável à figura que se dispõe a mostrar – é simplesmente ridículo. O filme não é, e nem passa perto disso, sobre o período em que Thatcher esteve no governo, nem sobre o governo Thatcher, nem sobre as visões thatcheristas, equivocadas também no meu ponto de vista. É sobre Margaret Thatcher. E retrata o período a partir das memórias dela própria. Portanto, não faz sentido NENHUM conferir tal importância à fidedignidade. Se a ex-primeira-ministra, idosa, não se arrepende de seus desmandos, o filme já foi fidedigno. Não há porque mostrá-los negativamente, ora, se eles estão nas memórias de uma demente convicta de que fez, sim, o melhor para seu país. É uma opção, e não um erro, mostrar tudo como imagina-se que estivesse na memória de Margaret. No máximo podemos dizer que á uma opção que empobrece o filme, como relato histórico – e o empobrece muito, mas só nesse aspecto. O filme fala também sobre velhice, poder e perda de poder, ascensão e queda. Se fosse escrever minha crítica, eu, opositor ferrenho de Thatcher, derramaria elogios a Meryl, elogiaria o filme como um todo, com ressalvas à monotonia de alguns momentos e à falta de aprofundamento – não em pontos de vista, mas em detalhes, mesmo – nos episódios que marcaram sua vida política. No final, alertaria aos leitores que a obra mostra a visão da própria biografada, e que eles devem se informar sobre todos os aspectos negativos de sua gestão, mencionando os principais. Assim, faria uma crítica DE CINEMA e, no fim dela, um alerta, que serve apenas para aqueles que já não tem muito senso-crítico e informação sobre o tema, com relação à possível "alienação" que o filme poderia lhes proporcionar. Da forma como foi colocada, sua crítica se dirige ao thatcherismo, e estende-se para o fato de o filme não te-lo retratado com seus muitos pontos negativos, como se fosse parte da obrigação ou da proposta do mesmo. Quem pensa diferente de nós, e apóia a visão da "dama de Ferro", não pôde se basear nesse seu ensaio para avaliar o filme, entende? Favor não confundir crítica política com crítica cinematográfica. Se não compreendeu o que eu quis dizer, posso lhe explicar com mais clareza mostrando trechos do seu texto em que o sr. faz essa confusão. No mais, aprecio imensamente o seu trabalho! Por favor, não rebata meu comentário sem antes refletir sobre o que eu disse! É uma crítica construtiva. e devemos sempre estar aptos a rever nosso trabalho. Ainda mais que meu texto está ponderado e educado, não passa perto das grosserias da ""Maggie"" hahahahhaha
Olá.
É claro que, como em um Estado de direito, eu devo rebatar o seu argumento. Você cometeu um único erro na sua argumentação que contaminou o seu texto completamente, o que vem da natureza do cinema que redige um contrato com o espectador. Naturalmente, um filme de comédia é bom se faz rir, de terror se provoca temor e de romance se emociona. E, assim que da mesma maneira que um filme "Baseado em fatos reais" provoca apenas com essas 4 palavras a mudança na postura do espectador. Uma biografia TEM compromisso com a verdade quando a produção assume este papel (e basta ver a publicidade de Dama de Ferro para ver que tenho razão).
Tome dois exemplos simples para pontuá-lo: J. EDGAR, assim como DAMA DE FERRO, assumiu o mesmo compromisso e mostrou para que veio falhando pontualmente nos desvios de caráter do seu personagem (torná-lo "amigável" sempre é uma falha crassa) e a estrutura episódica. Por outro lado, BASTARDOS INGLÓRIOS assumiu um tom debochado e de gozação o que o escusa de ter mudado o desfecho da 2 guerra e, veja que ninguém e nenhuma crítica apontou este fato simplesmente porque ele é irrelevante.
A crítica cinematográfica é o que filme a inspira a ser. E, como bem falei no meu texto, a subjetividade da demente Thatcher não desculpa o filme do seu compromisso com a realidade. O que a diretora Phillida Lloyd sabe, porém não consegue desenvolver, pois não são poucos os argumentos contrários que o filme tece contra a biografada de forma rasteira e infantil, eu diria, e veja que eu fundamentei TODOS os meus argumentos com cenas do filme, momentos específicos.
Agradeço seu comentário ponderado e construtivo, embora eu discorde,o que permite uma discussão interessante sobre o papel do cinema com a realidade. E não me refiro apenas a documentários.
Abraços.
adorei sua critica eu vi esse filme no cinema, e confesso que achei a historia do roteiro muito fraca e vaga,mas a atuação da Meryl estava perfeita, ela como sempre arrasa e achei merecido ela ter levado o oscar.
