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Gêmeo Maligno

The Twin

109 minutos

Família muda-se à Finlândia para fugir do trauma da morte do filho

O finlandês Taneli Mustonen é uma opção inusitada para dirigir um terror relacionado à maternidade, considerado que seus filmes anteriores eram comédias. Então, para desviar da inexperiência dentro do gênero, Taneli recorre a elementos genéricos, ainda que tenha a vantagem de um olhar menos viciado para encenar o terror competente Gêmeo Maldito

No roteiro, co-escrito por Taneli e Aleksi Hyvärinen, uma família sofre a tragédia de perder um dos filhos gêmeos após um acidente de carro. Como consequência do trauma da perda, Rachel (Palmer) e Anthony (Cree) decidem vender a casa onde moravam nos Estados Unidos e se mudam para o país de origem do marido, a Finlândia, em uma casa remota e rodeada de floresta e lago, ao estilo característico do gênero. Ao se estabelecerem no local, Rachel dedica atenção dobrada ao filho gêmeo sobrevivente, Elliot, enquanto Anthony se afunda no trabalho de escritor e começa a se relacionar com a comunidade local, menos acolhedora à presença de Rachel. 

As influências são variadas. O Iluminado, O Bebê de Rosemary, A Profecia e Midsommar estão dispersos dentro do espectro do terror e proporcionam o que a narrativa tem de melhor: a capacidade de combinar subgêneros sem que este anule aquele. A casa mal assombrada encontra a possessão demoníaca e o filho diabólico o terror de culto (folk horror) à medida que o roteiro avança e aumenta a confusão experimentada por Rachel. É que a personagem, além de começar a enxergar Nathan, o filho gêmeo falecido, na atitude e nos gostos de Elliot, também começa a ter sonhos (ou seriam premonições?) e sentir uma dor de luto tardio combinado com a hostilidade dos olhares disparados para si. Apenas Helen (Marten) mostra-se acolhedora, talvez por ser pária no meio, e atua como uma espécie de amiga e mentora para Rachel. 

Taneli guarda na manga as possibilidades que a combinação de subgêneros proporcionam, utilizando-a como um recurso para antecipar o espectador e manipular sua percepção dos eventos narrativos. Não há muitos sobressaltos (jump scares), e quando surgem, vem na forma clássica e paciente, não contemporânea e acelerada – até pela natureza da localidade onde está, em que o tempo parece ter sido congelado. A presença do sobrenatural ou do demoníaco é sugerida para não manchar a ambiguidade proposta pela narrativa a partir de dispositivos formais que refletem o mundo ao redor: os espelhos ou o lago fotografado para que reflita o contorno carregam o conceito de duplo ao pé da letra existente na essência de filhos gêmeos. 

Por falar neles, Tristan Ruggeri é o tipo de criança que, dependendo da caracterização, pode aparentar ser doce, inocente, macabra e ameaçadora. Já Steven Cree é mantido à distância em mistério, para acentuar o gaslight em como desacredita ou desvirtua os relatos da esposa, expandindo o isolamento comunitário para dentro de casa. Já Teresa Palmer apresenta cabelos brancos e olheiras pronunciadas que corporificam fisicamente o estresse emocional provocado pelo trauma. A isto, o desenvolvimento da personagem na narrativa que tenta afastá-la do centro de lucidez sempre que pode em direção ao precipício da insanidade ou da incapacidade de entender o que está acontecendo ao seu redor. 

Aí é onde o bom Gêmeo Maldito perde a direção, pois enquanto conservada sob o véu do ambíguo, em que o terror pode ser fruto da ação da comunidade (a exemplo dos filmes que citei como exemplo), da imaginação de Rachel ou da combinação de ambos, a narrativa adota a indeterminação como forma de manter o espectador inseguro do que está vendo. Até o roteiro explicar os eventos narrados e limitar as possibilidades que havia no final em aberto, em troca da certeza da verdade irrefutável. Até entendo a ideia por trás: o roteiro optou em levar, até a última consequência, a construção da protagonista – gosto do quadro final, dolorosamente melancólico – em detrimento da forma gaslight como o espectador havia percebido o terror até então, em simultaneidade com Rachel. 

Às vezes, a névoa da incerteza é melhor do que a certeza da tragédia. 

Gêmeo Maldito está em exibição nos cinemas!

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