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Luther – O Cair da Noite

2.5/5

Luther: The Fallen Sun

2023

129 minutos

2.5/5

Diretor: Jamie Payne

Idris Elba retorna como o detetive Luther para um jogo de gato e rato com um serial killer pelas ruas de Londres

“Ninguém consegue usar máscaras por muito tempo” – Sêneca

O celular toca. Uma voz desconhecida ameaça revelar um segredo obscuro de um jovem. Desesperado, ele segue as instruções e desaparece. O que havia de tão horrível ou constrangedor que não poderia ser revelado? Não importa.

Em uma cena de crime nos deparamos com Luther (Idris Elba) tentando juntar as peças desse quebra cabeça. Para alguns, o detetive é um velho conhecido – não é o meu caso. Nessa mesma cena, sem nenhuma máscara, já identificamos o antagonista interpretado por Andy Serkis, misturado na multidão.

Se em um filme policial, parte da graça em assisti-lo está em tentar descobrir a identidade do criminoso, em qualquer história, seja ela do gênero que for, somos envolvidos pelos personagens e no esmiuçar de suas camadas com o desenrolar da trama. Em Luther – O Cair da Noite, essas experiências nos são ceifadas sem nenhum pudor. Em poucos minutos, os melhores segredos são confessados de forma verborrágica, seja pela câmera ou pelo que é dito pelos personagens. É possível dizer que o último ato do filme se revele logo nos créditos iniciais.

John Luther é um policial durão old school, não se acanha em trocar balas por punhos, remendar ferimentos, interrogar com violência os suspeitos ou cruzar limites pra pegar o bandido. Muito me lembra representantes de outrora do subgênero, como Charles Bronson e Clint Eastwood. Ele também se mostra um detetive cerebral, trazendo um pouco do método dedutivo de Sherlock Holmes e a psicologia forense de Mindhunter. Outra característica poderia ser observada ao longo da narrativa, mas foi logo expressa pelo vilão nos primeiros 5 minutos: Luther é um policial analógico, reforçando o aspecto oitentista do personagem.

O diretor não cansa de construir a imagem de Luther buscando espelhar a de outro detetive famoso: Batman. Sua imagem é enaltecida como a de um super-herói vigilante, no alto de um prédio observando a cidade – Londres, não Gothan. Dessa vez, sem capa ou máscara.

Luther não se exibe em redes sociais, então só resta ao antagonista escancará-lo ao colocar a máscara de vilão sobre o detetive. É aí que o filme deixa de lado seu viés investigativo e aposta na ação. O trecho em que o mesmo se converte brevemente em um excelente filme de prisão nos apresenta as melhores cenas de luta. O jogo de gato e rato até que não fica morno após o protagonista escapar da gaiola, ainda que o longa perca um pouco do ritmo.

A chegada de outra jogadora, a detetive Odette Raine (Cynthia Erivo), perseguindo Luther em sua caçada seria um componente interessante se não soasse tão estereotipado. Me incomoda a forma quase mesquinha com que a personagem é apresentada. Odette está mais atenta em capturar o detetive do que o assassino. Isso tudo parece seguir uma cartilha ultrapassada em que a figura feminina, quando tenta “fazer o trabalho dos homens”, mais atrapalha do que ajuda.

Serkis está acima do tom. Seu vilão é um assassino narcisista que usa o “desmascarar” as vítimas como a tortura psicológica que antecede a física. Por mais bufão que intencionalmente pretende ser, toda a construção de seu personagem é caricata – inclusive o penteado digno de Donald Trump. Tenho a impressão de que o fato de ser tão barulhento é apenas para que todo o ruído mascare o roteiro esburacado de uma trama cujas verdadeiras motivações não existam. Toda arquitetura e transmissão das mortes não passam de um espetáculo de espaços vazios.

A obra nos convida a compartilharmos a fantasia de vigilantes. Os planos aéreos da cidade nos coloca no papel de deuses observando tudo de cima. Ao mesmo tempo penso a respeito do olhar curioso e julgador sobre os segredos da vida alheia expostos nas redes sociais. Em um nível acima – ou abaixo – existem aqueles que se fascinam e pagam para observar a desgraça alheia: o voyeurismo da barbárie. Se, de fato, a intensão do filme foi trazer essa discussão…ficou apenas na intensão.

O filme até nos chama atenção para buscar conhecer a série da BBC. Contudo, como obra independente se apresenta preguiçosa. Para um primeiro contato com o personagem, algumas informações são jogadas. Questiono se teríamos a compreensão total caso tivéssemos acompanhado o seriado, ou se trata de um furo de roteiro. Outras, só nos tiram o prazer de tirar nossas próprias conclusões. Por fim, a máscara que caiu foi a de uma trama cujo potencial foi desperdiçado, se revelando apenas um entretenimento que imagino não fazer jus ao material original.

Luther – O Cair da Noite já está disponível na Netflix.

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