Talvez eu tenha exagerado, enfatizado demais que o filme não tem compromisso com isso ou aquilo. Vou ponderar mais, talvez cheguemos a um consenso. Não disse, em momento algum, que uma cinebiografia não tem compromisso com a verdade. A verdade, no sentido estrito do termo, está bem mostrada em a Dama de Ferro: não há erros históricos no filme, nos fatos retratados. Mas eles estão retratados na visão de Thatcher. Um filme não tem a obrigação de mostrar outra visão dos fatos que não a dela. Enriqueceria? Sim, e eu disse isso. Sem falar que "A Dama de Ferro" não é tão unilateral. Ele mostra o quebra pau, o que por si só leva os mais sensatos a pensarem: "pera aí, tem algo errado nessas políticas". Mas ele mostra a quebradeira do jeito que ELA a via: um bando de sindicalistas folgados, devem ser repreendidos duramente. Mas mostrou o fato, não mostrou? Está cumprida a obrigação com a verdade. Mostrar ou não a visão (minha e sua) de que o pensamento dela sobre as greves É ABSURSO, não está mais no campo da obrigação, mas da opção. Você deveria ter dito algo como "a opção pela unilateralidade empobrece o filme", e partido daí para criticá-lo, como pobre. Em vez disso, você disse que o filme "agride a história" , por não retratar o lado ruim do Thatcherismo. Quando digo que sua crítica ao filme foi contaminada pela sua opinião sobre a biografada, eu quis dizer o seguinte… Vou fazer uma simplificação besta. O filme é uma ODE à dama de ferro, e cumpre muito bem o papel de elogiá-la e mostrar as coisas do seu lado, e, sim, gerar pena da "Maggie". Você, eu e quem mais acha que ela é um monstro, diz: o filme é UM LIXO ("uma irresponsabilidade e blablabla) porque mostra Thatcher como boa, que absurdo, injusto! Daí damos nota "zero". Um Tatcherista doente, na mesma linha de raciocínio, diz: "O filme é EXCELENTE (presta um serviço enorme e blablabla) porque faz justiça à grande mulher que foi Thatcher e às suas políticas que tanto ajudaram a Grã-Bretanha." E dá-lhe nota "dez". O IDEAL seria que tanto nós quanto o Thatcherista deixássemos as nossas opiniões políticas de lado para dizer, ambos: O filme é MEDIANO, porque é limitado, pobre como documento histórico, mostrando apenas o ponto de vista da protagonista. O Tatcherista diria, depois: "eu concordo, mas o filme deveria mostrar o outro lado". Nós diríamos, depois: "a nossa visão dos desmandos de d. Thatcher é que foram péssimos, e o filme deveria ter mostrado isso também. Todos damos "5" para o filme em si, fraco, porque colocamos -como deve ser numa critica de cinema – no terreno da irrelevância a opinião pessoal sobre Thatcher. As notas estão entre aspas porque não há essa matemática na coisa. Também não há essa bipolaridade toda. O que eu quis dizer, com essa minha suposição boba, vai na seguinte linha de raciocínio: uma crítica isenta de conteúdo político seria aquela em que tanto quem é pró ou contra Thatcher diria ""o mesmo"" do filme, no que tange à sua falta de pluralidade. Não pode ser "O filme mostra Maggie boa – eu acho ela um monstro – o filme é um lixo." Porque isso abre espaço, do outro lado, para "O Filme mostra Maggie boa – eu acho ela boa mesmo – o filme é excelente." É a essa contaminação que eu me refiro. Estamos progredindo? Estamos convergindo? Estamos divergindo – provavelmente. Não importa, estou gostando muito de discutir livremente, e em alto nível. Lembre-se sempre: se eu não admirasse, e muito, seu trabalho, não gastaria meu tempo comentando aqui e discutindo. É com grande e crescente respeito pela sua produção que eu faço isto.
Olá de novo.
Sim, você teria razão se a minha crítica fosse exclusivamente política, o que não é. O aspecto político é absurdamente relevante haja visto que, bem, é um filme sobre uma figura controversa de reconhecimento mundial. Logo, é admissível que qualquer roteiro que se propusesse a falar de Magie Thatcher tivesse faro de investigar e correr atrás da fumaça; no caso, as agressões dos sindicalistas ou as críticas disparadas pelos seus partidários são apenas "desculpas" da roteirista Abi Morgan para se escusar de críticas vindouras de que tivera sido condescendente.
