Ator veterano relembra suas raízes no Cinema Novo enquanto admira a nova safra de cineastas independentes

O homenageado do 2º Festival de Cinema de Xerém foi o veterano Antônio Pitanga. Com mais de 60 anos de carreira, o ator coleciona uma vasta trajetória no cinema. Na Boca do Mundo, uma de suas obras como diretor, é considerada um marco do cinema negro brasileiro. Recentemente, Pitanga concluiu Malês, um filme histórico que reencena a Revolta dos Malês. O longa teve sua première no Festival do Rio de 2024, mas ainda não tem previsão de estreia no circuito comercial.
Na noite de abertura do festival, o ator chegou preenchendo o ambiente com sua vivacidade. Concedeu entrevistas exclusivas para os canais de televisão, e seguiu para o auditório onde aconteceria a cerimônia. O troféu Zeca Pagodinho foi entregue pelas mãos de Sérgio Assis, idealizador do evento e diretor da EBAV – Escola Brasileira de Audiovisual. Com o “Oscar da Baixada” em mãos, Pitanga se emocionou ao falar sobre sua relação com Zeca Pagodinho e sua família, a importância do incentivo à arte e como o festival contribui para a preservação da memória de Xerém. De acordo com o ator, antes de um diretor filmar e falar sobre o mundo, ele deve direcionar seu olhar para seu bairro, sua cidade, sua comunidade.
Após a cerimônia, foi exibido o documentário Pitanga (2016), codirigido por sua filha, Camila Pitanga, em parceria com Beto Brant. O filme aproxima o olhar do espectador de Antônio Luiz Sampaio – nome de batismo do ator – e de seu convívio com familiares e amigos. Também reconstrói, por meio de conversas, os bastidores do Cinema Novo. Alternando esses registros com imagens de arquivo e trechos de filmes, a obra funciona como uma biografia do cinema brasileiro, além de um retrato íntimo de Pitanga.
Após a exibição, o ator participou de uma sessão de fotos ao lado de Sérgio Assis e de Luiz Carlos da Silva, presidente do Instituto Zeca Pagodinho, que também foi homenageado pelo festival. Antes de se retirar, Pitanga concedeu um breve comentário aos jornalistas sobre suas expectativas — uma chama ainda ardente daquele cinema de guerrilha que se formou na época de Glauber Rocha — e sobre a nova geração de cineastas que está se formando. O homenageado expressou grande emoção e ternura ao ver jovens em Xerém produzindo cinema e documentários sobre suas realidades locais, algo que remete ao seu próprio início na década de 1950. Ele ressaltou que a cultura no Brasil sempre foi feita na base da guerrilha, ou seja, da resistência e da vontade. Pitanga comparou o Festival de Cinema de Xerém a iniciativas que se tornaram grandes, como o Festival de Gramado, e acredita que o evento tem potencial internacional. Valorizou ainda o papel de figuras como Zeca Pagodinho e sua família na promoção da cultura e do cinema.
Quando questionado sobre a emoção de levar para casa o “Oscar da Baixada”, o troféu Zeca Pagodinho, o ator respondeu:
“Muito, muito feliz! Estou consagrado, né? É uma revisitação de reconhecimento da minha carreira, né? E valioso, né? Porque eu vejo o Luizinho batalhando, vejo o Sérgio batalhando, salteando e fazendo esse segundo festival. Então (…) não é a música que está me dando, é um troféu de cinema, né? É o troféu do Zeca Pagodinho! Então, o que eu quero mais? Eu acho que cada momento desse tem um significado. E esse tem muito mais, porque é da família Pagodinho, que faz música, que faz cultura, que faz cinema, tá entendendo? Tá aí. Então eu acho que é isso pra mim, é um dia de festa!”
Perguntei se ele sabia que o troféu recebeu carinhosamente a alcunha de “Oscar da Baixada”. O veterano esbanjou seu sorriso e brincou que aquele era muito mais humano:
“Olha a barriguinha, esse é verdadeiro, esse Oscar é humano.”
Por fim, Rafael Camacho perguntou a respeito das expectativas sobre Solidez da Água, longa encabeçado pela atriz portuguesa Maria de Medeiros. Pitanga afirmou que ainda é uma surpresa. A nova produção é uma adaptação de uma peça de teatro que ele mesmo já estrelou. O ator usou como comparação o filme Medida Provisória, uma adaptação dirigida por Lázaro Ramos da peça Namíbia, Não!.

JORNALISTA, PUBLICITÁRIO E CRÍTICO DE CINEMA. Cresceu no ambiente da videolocadora de bairro, onde teve seu primeiro emprego. Ávido colecionador de mídia física, reune mais de 3 mil títulos na sua coleção. Já participou de produções audiovisuais independentes, na captura de som e na produção de trilha musical. Hoje, escreve críticas de filmes pro site do Cinema com Crítica e é responsável pela editoração das apostilas do Clube do Crítico. Em 2025, criou seu perfil, Cria de Locadora, para comentar cinema em diversos formatos.