Aumentando seu amor pelo cinema a cada crítica

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Como foi cobrir meu primeiro festival de cinema presencial, em Vassouras

Desde 2020, a minha relação com cinema tem se estreitado cada vez mais. Com a pandemia, essa arte tão querida se tornou meu refúgio, meu porto seguro. Comecei a participar do Clube do Crítico, onde semanalmente discutia filmes com pessoas que tinham esse amor em comum. Com a Mostra de São Paulo disponibilizando exibições virtuais, tive acesso às novas produções, afinal, os cinemas estavam fechados. Me deparei com diversos filmes, entre eles, Valentina (um drama nacional a respeito de uma adolescente trans). Com tempo disponível e a necessidade de escrever sobre os filmes assistidos me consumindo, acabei escolhendo o longa para escrever minha primeira crítica. Acabei mostrando o texto para o Márcio Sallem – nesse tempo apenas amigo e professor – que me convidou a publicar a crítica do filme aqui no site e abriu espaço para que eu escrevesse outras. Acabou que nossa parceria se estendeu para além dos textos, mas isso é história para outro artigo.

Com a vacinação e a abertura dos cinemas, as cabines foram retomadas, assim como os festivais e mostras presenciais. Eu já me sentia seguro para frequentar o cinema, então quando fui convidado para assistir à exibição do documentário Nada Sobre Meu Pai, no É Tudo Verdade desse ano, fiz questão de estar presente. Ainda assim, não foi uma cobertura, ainda que o evento tivesse sido presencial. Fui para prestigiar o filme de uma cineasta que admiro (Susanna Lira) e que minha amiga, Gabi Fisher, participa da produção.

Dia 25 de maio, o Márcio me convida para ser correspondente do Cinema com Crítica na 2ª Edição do Festival de Cinema de Vassouras, no Vale do Café. Ele estaria no Guarnicê, em São Luiz, por isso, acabou me indicando para ir em seu lugar. Eu entrei em êxtase com o convite! Depois fui ajustar toda minha agenda de entrega de trabalhos para conseguir abrir espaço e conseguir ficar todos os dias do festival. A primeira dúvida que veio era a respeito dos custos, mas logo fui acalmado com a informação de que o transporte, alimentação e hospedagem – preocupações legítimas para aqueles que choram com a chegada dos boletos. Preenchi o formulário de credenciamento e fiquei aguardando a confirmação. Logo chegou! Tudo certo!

Com o dia de partida para o Festival se aproximando, a ansiedade começou a bater. A janela para dar conta das pendências se encurtava em ritmo acelerado. Parece que novas pendências se multiplicavam como gremlins em contato com a água. Um pouco do alívio veio com a chegada do kit de mídia – meu primeiro “recebidos” não pago. Eu precisaria fazer um vídeozinho para mostrar esse mimo e, trezentos e setenta e dois takes depois, eu consegui! Isso porque uma das contrapartidas da cobertura era produzir conteúdo jornalístico além das críticas. Logo eu, total low profile. Mas missão dada é missão a ser cumprida.

Dia do Festival

Logo na ida para o ponto de encontro me arrisquei a gravar meu primeiro story para o Instagram revelando a minha jornada para o Vale do Café para cobrir o Festival de Cinema de Vassouras. Já que eu ia ter que fazer isso ao longo do evento, eu devia começar a me acostumar treinando com coisas simples. Enquanto esperava o carro de aplicativo, foram várias tentativas de falar um pequeno texto que escrevi na minha mente sobre a viagem e convidando os seguidores a acompanhar essa empreitada. Quem via da janela do prédio devia imaginar que se tratava de um esquizofrênico de tanto que andava de um lado pro outro do acesso ao edifício com uma mala de rodinhas numa mão e um celular mirando o próprio rosto. Fiz questão de sair cedo, afinal sexta feira o trânsito da cidade é caótico e existe uma tendência do universo em colocar imprevistos no meu caminho para que eu me atrase.

