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Crítica | A Origem dos Guardiões

Título original: The Rise of the Guardians | País de origem: Estados Unidos | Ano de lançamento: 2012 | Dirigido por: Peter Ramsey | Escrito por: David Lindsay-Abaire baseado no livro de William Joyce | Vozes na versão legendada: Alec Baldwin, Hugh Jackman, Isla Fisher, Chris Pine, Jude Law | Duração: 1h37min.

Este 2012 realmente não tem sido um bom ano para quem gosta de animações: a Pixar novamente entregou um produto abaixo da sua capacidade com Valente; a normalmente confiável Aardman lançou o seu stop-motion menos envolvente com o só bom Piratas Pirados!; os outros grandes estúdios do ramo no mercado norte-americano variaram entre o fraco – Era do Gelo 4 e Hotel Transilvânia – e o mediano – Frankeenweenie e O Lórax: em busca da Trúfula Perdida; e para piorar, o excelente O Mundo dos Pequeninos, dos estúdios Ghibli, sequer foi lançado nos cinemas nacionais, indo parar diretamente nas estantes de locadoras (uma atitude imperdoável). Sobrou para o freneticamente divertido Madagascar 3: Os Procurados e o original ParaNorman, que homenageava e subvertia os filmes de zumbis, a tarefa de ostentar a coroa de melhor animação de um ano fraco, feito que este muito aguardado A Origem dos Guardiões não consegue atingir.

Baseado em uma história de William Joyce, o roteiro de David Lindsay-Abaire reimagina personagens míticos do imaginário infantil como sendo autênticos guardiões desta fase da vida. Assim, os conhecidos Papai Noel (rebatizado de Norte), o Coelhão da Páscoa e a Fada do Dente, e os menos populares por estas bandas Sandman e Jack Frost, o novo membro da equipe, unem forças para combater uma grande ameaça. Trata-se do tenebroso bicho-papão Breu, cujo objetivo é devolver o mundo à idade das trevas, época em que todas as crianças o temiam. Entre discussões supérfluas a respeito de quem é o mais importante, os heróis partem em defesa das crianças e, consequentemente, de si mesmos, pois caso elas parem de acreditar, eles perdem seus poderes e a razão de existir, o que diminui a quase zero o altruísmo de sua missão.

Sem se preocupar em expandir os lendários personagens além de detalhes divertidinhos, como a narcolepsia de Sandman e o medo de voar do Coelhão, nem tampouco em justificar a existência de Breu ou como seus poderes permanecem fortes mesmo sendo desacreditado pelas crianças, o que o diferencia dos demais Guardiões, o roteiro resume-se à busca de Jack Frost para descobrir quem ele era (escancarado no clichê “como posso saber quem eu sou, sem saber quem eu fui?”) e a forma com que o jovem guardião lida com a solidão centenária e o fato de ser invisível aos olhos das crianças. Recorrendo ao batido argumento do messias – “É o seu destino”, afirma Norte -, Jack também é tentado por Breu no deserto congelado, naquele que é o ápice da narrativa. Porém, ao invés de buscar uma identidade própria, a narrativa se contenta em ser uma espécie de Os Vingadores com direito ao seu rancoroso Loki na pele de Breu.

Nesse sentido, o diretor Peter Ramsey encontra na ação ininterrupta e ritmo agitado a linguagem apropriada para entreter os pequeninos, embora esteja somente disfarçando a fragilidade da narrativa. Mantendo os personagens em constante movimento e dirigindo sequências sempre em aceleração máxima, Ramsey usa interlúdios apenas para empurrar a história adiante e prover instantes de relaxamento a olhos maltratados. Pudera, junto a uma câmera que passeia veloz e livremente entre cenários bem elaborados, a direção parece estar esquecendo do 3D, e diversas sequências terminam sendo incompreensíveis. Assim, se é engraçada a disputa para recolher o maior número de dentes, e o confronto entre Breu e Sandman é tenso na maneira com que se cerca de trevas, o mesmo não posso afirmar das nauseantes viagens no trenó ou na toca do coelho, e no anti-clímax com um já anunciado deus ex machina.

Deslumbrando no design de produção e introduzindo elementos bem sacados (os pequenos beija-flores e os ovinhos ambulantes), a narrativa confere individualidade à rústica toca do Coelhão, ao onírico palácio das fadas e mesmo à oficina do Papai Noel em que sempre há um brinquedo voando e ietis fazendo o trabalho manual (a gag do monstrengo pintor é divertidíssima). E embora esteja cansado da tendência de usar pequenos ajudantes como reproduções dos Minions de Meu Malvado Favorito, papel desempenhado aqui pelos gnomos, a repaginação no visual dos mitos é acertada: Norte é um típico russo com direito ao gorro tradicional, a Fada dos Dentes vira uma amálgama entre um beija-flor e uma fada e o Coelhão tem todo jeito australiano. Enquanto isso, Jack Frost é pensado na geração Ben 10 e Sandman impressiona por sua doçura e forma com que se comunica.

Longe de ser decepcionante, A Origem dos Guardiões tampouco é a animação do ano, preterindo a sua boa premissa por mera ação desenfreada. É divertido, admito, mas seus queridos personagens mereciam uma aventura melhor.

P.S.: quem diria que a última esperança de uma animação à altura de Rango e As Aventuras de Tintim viria na forma do ex-vilão de Detona Ralph.

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3 comentários em “Crítica | A Origem dos Guardiões”

  1. Inevitavelmente, eu vou ter de bancar o advogado do filme, meu caro Márcio rs, mas antes, também lamento e muito o belíssimo "O Mundo dos Pequeninos" ter sido lançado direto em home vídeo. Imperdoável mesmo.

    Quanto aos Guardiões, eu considero o melhor do ano, sem dúvidas, não pelo ano ter sido fraco, mas por este ser realmente encantador. Eu achei o roteiro primorosa na capacidade de mesclar com equilíbrio cenas cômicas, a "aceleração máxima" que tu comenta, e o drama existencialista de Frost, que desboca naquele linda passagem quando descobrimos seu passado.

    O filme me conquistou integralmente pela criatividade e o respeito com os personagens, incluindo o Breu, um vilão astuto e, por isso mesmo, muito ameaçados.

    A comparação com Avengers é inevitável, mas não vejo como algo depreciativo. Ainda melhor que o filme de Whedon, Guardiões conseguiu fundir entretenimento de qualidade com cenas comoventes. O filme desperta a sensação de voltar a ser criança de novo como poucos conseguem. Funcionou muito comigo.

    Espero que o fiasco de bilheteria não diminua as chances do filme para o Oscar. Desde então, tem minha torcida. E nao por falta de algo melhor, mas por ser uma animação excepcional mesmo =D

    Abs.

  2. É, o ano tá fraco pras animações, mas tem muita coisa mediana, como esse aí. Acho visualmente deslumbrante e a história assume muito bem seu lado infantil da crença nos heróis/guardiões, sem se preocupar com o "mundo real". Mas ainda assim é só mais um bom filme.

    E você precisa ver O Gato do Rabino, pra mim a melhor animação do ano até então.

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