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Crítica | A Entidade

Sinister | Estados Unidos | 2012 | Direção: Scott Derrickson | Roteiro: Scott Derrickson e C. Robert Cargill | Elenco: Ethan Hawke, Juliet Rylance, Fred Dalton Thompson, James Ransone, Michael Hall D’Addario, Clare Foley, Vincent D’Onofrio | Duração: 1h50min.

Se você não começou a assistir a filmes de terror ontem, você com certeza está familiarizado com a história de A Entidade. Nela, uma família se muda para uma casa no interior na qual ocorreu um brutal assassinato sem solução que chocou a comunidade. Com o passar dos dias, eventos estranhos começam a assombrar as noites de um dos membros da família e, à medida em que ele começa a desvendar o crime, os sustos ganham intensidade e se tornam mais ameaçadores. Como se pode ver, a previsibilidade é um dos defeitos dessa produção de terror costumeira, tanto na forma com que a tensão é desenvolvida quanto no andamento e desfecho da história. Mas isto não significa que os sustos não sejam eficientes o bastante para arrancá-lo da cadeira.

Escrito por C. Robert Cargill e Scott Derrickson, que também dirige, o roteira apresenta Ellison Oswalt (Ethan Hawke), escritor que desvenda e desmistifica crimes reais nos seus livros e cujo primeiro e único sucesso ocorreu há cerca de uma década. Desde então, ele tem tido uma vida ordinária, desperdiçando seu talento em obras de recepção morna e livros escolares e jornalísticos. Para emplacar um novo sucesso, ele se muda com a mulher e os filhos para a mesma casa em que uma família foi encontrada enforcada no quintal e a caçula misteriosamente desapareceu, uma decisão de mau gosto afirma o xerife rabugento da região. Porém, ao encontrar uma caixa com vídeos macabros no sótão, Ellison descobre uma série de assassinatos bem maior do que ele sonharia investigar, começando a ser assombrado no cair da noite por rangidos no assoalho, o bater de portas e um projetor super-8 com vontade própria, além dos gratuitos terrores noturnos do filho.

Mas para um escritor que alfineta a polícia por não ter agido corretamente e se gaba de ter auxiliado a desvendar o crime ocorrido em Kentucky, Ellison é um dos protagonistas mais estúpidos da recente safra de terror. Mesmo depois de ter esbarrado no elemento comum entre os crimes, ele mal se dá ao trabalho de refletir por um minuto e associá-los, um esforço tão simples que até o espectador mais desatento realizará após escutar um breve e confuso telefonema. Por sua vez, compreendo o ímpeto irracional do sujeito de investigar o menor barulho, de ir a fundo no desconhecido e a sua relutância em informar à polícia, mas porque ele precisa sempre manter as luzes da casa apagadas? Ou porque, como bom investigador, ele ignora o relato revelador da filha e o que ela tem pintado nas paredes do seu quarto?

Ainda que tendo perdido inteiramente a credibilidade do protagonista, ao menos a narrativa não explora de forma banal o elenco coadjuvante: a família de Ellison, embora descontente após uma nova mudança, é compreensiva e não impõe mais obstáculos do que o sujeito precisa encarar; o delegado de polícia interpretado por James Ransome também surge como uma grata surpresa ao construir um personagem bem mais interessante do que ele pareceria ser no princípio e até mesmo o bravo xerife revela estar bem intencionado nas duas cenas em que aparece. Mas, como de praxe, o roteiro tem que incluir preguiçosamente um especialista em ocultismo, o Dr. Jonas (Vincent D’Onofrio), para esclarecer detalhadamente aspectos da narrativa melhor deixados, com o perdão do trocadilho, ocultos.

Apostando no bê-a-bá do gênero, ou seja, estranhos ruídos, alarmes falsos, rostos que se mexem na tela do computador e aparições que correm pelo segundo plano fora da visão do protagonista, o cineasta Scott Derrickson abusa ingenuamente do uso da trilha e efeitos sonoros que apenas servem para antecipar o instante exato do susto, diminuindo o seu impacto. Para provar isto, a sequência em que Ellison caminha pela casa à procura de algo não recorre a esse artifício e é a mais assustadora por ser também a mais natural. Por sua vez, ainda que use inteligentemente e de forma diegética o recurso de fitas encontradas (o found footage, a moda da produção de terror contemporânea), a narrativa é demasiadamente repetitiva: Ellison assisti a um assassinato nas fitas, ouve ruídos e os investiga, descobre uma nova peça para montar o quebra-cabeças; assisti a uma nova fita, novos sustos, nova pista. Isso para não citar as sequências em que ele acorda de madrugada e descobre que o aparelho de super-8 estava funcionando mesmo tendo trancado o escritório e ele ser o único desperto… o que me faz divagar sobre o sono profundo dos membros da sua família que não acordam um momento sequer com a barulheira do sótão quebrado, por exemplo.

Sugerindo uma explicação absurda para os eventos ocorridos, envolvendo (novamente em outro filme) uma deidade pagã, ao menos a narrativa oferece um desfecho honesto e coerente, embora previsível. E se os sustos parecem mais o trabalho de um diretor novato interessado no impacto imediato do que na narrativa (o corte final serve apenas para assustar), eles ao menos mantêm a eficiência de A Entidade.

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5 comentários em “Crítica | A Entidade”

  1. Realmente, um dos protagonistas mais estúpidos que já vi. A gente fica o tempo todo se perguntando como alguém pode fazer o que ele faz… Enfim… Mas, a construção da tensão é bem feita.

  2. Acho que o principal problema do filme é a falta de segurança de Scott Derrickson nas decisões que ele tem que tomar. Há cenas fantásticas no longa-metragem. A das crianças, como você bem citou, é muito boa. Não acho Ellison um personagem tão condenável e respondendo: a queda de luz parece ser recorrente na vizinhança (até é algo que o policial ressalta num momento), acho que não é decisão dele mantê-las apagadas sempre; sobre a filha, ele – assim como a mãe – entendeu que ela podia ter escutado algo sobre a casa e sobre quem morou lá e ficou nisso. Não achou que ela DE FATO estava vendo algum fantasma. Nem passou pela cabeça dele e, sim, como bom investigador: não deveria passar.

    Enfim, gostei do filme.

  3. Deixe-me refutá-lo:

    1) Se a queda de luz fosse recorrente como afirma, como o projetor super-8 funcionava (não, ele não tinha bateria… e nem me venha com desculpas de que ele era um projetor sobrenatural rsrs).

    2) Quanto à filha, ele poderia ter passado por cima do fato dela ter visto um fantasma, mas NINGUÉM entrava no quarto da menina para ver o que ela pintava na parede?

    3) A questão do bom investigador é a inabilidade do sujeito em associar os crimes, tarefa simples que o delegado faz de forma clara em um telefonema. O engraçado é que ele repara a número que associa os crimes e fica por isso mesmo, não fuça mais, investiga, o que um bom jornalista/escritor faria!

    Enfim, gostei do filme também, só o acho bitolado só em assustar e não desenvolver a história.

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