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Banel & Adama

2.5/5

Banel & Adama

2023

87 minutos

2.5/5

Diretor: Ramata-Toulaye Sy

Não é comum que a estreia de diretores figure na Seleção Oficial do Festival de Cannes, e sim na mostra Um Certo Olhar, que tem este enfoque, ou até em outras paralelas (Semana da Crítica e Quinzena dos Cineastas). Então, havia alguma expectativa em torno das razões por que Banel & Adama, a estreia em longas-metragens da senegalesa Ramata-Toulaye Sy, estivesse na Seleção Oficial. E ainda que não tenha me deixado levar por essa expectativa (ao menos creio nisso), é difícil não permanecer com a pulga atrás da orelha do que levou a curadoria a escolher a obra.

Banel (Khady Mané) e Adama (Mamadou Diallo) estão juntos porque a tradição exige que o irmão caçula case-se com a viúva do irmão mais velho. Agora, inseparável, o casal sonha em desenterrar uma vila soterrada para estabelecer a sua família, distante da cobrança da comunidade de que Adama assuma o papel que é esperado dele, o de chefe da aldeia. No entanto, o plano do casal é frustrado com a estiagem e os efeitos deletérios resultantes, que são atribuídos, pelos anciões da vila, à recusa de Adama em aceitar o papel da tradição.

A base de romances iguais a Banel & Adama é a química entre os personagens e o conflito dramático que deve ser enfrentado e superado para que permaneçam juntos. Quanto mais a química seja palpável e mais convincente o conflito, maiores as chances de êxito da obra. Deste modo, o que achei mais interessante na narrativa é como a mesma tradição que uniu o casal é também a tradição que ameaça separá-los. A tradição é aceita pela metade, ou na parte que é conveniente, sobretudo se considerada a atitude rebelde de Banel, pois Adama resigna-se. Banel exige que o amado coloque-a à frente da comunidade, pedido que não irá atender.

Enquanto Adama viaja cada vez mais longe para conduzir o gado esquelético a bolsões de água, através da terra seca e areia grossa, Banel permanece na vila, restrita às ocupações esperadas das mulheres. O afastamento emocional é acentuado pela distância física, pois o exausto Adama não pode honrar a promessa de desencavar a vila onde desejavam morar. A perspectiva onírica estabelecida no início da narrativa é vulnerada pela realidade brutal da estiagem. No realismo poético estabelecido pela diretora, o que haviam construído juntos na base de esforço e comunhão, é facilmente recoberto pela tempestade de areia. E o rebanho decora a paisagem com seus cadáveres. 

A poesia também é eficaz em substituir a chuva – presente divino, dentro da lógica narrativa – por elementos humanos, físicos e táteis: a transpiração, as lágrimas e até mesmo o cuspe. É o que resta de líquido em uma realidade seca, e talvez seja a razão de a diretora focalizar árvores com raízes aparentes, que praticamente se desnudam ao espectador para revelar o esforço em alcançar água nos lençóis profundos, do mesmo modo que Banel esfola a alma em razão do amor que sente por Adama.

Apesar de poética, ao custo de um ritmo desgastante em 87 minutos, a narrativa parece-me egoisticamente infantil. Ao menos o comportamento de Banel, que compreende a dimensão coletiva da missão que é confiada a Adama, mas não que seja o amado que a realize. Esta mesquinhez é atenuada em razão do amor – quem não quer estar junto de quem se ama? -, mas não resiste à análise de que, ao longo da narrativa, a tradição não seja uma inimiga do casal. 

Crítica publicada durante a cobertura do Festival de Cannes 2023.

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