Mas veja como são as coisas: o roteiro e a direção tentam empurrar um Thatcher (que não funciona como criatura ficcional nem como personagem história) justificada pelo seu passado de menina certinha que, certamente, deixara de namorar e sair com as amigas para ajudar o pai e envolver-se na política. E, na maioridade no partido conservador, ela começa a ser vítima de bullying dos outros partidários por ser mulher, o que o roteiro pensa que é a única justificativa para que ela agisse de maneira agressiva e impositiva diante de todos os demais (afinal, ela é uma mulher, vitimada, defendendo-se). Deméritos como esse são abundantes em A Dama de Ferro e, eu os apontei na crítica.
Finalmente, eu entendo que você também NÃO gostou do filme e tento levá-lo a ver que é impossível dedilhar uma crítica isenta de política sobre um filme político. Mais ainda, é salutar que seja feito apoiado nos argumentos oferecidos pelo filme. Claro que há uma bagagem de conhecimento nas costas sobre alguns eventos, sobretudo no incidente das Malvinas, mas inexiste sequer algum comentário no texto exclusivamente amarrado na política sem ênfase na narrativa. Quando falo, por exemplo, dos eventos que ela patrocinou, como a derrubada do muro de Berlim, a declamação da oração de São Francisco, etc, eu frisei que aquilo fora feito com o fito de atingir o maior público, e não critiquei a veracidade (ou não) dos fatos.
Mas, convenhamos, é irritante quando um roteiro usa o subterfúgio de uma crise mundial para justificar a austeridade da crise fiscal quando aquilo era exatamente o que Magie queria.
Abraços.
Anônimo-
Nossa,adorei seu comentário e me sinto na obrigação de dizer que concordo não só com o que foi exposto acima,mas também pela maneira brilhante como foi redigido.Perfeito!!!
Marcio Salem,
O filme é neutro e apartidário. O Filme mostra virtudes e defeitos dela. Mostra a policia metendo o cacete no povo a mando dela, sangue e tudo o mais. Mas ela era humana sim, e muito mais do que Fidel Castro (ditador tirânico q os brasileiros acham lindo), diga-se de passagem. Fato é que a Inglaterra estava com suas finanças comprometidas com tanto assitencialismo e ineficiencias que não poderia mais bancar as minas improdutivas britânicas. Alguém tinha q dar um basta naquilo ou se não a Inglaterra se tornaria uma Grécia de hoje. FATO.
Hoje todos britânicos e até mesmo os do partido trabalhista dão o devido reconhecimento a ela ao tomarem o poder e manter suas mesmas diretrizes na condução da política inglesa. Abaixo tem um trecho do artigo do Paulo Kramer – Doutor e mestre em ciência política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) e bacharel em ciências sociais pela UFRJ – que elucida bem essa questão da Margaret Thatcher:
" A mais significativa homenagem à era Thatcher e à sua duradoura influência foi prestada, precisamente, pelos seus eternos adversários Trabalhistas.
Depois da acachapante derrota eleitoral de 1983 e da humilhação sofrida pelo baronato sindical, no ano seguinte, com o desastroso desfecho da greve nas minas de carvão, uma nova geração de líderes, ligados às profissões liberais e à academia, começou seu longo caminho para a conquista do controle partidário, prelúdio do retorno ao poder.
Nascido em 1953, Tony Blair, aliado a intelectuais como Peter Mandelson e o sociólogo Anthony Giddens, formulador da proposta de uma Terceira Via para a renovação da esquerda no século XXI, lutou, com sucesso, para isolar as franjas radicais (inclusive trotskistas) do velho Labour, ao mesmo tempo que buscava aproximar-se da nova classe média beneficiada pelas políticas thatcheristas. Para tanto, batalhou intensamente pela revogação da notória Cláusula IV, ao tornar-se líder do partido em 1995. Um ano depois, assumiu a legenda do Novo Trabalhismo (New Labour) e liderou seu partido à vitória na eleição de 1997, com uma plataforma que qualquer liberal só poderia elogiar: corte de impostos, combate contra a "corrupção e a ineficiência". (9)
Mais de meio século depois de o governo trabalhista de Attlee haver formatado um pacto social que duas ou três gerações de lideranças tories de Churchill a Heath, passando por Macmillan, entre outros subscreveram solenemente, chegava a vez de os Trabalhistas se ajustarem ao novo consenso legado por Thatcher, justamente a personalidade indômita que cunhara esta frase: "A liderança é o oposto do consenso"…
Bem se pode afirmar que a Dama de Ferro riu por último e que a ascensão do Novo Trabalhismo blairista constituiu seu derradeiro e mais definitivo triunfo. As privatizações não foram revertidas, tampouco ressuscitada a velha legislação que havia transformado as centrais sindicais em verdadeiro Estado dentro do Estado muito embora, em 2004, o governo Blair aprovasse um Employment Relations Act, facilitando a legalização de sindicatos e amparando os empregados em suas reivindicações trabalhistas. Mas, como que para enfatizar a sinceridade de sua conversão, logo no início do governo, Tony Blair e seu chanceler do Erário e, desde o ano passado, sucessor na chefia do gabinete, Gordon Brown, deram um passo de política econômica além de sua antecessora ao decretar a independência do banco central, numa sinalização inequívoca à classe política, ao empresariado e à toda opinião pública.
