Na sequência, a lista dos 10 melhores atores em filmes exibidos comercialmente, nos cinemas brasileiros ou em plataformas de vídeo por demanda (Netflix, Net Now etc) em 2017. Esta é a razão por que há atores de produções que concorreram ao Oscar desta ano, mas que apenas estrearam em terra brasilis nos primeiros meses do ano. Nos links estão as críticas escritas e publicadas neste espaço.
10- Robert Pattinson, Bom Comportamento
A sensação de surpresa após cada grande atuação de Robert Pattinson deve-se, sem dúvida, à decepção de sua apatia em Crepúsculo. Assim, The Rover – A Caçada, Cosmópolis e Z: A Cidade Perdida decoram a trilha ambiciosa que o ator percorreu até este papel sensacional, em que pode construir um personagem dedicado incondicionalmente ao irmão, porém ignorante ao fato de que outros também podem ajudá-lo, uma constatação que chega tarde demais e de modo doloroso neste thriller entorpecido em ácido.
9- Richard Gere, Norman: Confie em Mim
Ator que se beneficiou bastante da terceira idade para se livrar da persona de símbolo romântico e sexual dos anos 80 e 90 e, finalmente, dedicar-se a personagens complexos, Richard Gere, aos 68 anos (!), sedimenta o instigante mistério sobre quem é Norman e o que alimenta seu vício em ser prestativo ou, melhor, em criar uma expectativa neste sentido em terceiros. Ao término, permanecemos na penumbra quanto a esse personagem fascinante e vivido com serenidade e emoção por Gere.
8- Peter Simonischek, Toni Erdmann
Peter é a alma desta dramédia alemã. Como Winfried, procura estreitar laços com a filha empresária; e, através de seu duplo, o coach Toni Erdmann, procura quebrar sua rotina com a inserção do humor inesperado, inconveniente e genial. Há melancolia, bom humor, urgência e muita emoção na forma com que Winfried / Toni procuram reacender a chama da alma de Ines.
7- Andy Serkis, Planeta dos Macacos: A Guerra
A âncora emocional desta trilogia da série O Planeta dos Macacos é, indiscutivelmente, César, interpretado por Andy Serkis através da mesma captura de performance com que deu vida a Gollum, King Kong ou Líder Supremo Snoke. O Moisés dos primatas revela, através de contradições e complexidades, o processo irreversível de bestialização da espécie humana e a consequente humanização dos que vieram substituí-los na evolução.
6- Denzel Washington, Um Limite entre Nós
É incontestável a capacidade de Denzel Washington em, mesmo repetindo sua persona cinematográfica, estabelecer uma abrangência dramática invejável. Aqui, a tagarelice, a intransigência, a volatilidade e a paixão em ser o centro das atenções mascaram um homem machucado e amargurado por não haver alcançado seus sonhos, descontando em seus familiares suas frustrações e seu alcoolismo. O monólogo que dirige a Deus, uou!, isto sim é atuação!
5- Patrick Stewart, Logan
Dói muito reencontrar o Professor Xavier, que tanto se dedicou à causa mutante apenas para testemunhar a precoce extinção da espécie. Sem exposição nem sentimentalismo, Patrick Stewart oferece ao espectador uma visão de quem aquele homem foi e de quem é agora, mais poderoso do que nunca porém descontrolado em decorrência da velhice. Seu relacionamento com Logan e a maneira com que ambos conversam pelo olhar está entre os pontos mais altos da melhor produção de super-heróis do ano (talvez da década!).
4- Harry Dean Stanton, Lucky
Aos 90 anos de idade, Harry Dean Stanton, que faleceu este ano, constrói um personagem que encara a mortalidade sem desviar o olhar, embora esteja receoso e angustiado com a perspectiva das cortinas se fecharem detrás de si. Cada gesto, olhar ou palavra do ator é uma forma de enfrentar este tema com sabedoria, sensibilidade, bom humor e naturalidade, culminando na quebra da quarta parede, apta a estabelecer um elo indescritível e emocionante entre ator, personagem e o espectador.
3- Casey Affleck, Manchester à Beira-Mar
Aprecio interpretações avessas a sentimentos rasos e minimalistas, e a de Casey Affleck parece simples, mas não é. Pelo contrário, é dificílima, pois o ator permanece concentrado em estar no limiar da emoção represada e do coração calejado, azedo e rude, sem que a dureza signifique rejeição da performance. E prometo, a naturalidade que há na entonação e composição de Casey ao reproduzir o já célebre diálogo “I can’t beat it” (“Eu não posso vencer”) é muito melhor do que assistir a atores celebrados chorando copiosamente.
2- Vladimir Brichta, Bingo – O Rei das Manhãs
A biografia de Arlindo Barreto, o palhaço Bozo rebatizado de Bingo por questões contratuais, encontra em Vladimir Brichta o intérprete perfeito, apto a reproduzir, com intensidade, virilidade e sacanagem, o que o inspirava a animar as manhãs da televisão brasileira. Vladimir evita o clichê, que poderia advir do combo fama, drogas e ego, e constrói um pai amoroso, filho dedicado e artista talentoso submetido ao duro teste do sucesso sem reconhecimento.
1- Nelson Xavier, Comeback – Um Matador nunca se Aposenta
Nelson Xavier também nos deixou este ano, e seu último trabalho discute o papel do idoso na sociedade a partir do exemplo extremo do matador Amador, cujas glórias passadas apenas estampam o álbum de memórias mofado pela chegada do ostracismo. A performance contida e dolorida de Nelson revela seu arsenal, desculpem, em construir um personagem memorável neste que é seu canto do cisne, digo, o disparo derradeiro de sua pistola.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.