A seguir, a lista dos 10 melhores filmes brasileiros exibidos comercialmente, nos cinemas ou em plataformas de vídeo por demanda (Netflix, Net Now etc) em 2017. Portanto, estão excluídas as produções apresentadas somente no circuito restrito dos festivais. E não deixe de clicar nos links dos títulos para ler a crítica escrita.
10- Comeback – Um Matador nunca se Aposenta
Nelson Xavier (em sua último papel) interpreta Amador, um ex-matador de aluguel relegado ao ostracismo neste faroeste que retrata, com honestidade brutal, o efeito da passagem dos anos e o azedume de se sentir obsoleto e até inútil em um mundo que não valoriza o idoso. Neste mundo, Amador posa de matador e salvador, já que resgatou, através da bala, outros homens de enfrentar os anos derradeiros de sua vida.
O experimentalismo deste romance é recompensador caso você esteja disposto a mergulhar em sua linguagem narrativa heterodoxa e descobrir, através de sua simbologia, uma história de amor tradicional, cujas respostas não vêm com facilidade, embora ofereçam a rara oportunidade de o espectador raciocinar, com sua experiência de vida, sobre a arte diante de si.
O cinema brasileiro é especialista em andar na corda bamba que separa a ficção do documentário, e este trabalho debate o ofício de ator e a direção de atores para ilustrar até onde se estende a fronteira que separa quem somos de quem interpretamos. Em um ambiente incerto e desafiador, enxergam-se apenas os simulacros de Martha e Maria e as pessoas em que se transformam assim que a câmera é dirigida a elas.
7- Divinas Divas
Agradeçamos a Leandra Leal por abrir o baú de memórias de sua família e compartilhar a emocionante histórias destas Divas que, na década de 60, conquistaram o Brasil e o mundo com seu carisma e talento. Por ser tão íntima das biografadas e hábil entrevistadora, Leandra obtém histórias pessoais, comoventes e curiosas neste trabalho que pode ser definido como generoso.
6- Pendular
Este trabalho, que também se equilibra entre ficção e documentário, retrata de modo maduro, íntimo e simbólico a relação turbulenta entre o artista e o meio em que se insere e arte que produz, com ênfase no processo criativo. É ainda um trabalho sobre os nossos espaços e o equilíbrio, conceitos metafóricos confiados à inteligência e percepção do espectador, e como o processo devora o tumulto interno do artista para devolver-lhe, em troca, a paz em forma de arte.
Rosa é a Mulher-Maravilha do mundo real, equilibrando-se entre família, filhos, emprego e lazer para dar conta e encostar a cabeça no travesseiro com a sensação de dever cumprido. Uma produção realista, com gosto agridoce de autenticidade, sobre a busca pela felicidade e a posterior aceitação de que esta, nada mais é, do que a honesta imperfeição.
O escolhido pelo Brasil para representá-lo no Oscar de 2019 é uma história real sobre a fama desacompanhada do reconhecimento com uma atuação viril, energética e cheia de personalidade de Vladimir Brichta, e ainda uma decupagem cênica elogiável, com o uso da fotografia, das cores e do design de produção para emular a cafonice da década de 80.
Se cinema tivesse cheiro, o terceiro trabalho de Selton Mello na direção teria o de melancolia e nostalgia. Uma produção cujos personagens têm os corações cheios de sentimentos que parecem transbordar das telas, ao passo que a estética narrativa é inteligente ao contrapor os lados do quadro para retratar o olhar ao passado ou ao futuro. Bonito de se ver e gostoso de se sentir, é um filme com aroma de amor.
2- Gabriel e a Montanha
De modo simplista, é o Na Natureza Selvagem brasileiro com uma narrativa que já oferece ao espectador, desde o princípio, a certeza de que seu protagonista não sobreviverá. Isto permite que a companhia de Gabriel tenha a urgência dada a iminência de sua partida precoce, com a amargura e a saudades esperadas. Afora isto, a narrativa mistura elementos da ficção com o documentário de modo ainda mais ousado do que as produções que citei acima em um testemunho sensível e poético sobre as memórias de seu apaixonado e trágico herói.
1- Martírio
Palavras são incapazes de expressar a relevância artística deste trabalho antropólogo e indigenista, com um retrato empático do processo tortuoso de retomada das terras indígenas na posse de ruralistas que acreditam que o gado é mais importante do que gente. É um resgate histórico entrelaçado que apresenta o estágio da discussão social, midiático e parlamentar do processo de demarcação de terras, escancarando a indiferença com que a sociedade trata os povos nativos e o lobby da bancada ruralista no Congresso Nacional. Um documentário que desperta a revolta a partir do modo gentil e apaixonado com que se relaciona com seu tema.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.