A riqueza de espécies que a fauna brasileira possui é um terreno fértil para a imaginação e para a criação de histórias infantis deliciosas. Não é surpresa que um estúdio brasileiro consiga se inspirar nos animais típicos de nosso território para trazer uma animação repleta de cores e bom humor. O que me surpreende é como eu não tinha conhecimento da trupe de Tromba Trem, ainda mais quando ela já possuía uma série de televisão própria desde 2011, e que já passou por canais como TV Cultura, TV Brasil, Cartoon Network e Tooncast.
No seu primeiro filme, acompanhamos o elefante indiano amarelo Gajah se tornar uma celebridade instantânea após ter uma dança de comemoração divulgada. Ele acaba se tornando uma figura de interesse de Mirella Miramontes, uma gata apresentadora de um festival, e Silas, seu assistente gorila. Apesar de seu jeitão desengonçado e carismático, Gajah acaba se tornando o principal suspeito de uma onda de desaparecimento que assola a região.
Antes de seu sucesso meteórico, Gajah era um elefante desmemoriado que acabou fazendo parte da tripulação de um trem comandado pela Rainha Cupim, que persegue obsessivamente um dirigível que acredita ser a “nave mãe” de sua espécie. A maioria dos tripulantes do veículo sobre trilhos são cupins, com destaque para o Capitão, que guia a nave, e de Junior, o filho gênio da rainha. Outra figura que compõe a equipe é Duda, uma tamanduá vegetariana, a melhor amiga de Gajah.
Tromba Trem tem um humor genuinamente brasileiro, capaz de divertir tanto os pequenos quanto os mais crescidos. Muitas piadas e personagens fazem referência a figuras e situações familiares ao cenário nacional. Toda essa intimidade com o que é exibido em tela só faz com que a identificação com a animação seja ainda maior. Além disso, a dublagem do desenho é magnífica! O texto que já era engraçado acaba sendo amplificado pelas vozes dos personagens. Em especial a de Ed Gama, que dá vida ao calango nordestino. Marisa Orth e Elisa Lucinda também são figuras conhecidas que são facilmente identificadas durante a dublagem.
O longa traz uma trama interplanetária como pano de fundo das desventuras de Gajah e seus amigos. E se inspira em clássicos da ficção científica como Guerra dos Mundos, de H. G Wells. Esses elementos alienígenas acabam se mesclando à história de origem do elefante, e acabam revelando alguns mistérios presentes na trama como de que maneira um elefante indiano acabou caindo no cerrado brasileiro e o que aconteceu com os humanos.
Apesar de possuir traços simples, os personagens de Tromba Trem possuem características bastante distintas e atraentes, como o chapéu de marajá que levita sobre a cabeça do protagonista paquiderme. Os cenários também são bastante coloridos e mostram um pouco dos vários biomas que o Brasil possui. Talvez o que mais chame atenção à animação é o seu dinamismo. A maioria e suas sequências são repletas de movimento e, inclusive, exploram as possibilidades de uma animação para ampliar a graça de uma piada ou de uma situação escatológica vivida por seus personagens. Tromba Trem acabou se revelando uma deliciosa surpresa que me arrancou risadas ao longo de sua hora e meia de duração.
Tromba Trem: O Filme foi exibido na 2ª Edição do Festival de Cinema de Vassouras e está disponível no streaming Disney +.
JORNALISTA E PUBLICITÁRIO. Cresceu no ambiente da videolocadora de bairro, onde teve seu primeiro emprego. Ávido colecionador de mídia física, reune mais de 2 mil títulos na sua coleção. Já participou de produções audiovisuais independentes, na captura de som e na produção de trilha musical. Hoje, escreve críticas de filmes pro site do Cinema com Crítica e é responsável pela editoração das apostilas do Clube do Crítico.
