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Mostra Competitiva Nacional de Curtas Comentada

Em seu penúltimo dia, o 1º Festival de Cinema de Xerém contou com a exibição Mostra Competitiva Nacional de Curtas, uma sequência de produções independentes produzidas com orçamentos de editais.

A seguir, a ficha técnica dos curtas-metragens que compuseram a mostra junto aos comentários sobre cada um deles:

EMERENCIANA

2023

12 minutos

Direção: Larissa Nepomuceno

Atores: Eliana Brasil, Larissa Nepomuceno

Gênero: Drama

Roteiro: Gabriela Araújo

O deslumbrar de uma estátua em Curitiba revela uma história de resistência.

Como tornar hipnotizante o olhar sobre uma estátua em pleno caos de uma metrópole? Emerenciana consegue esse feito tirando diversas camadas de apagamento enquanto revela a identidade daquela figura por muitos desapercebida. Emerenciana Cardoso Neves tinha nome e sobrenome, também tinha uma história rica em arte e luta. Ainda assim, seu valor histórico e social é desbotado com a alcunha de “Maria Lata D’Água”. O documentário nos instiga a descobrir mais sobre essa mulher a cada ângulo, cada detalhe que faz explodir no enquadramento. Mas quando a câmera se coloca em meio aquela população de transeuntes, se deslocando sem questionar o conhecimento dessas pessoas sobre a história do monumento, é acaba convertendo o documentarista em uma espécie de cúmplice da massa. Também conta com intervenções da artista Eliana Brasil, trazendo uma camada poética à obra. Talvez coubesse uma postura mais combativa, que confrontasse aqueles que por ali passam e escolhem não notar aquela imagem. Mas o filme é o que se propõem a mostrar, e não aquilo que acreditamos que deveria ser.

FIRMINA

2023

15 minutos

Direção: Izah Neiva

Atores: Teca Pereira, Aysha Nascimento, Babu Santana, Mel Soulz, Mario Alves, João Bosco

Gênero: Drama

Roteiro: Adelmo Passos

Uma pintora idosa, ao mudar-se para seu novo apartamento, fica presa e incomunicável. Ao ouvir os gritos de socorro vindo do andar de baixo, ela precisa correr contra o tempo para salvar a vizinha.

Firmina consegue trazer contundência e ao mesmo tempo delicadeza ao tratar a questão da violência doméstica. Mais do que converter o lar em uma prisão, o silenciamento das figuras femininas é algo gritante dentro da narrativa. Teca Pereira incendeia a tela com sua atuação e nos comove até com os gestos mais simples. A escolha da atriz como a heroína idosa da trama foi uma escolha acertada da diretora. Ainda mais quando consegue explorar potência e vulnerabilidade simultaneamente. Tudo em Firmina é bem pensado: As rimas visuais, o design de produção, a iluminação, os enquadramentos…até um aceno à Psicose pode ser observado. Izah Neiva consegue trazer diversas camadas de reflexão à sua obra enquanto deixa o espectador com o olhar fixado em tela através da tensão.

O curta recebeu os troféus Zeca Pagodinho de Melhor Atriz (Teca Pereira), Melhor Fotografia, Melhor Roteiro, Melhor Filme e Melhor Filme pelo Juri Popular, além do Prêmio Edna Fujii.

Confira a entrevista com a diretora Izah Neiva. Clique aqui.

Ligação Anônima

2024

5 minutos

Direção: Thiago Mendes

Atores: Barbara Amaral, Letícia Orozimbo, Thiago Mendes, Frances Gonf

Gênero: Terror

Roteiro: Irmany de Sá, Thiago Mendes

Sozinha, após brigar com o namorado, Manuela começa a ser atormentada por ligações anônimas misteriosas de alguém que se passa pelo seu ex-namorado desaparecido, Rafael. Manuela terá que sobreviver ao terror provocado pelas misteriosas ligações, mas descobrirá que certas obsessões não têm fim.

