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Nana

103 minutos

Melodrama indonésio articula o passado no país e drama doméstico

Kamila Andini’s elegant direction effectively adopts her protagonist’s point of view, integrating her trauma into the film’s narration. Played with subtlety by Happy Salma, the secretive Nana seems never quite certain about her husband’s death and her memories are, perhaps for her own good, not always complete. This ambiguity informs the film and, combined with lush cinematography and a deep sense of nostalgia, makes Nana an elegiac wonder. At its heart lies an unexpected female friendship that feels like a crucial lifeline among the sea of adversities caused by men’s brutality.

O conceito de melodrama precisa ser esclarecido quantas vezes necessário para que o leitor / espectador se conscientize de se tratar de um gênero cinematográfico de apelo popular significativo e não um adjetivo depreciativo utilizado como sinônimo de açucarado ou piegas ou mesmo maniqueísta. Desde a era de ouro de Hollywood até as novelas brasileiras, o melodrama se consolidou como uma forma de intensificar a emoção existente no interior da moldura de dramas ambientados, em geral, no interior das famílias. Melodrama é como a gasolina que incrementa o fogaréu, e é o gênero desejado pela diretora Kamila Andini no indonésio Nana.

Kamila não se envergonha das convenções do gênero; pelo contrário, abraça-as conscientemente sem receio de se aventurar em um terreno que pareça ou sugira parecer piegas. A direção apara o expressionismo da atuação para se concentrar em elementos formais e contextuais que evocam o melodrama, a exemplo das cores, da trilha sonora e da temática doméstica em um período de reflexão da perseguição aos comunistas havida no país. A história é repartida em dois períodos no tempo: em meados dos anos 60, após o golpe militar do General Suharto, quando Nana (Salma) foge em direção ao interior da floresta para evitar ser casada a força com um líder tribal; e no tempo contemporâneo, re-casada com outro homem (Darga), um comerciante Sundaneses embora desconfiando da fidelidade dele.

Nana trabalha, com capricho, figurinos e cenários de época

Kamila costura as linhas temporais, assim como os sentimentos conflitantes nelas existentes, de maneira hábil e sem deixar de sugerir que alguns eventos podem existir somente no imaginário da protagonista. A associação do conflito presente com o massacre de cerca de 1 milhão de pessoas apenas por terem relação com o comunismo soa desproporcional enquanto escrevo, apesar de a narrativa desarmar a objeção do espectador na re-significação do viver na condição de sobrevivente de Nana, que passeia por um turbilhão emocional. O público é levado a refletir, juntamente com ela, até que ponto se agarrar ao relacionamento extraconjugal do marido, dentro de uma vida confortável e aparentemente superficial, não ofende a personalidade de quem assistiu a mortes irracionais e vivenciou momentos de dor indizíveis. E, ao mesmo tempo, como é impossível valorar um sentimento, não importa qual banal seja.

É uma ideia articulada dentro de um gênero que servia de ópio para o povo durante as guerras mundiais, trazendo um drama menos profundo, mas encenado a plenos pulmões, que alienava por 2 horas o espectador preocupado com o caminhar do mundo. Eu vejo isto em Nana, um misto de resgate desta função profana do gênero que tem a aparência de apenas um drama doméstico. E não para aí, porque a narrativa aceita a magia da dúvida e a narração não confiável como um elemento formador da relação com a obra, na busca em dotar o drama de um significado conclusivo que até mesmo Nana não possui.

O melodrama também é caracterizado pela expressividade da iluminação

Assisti-la passeando por esta dupla existência é um convite à trilha sonora característica do país, assinada por Ricky Lionardi, que revela a dúvida da protagonista como resultado do choque entre instrumentos de sopro e corda. Enquanto isto, a fotografia de Batara Goempar ilustra através de cores fortes e bem expressivas (azul, verde) os signos visuais de um melodrama marcado por uma tentativa de uma mulher de encontrar sua posição no mundo (e também no tempo) em que está. Uma que a leva a evocar o corte do cabelo como um símbolo de uma tentativa em apagar ou ao menos esconder o passado – facilmente associável ao ato de cortar e tingir o cabelo do marido – até descobrir que a vida é o ato de aceitar o caminho percorrido, mesmo quando este tenha sido de dor.

Atualização: A atriz Laura Basuki, que interpreta Ino, recebeu o Urso de Prata de Melhor Atriz Coadjuvante pelo júri.

Keren, Laura Basuki Raih Silver Bear di Festival Film Berlinale 2022  |Republika Online – Suaraktual.com
Laura não estava na cerimônia e recebeu virtualmente o prêmio

Crítica publicada durante a cobertura do 72º Festival de Berlim/2022

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