Cheguei no local com quase uma hora de antecedência – o sonho para qualquer ansioso. Enquanto esperava o ônibus, encontrei a Sara, do Cine Aspectos, que conhecia do Clube do Crítico. Conheci a Poliana e a Larissa que completam o trio e também a Giovanna, da Veja, que viraria minha dupla na abertura do festival. O ônibus chegou ligeiramente atrasado. Em frente a ele já havia muita gente. Pus minha mala no bagageiro e fui catar um lugar. Sim, pra pessoas grandes, viajar confortável é quase uma raridade e eu já tive minha cota de aborrecimento nas minhas andanças. Por sorte, encontrei a Giovana, que entendeu a minha situação e não se incomodou com meu ombro invadindo o espaço dela – Quem compartilha a silhueta de um mastodonte, aconselho sempre procurar alguém pequeno para viajar do lado.

Pegamos um trânsito chatíssimo em Nova Iguaçu. Com o atraso e todo mundo com fome, fizemos uma parada em Paracambi. Acabei reconhecendo um jornalista e crítico que faz tempo que acompanho os textos: Rodrigo Fonseca. Parei para conversar com ele e, para minha surpresa, ele também é da Zona Norte. Conexões Suburbanas sempre garantem boas resenhas! E entre histórias de vida, perrengues e corres. Muito aprendizado em minutos de prosa. Nem imaginava que viria muito mais observando ele em ação.

Chegamos a Vassouras! Aquela correria para deixar as malas no Hotel e correr para almoçar. Fomos para Casa do Lago (Não, não tinha Sandra Bullock, nem o Keanu Reeves, mas a comida estava ótima!). No jardim desse restaurante aconteceu também a primeira coletiva de imprensa junto aos idealizadores do festival, Bruno e Jane Saglia, os jurados e o ator Antônio Pitanga, que seria homenageado na cerimônia noturna. Quando abriu espaço para perguntas, não pensei duas vezes e levantei a mão, ainda que tremendo, e perguntei:

– “Senhor Antônio Pitanga, como um homem fundamental na história do cinema brasileiro… da Bahia de Todos os Santos, de Trigueirinho Neto, até os dias atuais, como o senhor vê a evolução da presença de atores e realizadores negros e pretos no cinema nacional? E como o senhor enxerga o Festival de Vassouras como um fomentador dessa equidade?”

Com muita calma, ele rememora sua história, falando do cinema da década de 50 no Brasil, das poucas figuras pretas presentes no meio. Cita Ruth de Souza, Léa Garcia, Abdias Nascimento e Haroldo Costa. Ainda que a proporção não seja o ideal, ele afirma que o movimento que esses artistas iniciaram décadas atrás permitiu que hoje uma quantidade bem mais significativa desse quórum racial participe do cinema. Segundo o ator, infelizmente nos espaços onde são tomadas as decisões ainda não se vê nem pretos, nem pretas. E ele, enquanto esse “arvoredo da história”, como se coloca, se emociona ao dizer que valeu a pena estar de pé e poder ver as novas gerações despontando. Ainda assim, diz que quer ver mais! Deseja ainda mais conquistas para os pretos, principalmente quando remexe nesse baú da história e percebe que antes dele houveram Luis Gama e Maria Felipa. E Vassouras possui grande potencial, pois ainda é jovem e dá continuidade a esse movimento de fomento ao cinema.

Antônio Pitanga entre Jane e Bruno Saglia, organizadores do festival / Foto: Adriano Jabbour.

Confesso que foi muito difícil não se emocionar com o relato desse titã quase centenário. Existe uma vitalidade muito latente vindo de Pitanga. A contundência com que pronuncia suas palavras e o ímpeto de seus gestos são um pouco dessa força que possui. Quase não consegui gravar esse trecho de tanto que eu tremia (Consegui esse registro como Rafael Hernandes, do Cabine Secreta – um figurante de Coração Valente com um coração gigante). Dei a cara a tapa logo na primeira pergunta da coletiva e ganhei essa resposta tão forte quanto um soco. Que momento único!

Com o tempo da coletiva, não foi possível assistir ao documentário Pitanga. Mas não me arrependo da experiência. Acabamos indo pro hotel fazer o check-in e nos arrumar para a abertura do festival. Tive sorte de dividir quarto com alguém bem gente boa como Arine, fotógrafo do site Cinema para Sempre. Rendeu boas resenhas.

