Usando esse trágico incidente para elaborar um estudo de personagem sobre três policiais, “os melhores do Brooklyn”, e não para buscar resolver o mistério (inexistente) do assassinato, o roteiro da produção tem como protagonista Sal (Ethan Hawke), um policial competente, mas despreocupado com a taxa de natalidade de sua família (já são 5 filhos e a mulher está grávida de gêmeos). A fim de sustentar a sua família, Sal rouba o dinheiro da droga e considera-se sem redenção, o que permite que a direção de Antoine Fuqua invista em um contra-plongé, parecida como se fosse a visão dos céus daquele homem.
Já Eddie (Richard Gere) é o clichê do veterano policial na expectativa de se aposentar. No entanto, Gere, um ator de limitações óbvias, traz ao papel algo fundamental: a expressão cansada de quem já viu coisas demais. Sem ter se destacado na polícia – ele permanece na mesma função em que ingressou – Eddie é apenas um distintivo e reconhecer a sua insignificância é o que o leva a tomar certas ações no terceiro ato.
Finalmente, Tango (Don Cheadle, excelente) é um policial infiltrado em uma gangue do tráfico e tem a sua lealdade questionada pela polícia quando evita armar uma emboscada contra Caz (Wesley Snipes), traficante que salvou sua vida. Mas, em uma má decisão do roteiro, o assassinato no final do segundo ato, impede que Tango seja melhor explorado.
Abundante em clichês policiais, a narrativa é parcialmente bem sucedida graças à qualidade das atuações. Porém, mesmo que seus protagonistas ajam de forma cruel, muitas das vezes eles têm amparo humano seja na família de Sal ou nos valores de Tango, o que acaba pintando em preto e branco um mundo recheado de tonalidades cinzas.
E se Fuqua conhece o bê-a-bá do gênero, ele falha ao conceber um final dependente de muitas coincidências que só não funciona como anti-clímax pelo impacto dramático que ele provoca. Recriando uma selva de homens que fazem tudo em noma da lei que criaram para suas vidas, Atraídos pelo Crime é um retrato inconveniente e satisfatório de uma Nova York pintada no vermelho do sangue inocente derramado e nas luzes das sirenes das viaturas policiais.
Avaliação: 3 estrelas em 5.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.