Enfim, com sua mescla de rigor fiscal, mercados livres, responsabilidade moral do indivíduo e da família, reconversão do Estado intervencionista e empresário ao seu legitimo e ativo papel de guardião da segurança do cidadão e do império da lei, a filosofia política desenvolvida por Margaret Thatcher e seu colaborador, Keith Joseph, é o mais precioso legado dos Conservadores britânicos ao liberalismo contemporâneo. "
Abraço
O problema é que a gente tá acostumado com a demagogia do Lulismo, que dá muito pro setor financeiro, nunca no Brasil os Bancos lucraram tanto, e ao mesmo tempo compensa com politicas assistencialista. Puro populismo e demagogia. Margaret fez o q tinha q ser feito sem demagogia e sem se esquivar um momento sequer. Na época doeu, mas hj a inglaterra é grata a ela e vc pode conversar com qualquer inglês pra vc ver. Além disso, ela era muito convicta em seus ideias e não abria mão de negociá-los, ao contrario dos conchavos e corrupção dos "mensaleiros" políticos brasileiros que dão um jeitinho pra todo mundo ficar alegre. Quando fica todo mundo muito alegre, pode ter certeza que alguém vai pagar a conta no final, e Margaret sabia disso.. Veja o fim que teve a alegria Grega … Ai Grécia… que Deus tenha piedade dos Gregos..
Bela, os seus comentários são muito relevantes e fundamentados e, políticas políticas de Estado mínimo têm benefícios a longo prazo de redução do custo da máquina estatal e do peso dela sobre os homens dos trabalhadores. Margaret Thatcher teve méritos e falhas na administração, como a avassaladora trupe de políticos da mesma onda conservadora. Mas, comentários à parte de Fidel Castro, Lula dentre outros, eu devo discordar de uma coisa: o filme não é fiel aos dois lados da balança.
Narrativamente, A Dama de Ferro (e volta a frisar nisso) é vista como uma vítima da sociedade, uma mulher cujas ações duras e intransigentes justificam-se exclusivamente por confusos ideais e ao machismo que impregnava o Parlamento inglês. As cenas mencionadas (a população atirando pedras no carro, as manchetes de jornal alegando algo) falham em mostrar o segundo lado da moeda, ao invés disso, reforçam o caráter de vítima incompreendida e contestada erroneamente porque subsídios não nos são dados para julgar contrariamente.
No mais, obrigado pelo esclarecimento do texto anterior.
Até a próxima 😉
Márcio Sallem (agora escrevi seu nome certo hehe), o que eu reparei é q o filme não quer entrar nos méritos ou deméritos de suas decisões políticas. Simplesmente mostra ela no mundo da política com sua mão de ferro, disposta sempre a colocar em prática suas convicções liberais (agora, se o liberalismo é bom ou ruim isso é polêmico, eu acho liberalismo bom, você pode achar ruim). O filme, em minha opinião, não faz apologia a sua política, é simplesmente um retrato histórico sob a perspectiva dela. Ela realmente achava que tinha muita gente mamando no Estado e quis acabar com isso. E o Filme mostra até q pessoas se feriram gravemente(ou até morreram, não lembro) nos protestos contra as decisões de Margaret. Como você mesmo disse, ela era super intransigente mesmo, a ponto de querer impor um imposto igual sobre toda a sociedade britânica e isso foi a gota d´agua pra ela perder apoio do seu próprio partido e sair de cena. Essa intransigência dela é sem sombra de dúvidas uma falha de caráter e foi EFETIVAMENTE retratada no filme, principalmente na cena em que ela está reunida com o partido e começa a criticar, de maneira insensata e maldosa, a forma como o outro parlamentar escreveu o relatório. Ela tinha defeitos e qualidades. O Filme mostra exatamente isso. Em nenhum momento, na minha opinião, o filme demonstra que as decisões políticas – o filme não julga tb se essas decisões foram erradas ou acertadas – dela foram resultados do constrangimento moral e o preconceito que ela sofreu (e realmente sofreu! As mulheres sofrem até hoje, imagina naquela epoca?) por ser mulher. Não tem nenhuma mensagem do tipo: o partido trabalhista zombava dela por ela ser mulher e filha de dono de mercearia e aí ela se vingou deles. Até pq ela sofria preconceito dos próprios conservadores mesmo. O constrangimento que ela sofreu é totalmente separado das decisões e convicções políticas dela, isso é demonstrado no filme pelo menos. Na vida real, não sei. Acredito que foi assim também. Eu honestamente estou relatando o que percebi do filme, nada além disso. Acho até que o filme tem muito mérito. Pq falar da Margaret Thatcher é sempre muito polêmico. As pessoas ou a amam ou odeiam. E eu acho que o filme conseguiu ser neutro. Eu por exemplo gostaria que o filme mostrasse mais a incompetência e a ineficiência das minas de carvão subsidiadas até então pelo estado inglês. Não mostrou, uma pena. Por outro lado, muita gente deve ter se decepcionado pois não mostrou os 10 mil trabalhadores das minas que ficaram desempregados (momentaneamente) e passaram por apuros financeiros severos.. Enfim.. Acho que o filme foi impressionantemente neutro.