Em cima da hora e eu quase pronto. Faltava apenas eu arrumar o meu coquinho samurai – o que estava se mostrando mais difícil que o normal e, portanto, me tirando a paciência. Quem me salvou foi a Giovanna, de novo! No tapete vermelho, tive a oportunidade de entrevistar o Rocco Pitanga e conversar com ele a respeito do legado de seu pai. Junto ao Gabriel Perline (Ig/Rede Tv), pude conversar a respeito de etarismo na indústria com a Nívea Maria, que está no elenco do premiado Capitão Astúcia. Após a cerimônia de abertura, seguimos para assistir o longa Casa de Antiguidades. Com menos de 10 minutos de filme, fomos avisados que o Antônio Pitanga iria conceder entrevista no camarim. Eu, Gi – depois de ela arrumar meu cabelo, já dava para abreviar o nome – e Andréia (do Cinema para Sempre) saímos correndo da sessão atrás do camarim. Após explorar todo o labirinto dos bastidores, encontramos o local. Gi foi a primeira a falar com ele. Como ele estava sentado, fiz questão de me ajoelhar. Não apenas para ouvi-lo com mais facilidade, mas para reverenciá-lo. A foto e o vídeo de nossa conversa quem fez foi a Gi (me salvando mais uma vez!). O que perguntei e o que ele respondeu, vou guardar para mim. Mas muita coisa não se encontra em nenhum livro.

Meu momento de reverência a Antônio Pitanga / Foto: Giovanna Fraguito

Pegando o Ritmo de Festival

Nos primeiros dias é tudo muito novo, e parece que somos empurrados de um lado a outro com a exibição dos filmes, as coletivas de imprensa e para pegar o volcher das refeições. Acho que só acostumei com o ritmo na segunda-feira. Inclusive por que a circulação de pessoas acaba diminuindo por conta de ser durante a semana. Os curtas eram exibidos sempre pela manhã. A tarde haviam exibições de longas, boa parte infantis, o que contava com a presença de vários alunos da região. Muitas indicações de curtas excelentes vieram dos simpaticíssimos Marco e Carmela Fialho, do Blog Fialho. Antes da exibição dos longas de competição, aconteciam coletivas de imprensa com a equipe do filme ou talk shows com convidados. Tive a oportunidade de fazer perguntas à cineastas e intérpretes, além de críticos de cinema (como a Enoe Lopes Pontes, votante do Globo de Ouro) e autoridades relacionadas à cultura (como o presidente do Museu da Imagem e do Som, Cesar Miranda Ribeiro).

Quando eu tinha oportunidade de perguntar, eu buscava levantar questões que tratam da sétima arte, mas que também reverberam em nossa sociedade. Para Enoe Lopes Pontes, por exemplo, perguntei como elas enxergavam a promoção de diversidade, enquanto mulheres que atuam em uma indústria que ainda é patriarcal. Enoe elabora sobre as diferentes camadas socioeconômicas que dificultam o acesso. Existem políticas públicas que visam a equidade, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. Para Cininha de Paula, uma das primeiras diretoras, pedi para apontar uma diretora que a inspirava e uma que ela vê como grande promessa. Ela apontou Anna Muylaert (Que Horas Ela Volta?) e Luisa Lima (Os Outros), respectivamente. Outro que tive uma ótima troca foi o Emílio Domingos, realizador de A Batalha do Passinho. Conversamos sobre projetos e cinema de resistência.

Com certeza o que deixa essa correria mais fácil são as amizades que vão sendo criadas. Além do amor pelo cinema, vão se descobrindo diversas afinidades, além de histórias que são compartilhadas. Saíamos da exibição de um filme e entre as primeiras impressões já emendávamos com qualquer outro assunto. Foi curioso perceber que muitos já se seguiam pelos perfis de cinema nas redes sociais, mas só foram se conhecer no festival.  Um exemplo meu é o perfil Papo de Cinemateca, do Rogério Machado, e o Guia do Cinéfilo, dos irmãos Juliana e Raphael Camacho. Com esses dois a resenha foi desde o primeiro dia. Juliana me alertou que coisas que não fariam sentido iam acontecer e eu devia embarcar em tudo por que a chance de algo grande acontecer quando menos espera-se é enorme. Camacho já acompanhava aqui o Cinema com Crítica, além dos papos sobre filme ainda rolavam as fotos com ele me zoando de Wesley Safadão devido às minhas madeixas compridas. Os momentos onde mais havia interação do pessoal da imprensa eram no pós-festival. Íamos jantar sempre por volta das 22h. Em uma das idas à Hummm! Pizzas, levei à luz uma discussão bastante erudita: a (ausência de) beleza de Adam Driver. E com essa polêmica, me aproximei do quarteto fantástico e inseparável formado pela Brenda (Cinema e Café), Bruna (Cinema com Bru), Laís (Azevedo) e Ana Paula (Telepopcorn). Ainda me juntei com quatro criaturas, tão loucas quanto eu: Adriano Jabbour (Árabe Cinéfilo / Cinerama), Ed (Cabana do Leitor), Léo (Gazeta do Rio) e Pedro (Cinepop / Correio do Amanhã). De quebra, dias depois ainda chega um quinto elemento: o Daniel Gravelli. Rimos tanto um da cara do outro que aprendi até a imitar cada um deles. Quase sempre as resenhas se estendiam no hotel, e quem estava nelas todas, mas precisou voltar para casa, foi a Victória (Club do Filme).

