A seguir, a lista dos melhores filmes inéditos, exibidos comercialmente no Brasil, nos cinemas, em 2016. Como comentei nas demais listas, estão de fora, portanto, filmes apresentados somente em festivais e lançamentos nas plataformas de vídeo por demanda (netflix, iTunes, Now etc). Mantenho a promessa de, em 2017, incluir TODOS – ou quase – os filmes inéditos, independente da plataforma onde sejam exibidos.
10- A Academia das Musas
Entre a fronteira do documentário e ficção, o diretor José Luís Guerín discute o papel da mulher nas sociedades ao longo do tempo, da musa por definição poética à negação deste papel, e propõe o (re)aprendizado da importância da poesia no mundo contemporâneo adaptando este às exigências dos clássicos ou vice-versa. Um trabalho desafiador.
9- Sieranevada
Integrante da nova onda do cinema romeno, em que o acontecimento central – neste caso, o aniversário da morte do patriarca da família – é desculpa para o debate sobre a atual sociedade europeia e os anseios individuais daqueles ali presentes, recém livres do regime opressor comunista, o novo filme de Christi Puiu também conta com uma direção de fotografia e operação de câmera de cair o queixo, esgueirando-se pelos corredores apertados de um apartamento minúsculo e acima da lotação, para retratar, com senso de humor e cinismo, os sentimentos aprisionados naquela família.
8- A Grande Aposta
Adam McKay encontra humor na tragédia: a crise econômica norte-americana que empobreceu muitos e enriqueceu os poucos que, como os personagens desta trama, apostaram contra o próprio país e lucraram milhões. A montagem, um dos elementos mais importantes da comédia, é afiada, tal como as atuações de Christian Bale, Steve Carrell e um grande elenco, neste trabalho que mescla, como poucos, entretenimento sofisticado e rico conteúdo.
7- Neruda
Pessoalmente, sou apaixonado por experiências narrativas que subvertem aspectos da linguagem cinematográfica para narrar uma história de maneira surpreendente. Aqui, a biografia do poeta e político comunista Pablo Neruda, de maneira inconvencional, através de uma trama semelhante a um poema graças ao descontinuísmo da montagem desacompanhado, porém, da edição sonora, conferindo uma cadência típica desse gênero literário. Os “ecos” na narração in off e a paleta de cores roxa, artificial, reforçam mais um excelente trabalho de Pablo Larraín, de quem sou fã cada dia mais.
6- Spotlight – Segredos Revelados
Chegou para juntar-se a Todos os Homens do Presidente como uma das grandes narrativas sobre jornalismo, e não há elogio maior do que este! A trama, que investiga os escândalos de pedofilia na igreja norte-americana, controla o ritmo com maestria, liberando-o, inteligentemente, para casar com os rompantes das atuações uniformemente boas e a performance monstruosa de Mark Ruffalo.
5- Deus Branco
Passou despercebido por muita gente este trabalho húngaro cuja crueldade melancólica apenas é rivalizada por uma das cenas mais impressionantes que eu já vi nos cinemas: a perseguição da “matilha canina” formada por centena de cães – emprego o coletivo com certa licença poética. Um misto de Romeu e Julieta – você leu bem! – e o confronto de classes tantas vezes vista nos cinemas, mas não da forma como faz este trabalho irrepreensível.
4- O Regresso
Será lembrado por ser o filme que deu o Oscar a Leonardo DiCaprio – até porque, considerando a morosidade da Academia que poderia tê-lo premiado tantas outras vezes, este pode ser seu único prêmio – ou por ser a segunda vitória consecutiva do diretor Alejandro Gonzaléz Iñárritu – depois de Birdman – ou até por ser a trinca também consecutiva e inédita de Emmanuel Lubezki – que vencera o prêmio de melhor fotografia por este, aquele e Gravidade -, mas merece o destaque pela força com que discute violência, redenção e piedade.
3- O Quarto de Jack
Releituras supervenientes fazem parte do universo cinematográfico e até hoje há discussões férteis sobre clássicos sedimentados no imaginário popular. Dito isto, vocês sabiam que vez ou outra me pego pensando e reinterpretando este trabalho tão delicado na sua concepção infantil – pois é contado do ponto de vista do pequeno Jack, para quem tudo é novidade – quanto é apavorante? Enquanto a personagem de Brie Larson blinda o filho da dor e amargura da situação em que se encontram, ela dissolve psiquicamente. Contudo, acompanhamos isto somente através de hiatos que escondem dos nossos olhos, não da nossa sensibilidade, a transformação emocional da personagem e o tanto de traumas que terá que superar.
2- Aquarius
O melhor filme nacional de 2016 foi alvo de represálias do governo somente por ter sua própria opinião política. Como se arte pudesse dissociar-se de aspectos socioeconômicos, morais, políticos etc. Kléber Mendonça Filho, a propósito, cria uma obra que fala por si só sobre o Brasil em que vivemos e cria um conto de fadas sobre a luta de Clara – uma atuação excepcional de Sônia Braga – contra os ditames negociais da sociedade capitalista, que corrói nossas fundações morais tal como cupins.
1- A Chegada
Dennis Villeneuve é um dos diretores mais versáteis do cinema em atividade – Incêndios, Suspeitos, O Homem Duplicado, Sicario são provas disto – e sabe extrair o essencial de cada gênero com que trabalha. Nesta ficção científica – que combina subgêneros específicos -, Villeneuve usa o pano de fundo da invasão alienígena para dissertar acerca da reação humana diante da inevitabilidade do luto e da dor e como criamos massa emocional para lidar com as angústias que a vida reserva, incapazes, porém, de tirar a memória afetiva da felicidade que ora vivenciamos. O irmão caçula de Contatos Imediatos do Terceiro Grau e Contato.
Se dei-me o trabalho de elencar 10 menções desonrosas na lista de piores, então eis o dobro de menções honrosas, filmes que valem cada minuto investido:
Abraço da Serpente, O
Agnus Dei – As Inocentes
Animais Fantásticos e Onde Habitam
Anomalisa
Boi Neón
Bruxa, A
Capitão Fantástico
Carol
Creepy
É Apenas o Fim do Mundo
Elle
Filho de Saul, O
Invocação do Mal 2
Mais Forte que Bombas
Oito Odiados, Os
Rogue One – Uma História Star Wars
Rua Cloverfield, 10
Silêncio do Céu, O
Tangerine
Zootopia – Essa Cidade é o Bicho
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.