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Crítica | Transformers: O Último Cavaleiro

Transformers: O Último Cavaleiro

149 minutos

Críticos são masoquistas. Passam-se os anos e nós ainda estamos aqui, gastando palavras com Michael Bay, seu apreço por carros, armas, sexismo e homens sarados ao pôr do sol e seus robôs gigantes que em nada lembram os divertidos bonecos que amávamos receber de Natal quando éramos crianças. São palavras ao vento, devo admitir, mas que precisam ser repetidas nem que apenas uma alma viva entenda a diferença entre o bom blockbuster e esse troço inominado, picotado, mutilado, esquizofrênico e tedioso chamado Transformers: O Último Cavaleiro, do diretor que adotou a Hasbro como instrumento de tortura dos espectadores de cinema.

Escrito por Art Marcum, Matt Holloway e Ken Nolan, os dois primeiros de Homem de Ferro e o último de Falcão Negro em Perigo, o roteiro nasceu das mãos de pessoas que não fazem a menor ideia para que servem personagens, conflitos, incidentes etc. Tudo tem início quando Optimus Prime viaja a Cybertron, uma viagem que deveria demorar décadas, ou melhor, séculos, mas que aqui se passa em semanas, para investigar a origem de seu planeta, enquanto na Terra, Cade (Wahlberg) é importunado por uma agência norte-americana intitulada por uma sigla que você esquecerá logo depois que sair do cinema. Em meio a isto, um artefato é buscado por Megatron, que ressuscitou mais uma vez, e por Optimus Prime, vítima do controle mental que torna mocinhos em vilões até que alguém resolva falar a palavra mágica e quebrar o encanto.

Seria bom se eu pudesse parar aí, mas o roteiro trata de inserir Sir Edmund Burton (Hopkins, certamente endividado), um membro da sociedade secreta que escondeu a história dos Transformers na Terra desde que eles ajudaram o Rei Arthur a formar a Távola Redonda ou ao Aliados a vencer Hitler, por mais absurdo que isso possa parecer, Vivian (Haddock), uma doutora em história e descendente do único homem em cuja existência não crê, e Izabella (Moner), uma garota que perdeu os pais e resolveu que quer ser parte da família de Cade no ferro-velho, além de reconvocar Lennox (Duhamel) ou Simmons (Turturro) para não fazer absolutamente coisíssima alguma. Mas se existe algo em que o roteiro desse quinto episódio é bom é na arte da reciclagem, e, assim, reimagina-se o clímax do segundo (o pior de uma franquia que viu seus exemplares figurarem na lista de piores dos anos em que foram lançados) ou revisitam-se elementos de Indiana Jones (o certo seria Lara Croft, mas vocês entenderam), Rei Arthur e até o gênero catástrofe de Independence Day, com direito a discurso edificante e a desastres higienizados em que não se vê ou se sente nada além de efeitos especiais em excesso.

Inchado ao ponto do enfado, o roteiro poderia começar a partir da primeira hora, sem maiores prejuízos, e poupar-nos de personagens em excesso despidos de propósito (repare que há uma cena para introduzir o sexteto sinistro-ish comandado por Megatron apenas para que eles desapareçam logo após) ou dramas aleatórios que não interferem no desenrolar da narrativa (afinal, por que a comoção ao redor da relação entre Cade e sua filha?). Nesta cena específica, aliás, Michael Bay ensina-nos por que só há um Michael Bay, ou qual outro diretor recorreria a 5 planos distintos e entrecortados para retratar uma mera ligação telefônica? E se o diretor é incapaz de simplificar um plano tão simples, coordenar ações simultâneas ou retratar interações entre personagens reais e digitais parece tarefa mais apropriada a PhD na área.

Este episódio apenas reforça a falta de zelo de Bay na decupagem (o planejamento das sequências de modo geral, com descrição dos planos, cortes etc) e seu péssimo trabalho em conjunto com a equipe de seis montadores (!), que ao menos não tem set pieces muita elaboradas para organizar, como havia anteriormente. Por outro lado, eles estão de parabéns em criar uma espécie de nova linguagem cinematográfica em que câmeras convencionais e IMAX competem ferozmente entre si, criando um Frankestein esquisito que alterna entre três razões de aspecto distintas (o tamanho da tela de projeção): 1.90:1, 2.00:1 e 2.35:1, algo que você deve ter notado quando a tela encolheu ou esticou inexplicavelmente. E ainda que o diretor não seja o pioneiro em fazer algo assim (Wes Anderson e Christopher Nolan já experimentaram nesse sentido, com resultados melhores), ao menos é o primeiro em fazê-lo de modo totalmente aleatório, desdenhando do que quer que exija a narrativa em determinado momento.

Mesmo assim, ainda prefiro-o como um adolescente brincando de fazer cinema com um orçamento milionário do que como o homem machista que acha que mulheres não sabem dirigir, que precisam pedir permissão para o moço sarado do lado antes de agir ou que apenas se revelam poderosas quando estão com o decote à mostra. Aliás, a similaridade entre Laura Haddock e Megan Fox prova o quanto Michael Bay permanece obcecado pela atriz (quem conhece as histórias dos bastidores das duas primeiras produções, sabe do que estou falando).

Os problemas não se encerram na direção: o compositor Steve Jablonsky acredita que trilha sonoras edificantes são apropriadas em partidas monótonas de pólo sobre cavalos (!), ao passo que o design de produção de Jeffrey Beecroft acha uma ideia criativa ripar as espaçonaves TIE de Star Wars nos drones do governo norte-americano ou ilustrar um ovni, submerso há séculos, cuspindo fogo de seu interior.  Também não falta a cena em que três senhoras acreditam que Cade e Vivian estão transando justo pelos sons característicos que emitem enquanto estão procurando uma informação no quarto do pai dela, nem a décima vez em que Optimus Prime reafirma-se repetindo o nome (quase um Groot robótico), antes de decepar o braço de um inimigo como se este fosse um boneco de pano.

E que robôs feitos de toneladas de metal realizem proezas como esta ou se movimentem com graça, agilidade e fineza de movimentos denuncia contra a qualidade de uma franquia que, passados 10 anos, tenta nos fazer acreditar que o Transformers original era uma obra-prima nem que para isto precise emendar desastre atrás de desastre.

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