O curta de Thiago Mendes conversa diretamente com Pânico, de Wes Craven. Ligação Anônima é consciente das convenções do Slasher, como a final girl e, é claro, o uso de jump scare.  O roteiro até abraça os mesmos clichês como a queda de luz ou a falsa primeira aparição do assassino. A autoconsciência sobre os recursos disponíveis acabou trazendo soluções criativas, como o uso de luz azul para superar a limitação da câmera em cenas escuras – quase como uma noite americana, mas com efeito prático. O ponto baixo do filme é a tentativa expositiva de criar um pano de fundo mais elaborado para o ex-namorado agressor. Não havia necessidade de explicar seu desaparecimento em um acidente…o comportamento stalker já era ameaçador o suficiente.

LUBRINA

2023

17 minutos

Direção: Leonardo Hetch, Vinicius Fernandes

Atores: Glau Soares, Luci Maia, Geovan Moreira

Gênero: Ficção

Roteiro: Leonardo Hetch, Vinicius Fernandes

Joana viaja para o quilombo onde sua avó nasceu. Sua chegada é marcada pela aparição de um nevoeiro.

Lubrina é um filme para ser sentido através da imagem. Mas ainda assim, é um filme que exige determinado contexto do expectador para que seja plenamente absorvido. Isso porque Lubrina aborda a questão da ancestralidade e vivência quilombola – distantes de mim, enquanto branquitude. Apesar disso, algumas leituras semióticas são percebidas, como a textura opaca que transmite o sentimento de não-lugar experimentado pela protagonista. Também é possível perceber sua transformação no reencontro com esse espaço até então desconhecido, mas que lhe devolve acolhimento e conforto. A névoa – a “lubrina” que dá nome ao curta – é mais um elemento que compõe a narrativa, funcionando como um espaço transitório e ao mesmo tempo intrínseco aquela comunidade. A “lubrina” é um duplo daquela mulher: um corpo que vaga em direção ao seu espaço devido. É interessante como essa nebulosidade permite com que o filme ganhe um teor onírico, quase etéreo. Essa nova camada é intensificada pelo ritmo contemplativo da narrativa. Percebemos que, naquele lugar, o tempo não é vivido de maneira convencional. Lubrina, desafia nosso olhar por tudo aquilo que nos escapa, mas ainda assim nos envolve de uma maneira que não conseguimos racionalizar.

O curta recebeu os troféus Zeca Pagodinho de Melhor Montagem e Melhor Direção.

Confira a entrevista com a atriz e preparadora de elenco Glau Soares. Clique aqui.

QUINTAL

2022

15 minutos

Direção: Mariana Netto

Gênero: Animação

Roteiro: MIRÁ – Núcleo de Animação da Escola de Belas Artes -UFBA

Diadorim, uma menina sonhadora, e Riobaldo, um alegre passarinho azul, constroem amizade e liberdade em um terreno abandonado, esquecido pela cidade grande. Inspirado na obra de Manoel de Barros.

Quintal nos oferece um mundo colorido e repleto de texturas através de sua animação. Ao acolher a música em detrimento ao diálogo, seu entendimento passa a ser universal. A história de Diadorim e Riobaldo possui apenas os nomes em comum com os personagens de Graciliano Ramos. Aqui o mundo é fantástico e infinito apesar de limitado ao espaço de um tereno baldio na grande selva de pedra. A sinergia entre os dois pequenos personagens dá ordem ao caos metropolitano, conseguindo até mesmo transformar o barulho da cidade em uma agradável sinfonia. Por mais que o traço empregado se distancie, a maneira lúdica com que a animação se comunica me remete à outra também sobre a experiência e o olhar infantil sobre a vida: O Menino e o Mundo. Contudo, Quintal não busca reflexões existencialistas mais profundas, tão pouco quer camuflar em sua forma um subtexto trágico. Quintal positivamente nos oferece escapismo e encantamento através de uma história de amizade e da alegria inocente que dela ressoa.

O curta recebeu o troféu Zeca Pagodinho de Melhor Roteiro.

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1 comentário em “Mostra Competitiva Nacional de Curtas Comentada”

  1. Pingback: Bate Papo com Izah Neiva, diretora de Firmina • Cinema com Crí­tica

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