Momentos em que nada faz sentido e mesmo assim algo grandioso acontece

Estávamos assistindo ao longa Horizonte, e bastante envolvidos com a história, quando houve um problema no arquivo e o filme não pode mais ser exibido. Acontece que o ator que protagonizava o filme se encontrava na sala de exibição. Com isso, acabamos falando com ele e conseguimos um momento para conversar com ele sobre o filme e o que estávamos achando. Raymundo de Souza foi muito simpático e solícito com cada um de nós. O filme foi reexibido na íntegra. Mas não foi a falha na projeção que foi o momento catártico. Em outro dia, quando estávamos indo visitar a Fazenda São Luiz da Boa Sorte, onde almoçaríamos, fomos surpreendidos com a equipe de Horizonte pegando carona com o ônibus que estávamos. A viagem e ônibus foi com muita zoeira, obviamente.

Por falar em local para almoçar, uma experiência distinta foi conhecer o Rancho da Paula, que fica nos arredores da cidade. A Paula é uma senhora que transborda doçura e que abre a sua casa para visitantes enquanto oferece uma deliciosa comida caseira. Conversando com ela o quanto o espaço dela me trazia um ar de familiaridade, acabei descobrindo que ela havia conhecido meu avô, que falecera há vinte anos. Coincidentemente, a história de nossas famílias convergem em outro município do Rio de Janeiro: Cachoeiras e Macacu.

Nem só de risadas e resenhas vivemos esses dias. Por ser uma cidade pequena, é comum que o comércio feche mais cedo. O contratempo é que um restaurante acabou fechando a cozinha antes que eu e um pequeno grupo composto pela Andréia (Cinema para Sempre), Edna (Revista InFoco) e o Rogério (Papo de Cinemateca), conseguíssemos chegar para fazer o pedido da janta por que estávamos assistindo um dos filmes principais da premiação. Para nossa alegria e salvação, a refeição que o restaurante oferecia era muito bem servida (dava até para 3 pessoas) e as queridas do Cine Aspectos e a Rafa (Cabana do Leitor) compartilharam “o pão” tal qual a Santa Ceia. Das outras vezes, ficamos mais espertos e nos organizamos de deixar os pedidos com quem não ia assistir ao filme. Assim garantimos a janta com a Louise (Cinema para Sempre), Edison e Márcia (Portal Eu, Rio) – que mandam muito bem no churrasco – e Rafael e Janda (Cabine Secreta). O único perrengue era voltar pro hotel com a temperatura com 10° a menos do que quando chegamos no restaurante. Vou deixar só um conselho para vida: não deixem um gordo com fome.

A Rafa ainda fez o registro de um momento bem louco que foi inusitado! O músico Fernando Starkey fazia mais uma apresentação trazendo clássicos do rock dos anos 80, 90 e 2000. Eu já estava acompanhando de longe com minha gaita ele cantando Seven Nation Army, do White Stripes, enquanto guardava meu material da última coletiva. Fui logo conferir o show. No final, ele perguntou se tinham algum pedido. Saquei minha gaita diatônica do bolso e perguntei se ele se não queria puxar um blues. Na mesma hora! Fizemos uma improvisação em cima da cadência de Hoochie Coochie Man. Com certeza, eu curti o Festival de Cinema de Vassouras! Starkey já havia se apresentado em outro dia. Agitou os convidados no corredor principal no encerramento do dia em que comemoramos o aniversário de 124 anos do cinema brasileiro. Uma festa que acontecia no lugar certo: um festival de cinema brasileiro! Teve bolo e parabéns, e quem apareceu por lá para garantir seu pedaço foi o primo brazuka do Chaplin, o Charlitos!