Em relação as Guerras Malvinas, foi a Argentina que tentou invadir o território Inglês aproveitando-se da instabilidade política que a Inglaterra vivia, FATO. Margaret só respondeu da forma correta. Não foi nada premeditado para recompor sua imagem perante os eleitores. Mas é óbvio que a Argentina com seu exército fraquíssimo e covarde ajudou d+ a popularidade da Margaret. Mas vocês acham isso imperialista, absurdo e sanguinário? Vocês vão achar bonito se a Bolívia tentar recuperar o Acre e o Governo Brasileiro entregar de mão beijada? Só vale quando é de um lado?
O argumento de que o território era inexpressivo não cola, pq pode ser inexpressivo mas haviam ingleses morando lá. E também, se era inexpressivo, pra quê a Argentina invadiu, acarretando em guerra e sacrificando seus soldados?
por isso que o tiririca ganhou!!!
vOCÊS SÃO UNS VERDES NA AREA DE CRITICAS…VOLTEM PARA A ESCOLINHA.
Oi Bela, desculpa a demora para responder seu comentário. Estou trabalhando em alterações nesse espaço e simplesmente tenho tido pouco tempo.
Mas, vamos lá que a discussão é boa. Se você mencionou que o filme é "simplesmente um retrato histórico sob a perspectiva dela" eu consigo encontrar algumas incongruências no seu raciocínio. Antes, concordo com dois aspectos. Ela é, sim, vista como uma mulher intransigente (e a diretora fez questão de esfregar isso para o espectador ao revelá-la mencionando "obstinada" nas palavras cruzadas do marido). Também estou de acordo que ela sofreu muito por ser mulher no cargo mais importante da Inglaterra.
Todavia, ser um retrato histórico não isenta o filme de unilateralmente apresentar apenas o que lhe convém, como lhe convém. Isso não é liberdade artística, mas inconsistência factual. Evidentemente que certos momentos NÃO podiam ser excluídos e, ou são vistos brevemente para sequer notarmos, ou de maneira tão extrapolada que alguém apenas os desacredita (e estou me referindo a grosseria com a escrita do secretário).
Finalmente, o constrangimento mencionado por ser mulher, por vestir-se da maneira que se vestia, por ser filha de um marceneiro, etc estão sim taxadas no filme a cada quadro. Basta recorrer à linguagem cinematográfica para ver que a diretora sempre impõe um obstaculo masculino enorme subjugando Margaret isolada nos quadros em face de 4, 5, 6 conselheiros homens. Lembre-se também de como eles a olhavam, da eterna desconfiança, mesmo após quase 11 anos de gestão. Querem que sintamos pena dela, vendo-a idosa, sofrendo de esclerose, sofrendo discriminação por ser mulher e coisinhas mais. No final das contas, essa absurda simplificação da personagem prejudicou demasiadamente a composição e neutralidade que você mencionara.
Obrigado de novo pela visita.
P.S.: respondendo das Malvinas. Não acho a posição Argentina justa e correta e, qualquer decisão que Margaret tomasse seria controversa da sua própria maneira. Atendo-me aos méritos cinematográficos, no entanto, parece que ela EXCLUSIVAMENTE queria defender a soberania inglesa e a história provou que não foi bem assim, tendo sido supetão (e ela esperava isso no caso de sucesso da ofensiva) para sua reeleição.