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Sequestro do Voo 375

4/5

O Sequestro do Voo 375

2023

107 minutos

4/5

Diretor: Marcus Baldini

No dia 29 de setembro de 1988, Raimundo Nonato Alves da Conceição, um tratorista recém desempregado e amargurado com o cenário político e econômico do Brasil, sequestra o voo 375 da VASP que partia de Belo Horizonte em direção ao Rio de Janeiro. A intenção do sequestrador era que a rota fosse desviada para Brasília para jogar o avião sobre o Palácio do Planalto e, com isso, matar José Sarney, presidente da república nessa época. O que o impediu de concluir seu plano foi a calma do piloto Fernando Murilo Lima e Silva, que ainda aproveitou momentos de distração de Raimundo para fazer manobras arriscadas com o avião e, com isso, desarmá-lo. O incidente, apesar de ter caído em esquecimento aqui no Brasil, chegou a ser usado como base por Osama Bin Laden no episódio das Torres Gêmeas.

O filme reconstrói o dia do piloto do avião, dando também um pano de fundo ao sequestrador. Ao trazer um contexto de desespero e miséria familiar para sua atitude extrema, o longa garante um olhar humanizado sobre a figura de Raimundo Nonato (Jorge Paz). Não que busque justificar suas ações, mas retira dele o peso meramente vilanesco que costuma recair sobre personagens nessa posição em filmes hollywoodianos. Jorge Paz consegue imprimir o nervosismo ao sequestrador, mostrando que apesar de ter planejado a ação, não possuía o controle da situação. A tensão naquele espaço claustrofóbico era amplificada por seus gritos e disparos. Em contrapartida, vemos o piloto Murilo (Danilo Grangheia) tentar controlar o caos que domina a aeronave enquanto controla o manche. Gangheia está muito bem no papel. A angústia de seu personagem é sentida em seu olhar, respiração e pela força que imprime sobre os controles do avião. Também é possível se sensibilizar quando informa sobre o estado de seu melhor amigo.

O piloto Murilo tentando manter o controle apesar e estar sob a ira do revólver de Raimundo/ imagem: divulgação

O pânico dos passageiros e do resto da tripulação também é sentido. Toda a encenação nos insere naquele cenário em que esperamos que mais tiros sejam disparados (afinal, Raimundo possuía noventa balas consigo para recarregar seu revólver calibre .38). O primeiro disparo que desfigura a orelha de um comissário foi um anúncio de que o sequestrador não mediria as consequências para alcançar seu objetivo. Somos colocados em meio aos passageiros e podemos acompanhar até os planos de um trio de passageiros japoneses de conter o agressor. Uma das cenas mais dramáticas é a remoção do corpo do copiloto Evangelista, alvejado na nuca enquanto fazia contato com a central de controle. O choro da chefe dos comissários interpretada por Juliana Alves nos faz lembrar que aquele é um personagem real, dotado de história, família e sonhos.

É interessante que o diretor Marcus Baldini não concentra a tensão do filme apenas no ar. Por se tratar de uma ameaça nacional, existe a discussão sobre abater ou não o avião. Sarney é uma figura presente ainda que fora de campo e seus conselheiros rivalizam entre si e com a figura do delegado vivido por Gabriel Godoy – que está irreconhecível. A disputa entre poderes é interessante, já que até o caça responsável por escoltar ou abater o boeing com seus cem tripulantes chega a aparecer durante o sequestro. Também é mostrada as ações na central de controle, em que uma das operadoras acaba sendo responsável pela negociação, além da comunicação com o piloto e o sequestrador. É nesses momentos que extrapolam o espaço do avião que o filme exibe suas vulnerabilidades. Existe um excesso de diálogos que se prolongam a respeito das tomadas de decisão no alto escalão, assim como uma plasticidade exagerada em colocar os líderes das forças armadas como homens que desprezam a vida daqueles presentes na aeronave. Outro incomodo que o filme provoca é a necessidade de inserir frases de efeito, que enaltecem o tom heroico do piloto, ou as de superioridade daqueles de configuram o topo da cadeia de comando. Ainda assim, o trecho da operação de invasão da aeronave já em terra é muito bem produzido e tão realista quanto as cenas nas alturas. 

Um pouco do caos durante as manobras com a aeronave / imagem: divulgação

Sequestro do Voo 375 é o primeiro filme desse gênero feito no Brasil, e contou com orçamento de aproximadamente 15 milhões. O alto investimento permitiu à produção ter a disposição recursos tecnológicos que proporcionasse uma experiencia imersiva ao espectador. Além disso, as filmagens foram feitas em um avião boeing, conferindo ainda mais realidade ao projeto. Como uma pessoa que morre de medo de viajar de avião – quase choro na decolagem e aterrissagem – posso afirmar que as cenas das manobras do avião em que, inclusive, ele é mergulhado em direção ao solo, são tão realistas que me fizeram ter um princípio de ataques de pânico. O slow motion também foi um recurso muito bem empregado para amplificar a dramaticidade no clímax. No que tange a verossimilhança da experiência dentro do espaço da aeronave, o filme é impecável! Mas para vivenciar a experiência de reencenação desse que foi “quase um 11 de setembro brasileiro” é necessário assisti-lo na tela grande dos cinemas.

O Sequestro do Voo 375 foi exibido no 25º Festival do Rio e tem sua estréia nos cinemas prevista para dezembro.

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