Para além do festival, aproveitamos para conhecer a cidade. Vimos a exposição de carros antigos e aproveitei para tirar foto ao lado de um Mustang V8, digno da família Toretto. Em paralelo, estava acontecendo um show que tocava clássicos do rock e do blues. Infelizmente dessa vez, eu não estava munido da gaita. Ainda nos arredores do centro, visitamos o Centro Cultural Cazuza. Tivemos acesso à parte do acervo do artista, além de uma viagem no tempo naquele casarão histórico que passou por revitalização idealizada por Lucinha Araújo, empresária e mãe do poeta. Outro rolé incrível foi visitar o mirante da cidade. A vista é linda! Se ir para o interior já nos permite desintoxicar do caos metropolitano, ir a m local como esse é conseguir contemplar o silêncio ou apenas o sussurro do vento. Consegui uma foto bem legal com os cabelos ao vento, graças à Edna (Revista InFoco). A ideia era conseguir capturar o meu frame pairando no ar. Infelizmente, o meu joelho lesionado não colabora. Mas ganhei uma foto conceito!

Ford Mustang V8 exibido na Exposição de Carros Antigos / Foto: Alvaro Goulart

A Noite de Encerramento

O último dia de evento havia chegado. Após diversos filmes, entrevistas, críticas escritas, afters e muita, mas muita correria, fecharíamos nossa cobertura com mais um tapete vermelho e a cerimônia de encerramento. O dress code era black-tie, o que estava me preocupando. Eu não sou o James Bond para ter um smoking a disposição no armário. O custo do aluguel não cabia na minha realidade. E blazer que eu tenho me lembrou dos quilos conquistados na pandemia. No fim, até que eu me virei bem com um visual meio-termo entre Guilhermo del Toro e Steve Jobs, que me deu um ar de quem estava lançando meu primeiro best-seller no evento.

Chegamos com antecedência – todos lindos e bem trajados – e nos estabelecemos poucos passos antes do letreiro do evento. Garantimos as nossas fotos enquanto aguardávamos a chegada dos convidados. Famosos foram prestigiar o evento e aproveitei para entrevistá-los. O primeiro com quem conversei foi o Leonardo Medeiros, que me contou sobre sua predileção por Bye, Bye, Brazil e seu carinho por Lavoura Arcaica. Bárbara Borges e Iran Malfitano me contaram de suas memórias afetivas com Grease e ET, respectivamente. Maytê Piragibe, uma das apresentadoras da cerimônia, fez logo uma lista de filmes essenciais do cinema brasileiro. Caio Blat apontou Iracema – Uma Transa Amazônica devido ao seu caráter documental e a dinâmica entre atores e não-atores. Com Isabel Fillardis, pude saber como é para uma atriz ser dirigida por uma diretora mulher ou um diretor homem. Encerramos a entrada no tapete vermelho perguntando o filme nacional favorito à equipe de Terra Querida, um filme piauiense que estava concorrendo ao prêmio de Melhor Longa de Ficção. O diretor Franklin Pires contou sua relação com Os Saltimbancos Trapalhões e o ser artista. Os intérpretes Lua de Luzz e Lucas Nunes escolheram O Auto da Compadecida. Lucas ainda nos prestigiou com uma imitação perfeita do trapalhão Zacarias que nos arrancou muitas risadas.

