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Crítica | Padre


Enorme desperdício da graphic novel coreana de Min-Woo Hyung, Padre é um amontoado de clichês livremente adaptado, para confirmar isto basta mencionar a ambientação pós-apocalíptica e a natureza vampírica dos inimigos, mas carente de boas ideias para funcionar. Na verdade, usurpando o conceito original e transformando em um filme de ação anencéfalo, a narrativa perde a ramificação religiosa transformando-se no sujeito perfeito para sofrer uma excomunhão definitiva.

Dirigido por Scott Charles Stewart, o sujeito responsável por uma besteira colossal chamada Legião, e escrito pelo novato Cory Goodman, o prólogo de Padre é bastante promissor: remontando a um período de guerra entre humanos e vampiros e o surgimento de um exército de pessoas dotadas de poderes especiais, os Padres, Jedis de batina e cruz tatuada na testa, a animação dos créditos iniciais merece elogios porque é um dos poucos momentos autenticamente originais da narrativa, não em matéria conceitual, mas na excentricidade dos traços desenhados e no surrealismo das batalhas retratadas. Depois, somos apresentados ao resultado da guerra contra vampiros, em uma sociedade distópica tomada pela Igreja e sediada na Cidade Catedral (a versão gótica do Vaticano), cujo poder totalitário oprime o cidadão nos dizeres “ir contra a Igreja é ir contra Deus”.

Fazendo analogia com o Catolicismo, o personagem interpretado por Christopher Plummer certo instante consagra um cálice de vinho em uma cerimônia. Há ainda confessionários espalhados pela cidade, nos quais os cidadãos expurgam e expiam seus pecados. Referindo à sua batalha como uma “cruzada”, uma guerra entre fiéis e infiéis, santos e pecadores, em uma versão assustadora do futuro, Padre nada mais tem de original: os telões espalhados pela cidade que anunciam euforicamente a palavra da igreja remetem aos de V de Vingança, o pós-apocalipse retoma filmes similares, como Mad Max, sobretudo na conjunção futurismo e deserto.

Com uma paleta de cores lavadas, imagens granuladas e locações no deserto, o diretor de fotografia Don Burgess faz um bom trabalho em justapor a escura Cidade Catedral, um antro de imoralidade e crime, e não de meditação como apregoa, com a colmeia de vampiros. Isto eleva o deserto imediatamente a uma posição mais confortável por ser mais quente e iluminado do que aqueles outros ambientes.

Por sua vez, a trilha sonora de Christopher Young não evita cair no óbvio de recorrer a temas ecumênicos, inclusive usando o réquiem de Mozart em um momento capital da narrativa – o porquê, porém, de Black Hat reger os movimentos dos vampiros como um maestro permanece um mistério. Falhando em se estabelecer como diversão escapista de ação, Scott Stewart parece não saber se usa câmera lenta, cortes secos ou planos gerais para contar sua ação que padece de enorme falta de personalidade, mesmo contando com participantes inusitados. Nesse sentido, a batalha em uma reserva ou dentro de uma espécie de prisão, bem como o clímax em que três personagens agem em conjunto para proteger a cidade, tornam-se momentos aborrecidos e nada empolgantes.

Sem saber usar o 3D – reparem quando um vampiro chega totalmente desfocado no segundo plano -, Scott Stewart não resiste em arremessar objetos além da tela para assustar o público, mostrando-se imaturo ao ignorar as possibilidades que a técnica permitiria na sequência sobre o trem.

Contando com personagens fracamente desenvolvidos e cujas motivações carecem de maior concretude, as interações são pontuadas por diálogos bobos e requentados, o homem que antes de morrer pede ao Padre para “matar todos” é um baluarte nesse sentido. Nem mesmo Paul Bettany, normalmente competente, se destaca, ainda que ele não tenha tempo para fazer nada, já que Scott Stewart ao menos se revela piedoso, pois com só 80 minutos de duração, nem dá para cansar muito nesta bobagem.

Avaliação: 2 estrelas em 5.

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