O caçador alienígena invade a Terra no século XVIII
Tenho carinho pela criação de Jim e John Thomas, o caçador alienígena que acredita que a Terra é um safári de férias ou um campo de treinamento para passear invisível aos olhos nus. Com exceção do dueto de filmes Alien vs. Predador, mesmo as tentativas fracassadas de reboot com o personagem foram recebidas com bons olhares por mim, que curti em nível de entretenimento e escapismo. Então, talvez não fosse difícil me agradar com O Predador: A Caçada, prequel que retrocede 3 séculos quando a nação Comanche é encurralada pelo extraterrestre.
O roteiro é direto: Naru (Midthunder) é dona de habilidades muito além do curandeirismo, mas a aldeia apenas tem olhos para o irmão Taabe (Beavers), celebrado pelo caçador que é. Enquanto isso, Naru nota a presença do Predador, testemunha a caçada dele e tenta alertar os seus, embora ninguém acredite nela. Até ser tarde demais. A narrativa retroage ao cenário do clássico de 1987, a selva, a floresta ou o ar livre, e à encenação resumida ao ato de caçar.
Através de planos abertos, a direção de Dan Trachtenberg (do ótimo Rua Cloverfield 10) cria o suspense na interrogação de onde o Predador pode estar posicionado e camuflado dentro do cenário. Já através de planos fechados, a direção obtém o mesmo efeito, só que através do olhar do personagem que não sabe que pode ser atacado a qualquer momento. Assim, a dinâmica que alterna entre o ponto de vista do espectador que assiste à caçada, do personagem, que sofre os efeitos de ser a caça, e do Predador, através da subjetividade de enxergar através dos acessórios acentua a tensão do tipo de narrativa que antecipamos.
Pois é óbvio que Naru terá o dia em que enfrentará o Predador, cara a cara, mas em quais circunstâncias e qual o percurso que atravessará até chegar nesse momento são onde está o apreço da narrativa. A objetividade é admirável. Com 99 minutos, a narrativa estabelece a dinâmica daquela sociedade – comparável com a contemporânea -, a evolução da ação em que o Predador inicia caçando outros predadores (lobos, ursos, leões – termo empregado pela tribo para designer linces, imagino) e a atenção de Naru em notar, a cada ataque do alienígena, as armas empregadas pelo alienígena e formas de derrotá-lo.
É o filme que melhor trabalha, desde o original, a ideia de caça e safári de maneira ampla. A articulação do duo caça e caçador, a flexibilidade entre os pólos e a incerteza de sobreviver acompanham a narrativa, enquanto o lobo caça o coelho, o leão, os membros da aldeia, ou estes caçam para sobreviver. Da mesma maneira que a equipe de elite liderada por Dutch (Schwarzengger) aprendeu que a sobrevivência não é um parâmetro da força física, mas da astúcia, também essa narrativa enxerga a caça como estratégia. É isto que separa Naru da dezena de pessoas no caminho do alienígena, a capacidade de pensar com racionalidade, não instintivamente, no momento em que a vida dela está em perigo (ou não pensar como o castor do relato feito ao irmão).
Amber Midthunder, de ascendência nativa mexicana, reúne o atributo físico e o talento para guiar o espectador por entre os cenários deste thriller de ação que não deixa a desejar aos fãs do original e da icônica criatura do cinema. E é um barato, para o fã da franquia, notar como a tecnologia desta versão primitiva do Predador diverge do original, embora mantenha a letalidade e a ameaça. A tecnologia de camuflagem está menos eficaz e mais evidente, a visão de calor, idem, enquanto a máscara está alterada para ilustrar o quão primitivo ainda é em comparação com a máscara tecnológica das produções ambientadas no mundo atual ou no futuro.
O Predador: A Caçada, enxuto ao mínimo necessário, sem desprezar a mística que rodeia o personagem-título, é um passatempo tenso que mereceria o lançamento nos cinemas, onde poderíamos apreciar, ainda mais, a fotografia de Jeff Cutter e a encenação proposta por um diretor que honra as origens. Da série e também dos povos originários norte-americanos.
O Predador está disponível no catálogo da Star+
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.
1 comentário em “O Predador: A Caçada”
nao gostei das cenas em que o predador mata o lobo e o urso, achei desnecessário, fiquei com muita pena dos animais… para mim foi o pior filme da franquia, os dois primeiros foram melhores