Entrevista com Leonardo Medeiros / Foto: Adriano Jabbour

A cerimônia acabou começando com atrasos devido ao tempo no tapete vermelho. Os mestres de cerimônia Maytê Piragibe e Hugo Bonemer deram início à celebração. Grupos musicais regionais como o Octeto e o Tambores de Aço se apresentaram. Os tambores deram um show de brasilidade incorporando ao samba os steel drumms, instrumentos de percussão de origem caribenha. O octeto nos ofereceu versões em sopro de temas de filmes que ficaram eternos. Encerrando as apresentações musicais, o Fernando Starkey (aquele músico com quem me juntei com a gaita) trouxe a sua versão We Don’t Need Another Hero, de Tina Turner, que marcou a trilha musical de Mad Max – Além da Cúpula do Trovão. As premiações se iniciaram com a entrega dos prêmios anunciadas por convidados. Infelizmente houve um momento desafinado onde o ator Carlos Vereza trocou farpas com o prefeito de Vassouras. Mas foi superado pelo poema lindo lido pela Julia Lemmertz em homenagem à sua mãe, Lillian, além da homenagem à Rosamaria Murtinho. Um detalhe que me chamou a atenção foi a ausência de membros da equipe de algumas produções vencedoras. Seria legal poder ter mais depoimentos a respeito de seus projetos e sobre o reconhecimento de seus trabalhos.

A cerimônia acabou se estendendo pela madrugada, contando com quase 6 horas de duração. Ao fim, muitos lugares já estavam vazios. Muitos convidados ainda iriam se deslocar para o Festival de Ouro Preto (que teve a cobertura feita pelo Thiago Beranger) ou tinhas compromissos em suas agendas que também exigiam que deixassem a cidade logo pela manhã. Após a cerimônia, houve um breve coquetel.

No dia seguinte acordamos cedo, pois o ônibus iria partir por volta das 7h da manhã. Minha mala já estava arrumada para que eu não me atrasasse. Acordei ainda sem lembrar meu nome completo e fui garantir a refeição mais importante do dia. Os cafés-da-manhã com a galera da imprensa sempre são animados com muita conversa e descontração. Aquele, apesar de alguma bagunça, levava um clima de saudade e sono insuficiente. Esse clima de despedida ainda se manteve dentro do ônibus. Viajei ao lado da Laís dessa vez, quase gêmeos vestidos de rosa e lilás (Gi havia se despedido de nós na primeira leva do início da semana). Parte do sono foi recuperado durante o percurso de volta, mas muita gente veio conversando. A chegada no Aeroporto Santos Dummont carimbou o fim dessa experiência. Me despedi dos amigos que permaneceram no ônibus e, em seguida, dos demais que desembarcaram comigo.

É curioso o laço criado entre todos nós apesar do pouco tempo. A sensação é que vivemos deslocados no tempo e no espaço em uma realidade paralela. A experiência de interação foi praticamente a de um Big Brother, mas aqui a prova do líder era sempre para conseguir o volcher das refeições. Acredito que boa parte das amizades formadas na cobertura de festival vão ficar para a vida. Não à toa, ainda nos falamos e marcamos reencontros. Vou sentir saudade desses 9 dias intensos e loucos. Teve seus perrengues, seus percalços, mas foi uma experiência com saldo bem positivo. Só posso agradecer à organização e à assessoria liderada pela Flávia e pelo Luciano por cuidar de nós. Com certeza a 2ª Edição do Festival de Cinema de Vassouras marcou a minha vida!

Rebobinando o Filme em Alguns Anos

Eu sempre amei o cinema. Quando eu tinha 12 anos, eu saía do colégio para a locadora em baixo do meu prédio, onde ficava horas conversando sobre filmes. Lá foi meu primeiro emprego também. E possivelmente foi lá onde as primeiras centelhas de crítica começaram a farfalhar. Além das atividades comuns do comércio, eu compartilhava com os associados à minha visão sobre os filmes e os assessorava a encontrar o filme ideal para seus gostos. Nessa mesma época comecei a faculdade de jornalismo. A intensão era trabalhar na área cultural, mais especificamente com essa arte que tanto amo. Sonhava escrever minhas críticas e poder levar minhas experiências com filmes para aqueles que compartilham dessa paixão. Quem sabe até cobrir festivais e entrevistar realizadores, atores, atrizes e os demais profissionais que trabalham para que uma história seja exibida em tela. Ao longo da carreira, me enveredei pela publicidade, minha outra formação, chegando a participar de produções independentes no setor de áudio e de trilha musical. Eu vivi e ainda vivo o sonho que sonhei lá atrás. Espero que venham muito mais festivais pela frente, assim como muitos filmes para eu possa escrever sobre. Eu não pretendo acordar desse sonho tão cedo!

Eu, Alvaro Goulart, na noite de encerramento do Festival de Cinema de Vassouras / Foto: Adriano Jabbour

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