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Empire of Light

Empire of Light

119 minutos

O vencedor do Oscar Sam Mendes escreve e dirige o Green Book de 2022

Tenho para mim que Empire of the Light é o Green Book: O Guia deste ano, em que um diretor de meia idade, branco e bem estabelecido na indústria de cinema (o vencedor do Oscar Sam Mendes, de Beleza Americana e 1917), pretende aliviar o sentimento de culpa através de uma história, ambientada na década de 80, crítica à xenofobia e ao preconceito inglês, mas também agregadora em como promove o cinema como um ponto focal em que as pessoas oprimidas podem encontrar consolo, não salvação, umas nas outras. Visto por este ângulo, Empire of the Light poderia até ser concorrente dentro da corrida da temporada de premiações se não tivesse sido recebido de maneira morna pela crítica e pelo público.

Na maior parte do tempo, o roteiro escrito por Sam Mendes acontece no interior do cinema de rua localizado na costa sul inglesa que dá nome ao filme, aberto e fechado por Hilary (a vencedora do Oscar Olivia Colman, de A Favorita e A Filha Perdida), que retornou introspectiva de uma clínica para tratamento da saúde mental. Isto não é obstáculo para que o gerente do estabelecimento Sr. Ellis (Colin Firth) a convoque para favores sexuais no escritório – um assédio subentendido por aqueles que dividem o mesmo espaço de trabalho, a exemplo do diligente projecionista Norman (Toby Jones). A rotina do Empire muda com a contratação do imigrante centro americano Stephen (Micheal Ward, da série Top Boy), que é acolhido com o calor no interior do cinema que não encontra nas ruas racistas da cidade. Quem mais sente o reflexo da chegada de Stephen é Hilary, cuja amizade romântica inusual ajuda-a a enfrentar o cotidiano opressivo. 

Bem intencionado, Sam Mendes discorre acerca de uma mulher de meia idade, depressiva, institucionalizada por supostamente ser esquizofrênica e que é vítima de abuso (ao menos de assédio) no ambiente de trabalho e do jovem imigrante negro, vitimizado e agredido por odiosos xenofóbicos, com dificuldade em pertencer àquele país estrangeiro. É fácil perceber onde está o erro, mas antes que alguém critique o lugar de fala, o problema não é que Sam Mendes não deva falar sobre essas personagens, é que deveria evitar o discurso simplista, óbvio e auto congratulatório que permeia a narrativa. 

Sabe como é possível perceber isto? Na narrativa fora de tom, em que cenas que deveriam ser fortes, foram recebidas com sorrisos. Não que a tragédia não possa ser enxergada pela lente da comédia, mas é que prefiro acreditar que a intenção de Sam Mendes não era que o assédio sexual desastrado cometido pelo Sr. Ellis ou que o racismo do homem que mastiga seu salgadinho e engole sua bebida na frente de Stephen não fossem recebidos com risos tímidos de canto de boca. Até há espaço para intervenções bem humoradas, e estas têm o seu lugar ao sol dentro da narrativa, mas é que cenas iguais a essas que mencionei não tiveram o tratamento que mereciam. 

A narrativa é embaraçosa na forma como Hilary é enxergada com o cabelo desgrenhado e o dente sujo de batom (que clichê horripilante) ao subir no palco do cinema, não convidada, para declamar um poema antes da première de Carruagens de Fogo, com direito (claro) à microfonia. Sam Mendes é igualmente desinteressante em como sequestra o cinema como o espaço de empatia ao enfocar a dupla Gene Wilder e Richard Pryor como um comentário do relacionamento entre Hilary e Stephen. E a amizade romântica só não é mais forçada do que como está escrita no roteiro porque é trabalhada por atores competentes, que tirar leite de pedra para dar contornos aos personagens. 

Aliás, Empire of Light apenas não desaponta se concentrarmos nossa atenção na fotografia de Roger Deakins e no elenco. Deakins idealiza as cenas corriqueiras de diálogos como se ocorressem dentro de minúsculas salas de cinema ao ar livre, com a luz externa e os atores em contraluz, como se o sol ou a iluminação justificada ou cênica substituíssem o projetor de cinema naquele momento. Se o cinema é a ilusão de vida real e a vida é a matéria prima do cinema, então é discretamente eficiente que os personagens sejam enxergados como se fossem estrelas de suas vidas. 

Já o elenco, ainda que Empire of Light tenha a cara de que irá sobrar na temporada de premiações, não há não como não destacar a atuação de Olivia Colman, pálida, alheia mas ainda a dona de instantes de intensidade ao esbaforir o sentimento aprisionado dentro dela. Já Micheal Ward parece perder, pouco a pouco, o otimismo e a força de vontade em lutar contra a maré do preconceito, até reencontrar a exuberância no olhar. Já Toby Jones é mais um a entrar no clichê do projecionista como este sujeito recluso e super protetor dos filmes, até descobrirmos mais sobre os sentimentos que o movem. Quanto a Colin Firth, seu papel é enxuto demais para ser descartado apenas como o chefe opressivo e desprezível da vez. 

Desprezível mesmo será caso Empire of Light belisque as indicações que devem ser de filmes melhores, mais ousados e ambiciosos e menos caretas e óbvios. 

Empire of Light estreia nos Estados Unidos em dezembro e não tem data prevista de estreia no Brasil.

Filme assistido no 47º Festival Internacional de Toronto

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