Nascido de uma cesariana praticada em meio a uma guerra, Conan cresceu para se tornar um forte, arrogante e destemido bárbaro. Treinado por seu pai Corin (Ron Perlman), no combate e no manejo da espada, ele presenciou a morte dos habitantes de sua aldeia pelas mãos Khalar Zym (Stephen Lang, o Coronel Miles Quaritch de Avatar), que buscava a última parte de uma coroa que lhe dará poderes para dominar todos os povos. Adulto, quando é interpretado por Jason Momoa, e quase ao acaso, ele decide se vingar de Khalar.
A começar pelo inusitado resgate de pessoas que seriam vendidas como escravas e a prisão inusitada, por razões que sequer os três roteiristas desconfiariam, o roteiro de Conan é uma colcha de retalhos que rivaliza apenas com a (falta de) habilidade de Marcus Nispel na direção ou o inexistente carisma de Momoa no papel principal. Assim, o público tem dificuldades em entender o desejo de vingança do cimério, pois suas intenções surgem ou despropositadamente ou em diálogos informais com o amigo Artus no qual afirma que existe algo que tem que fazer sozinho. Portanto, se a única forma de descobrir o paradeiro de Khalar Zym seria a prisão – e enfiar o dedo na cavidade nasal de alguém, argh -, por que Conan não providenciou isto antes? Simples, porque os roteiristas precisam da dívida de honra do ladrão Ela-Shan no clímax.
Apesar disto, Conan poderia ser divertido caso Marcus Nispel não tivesse faltado as aulas do curso de direção. Causando gargalhadas não intencionais em cenas supostamente grandiosas, vê-se Corin erguer o seu filho (em meio a uma sangrenta e impiedosa batalha), tal como se ele fosse o Rei Leão, ou um vilão, cujo destino é a morte, fingir que está dormindo para escutar a conversa de Conan e Tamara (Rachel Nichols). Além disso, Nispel é responsável por “pensar” o esconderijo do artefato debaixo de tábuas soltas, por ilustrar Martinique (Rose McGowan) buscando dentre mulheres qual é a sangue puro (detalhe: a garra usada para este fim mistura o sangue de todas, contaminando a busca) ou por um close no olhar amedrontado de uma criatura de areia na queda sobre um monte… de areia.
Temporalmente, o filme não se saí melhor e é difícil compreender se a ação transcorre em semanas, dias ou horas. Depois de raptada (na manhã) por Khalar e levada a seu castelo, Conan tem tempo de ir (caminhando) à cidade dos ladrões e voltar ao castelo antes do amanhecer. Finalmente, quando os diretores aprenderão a ser mais originais nos urros e grunhidos das criatures? Ou alguém espera que um suposto polvo gigante emitiria ensudercedores sons de onde estava?
Reconhecidamente um metrossexual, Jason Momoa desfila pêlos aparados e a sobrancelha delineada, enquanto olha de cima para baixo todos os seus interlocutores. Por outro lado, embora Stephen Lang seja obrigado a babar (coitado) ou repetir frases capengas como “vou matá-lo com a própria espada do seu pai”, ele consegue desenvolver um vilão minimamente interessante cujos objetivos vão além da mera dominação de tudo.
Afora Lang, pontualmente existem outros elementos legais, como a direção de arte que cria um rochedo com o grande formato de uma caveira, os efeitos especiais na recriação das grandes cidades à distância e o ágil ritmo interno. É muito pouco, porém, para os fãs da obra de Robert E. Howard ou do filme original.
Que saudades de Arnold Schwarzenegger.
Update: não assisti o filme em 3D, mas aparentemente os efeitos especiais na versão convertida estão péssimos.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.
3 comentários em “Conan, O Bárbaro”
Achei engraçado o emprego do termo "violência gráfica" para falar do mundo real. Na verdade, violência gráfica é outra coisa, é a forma com que ela é apresentada esteticamente no filme.
Fora isso, gostei da crítica e concordo bastante com ela.
Abraço!
Schwarzenegger é classico,..e Momoa é fodastico.
esse sim soube criar um Conan quase indentico ao dos quadrinhos q eu leio desde de criança.
parabens Momoa
Então, cara.. respondendo: escreverei sobre Conan amanhã (estou atrasado, mais uma vez), mas realmente gostei da sua crítica, com a qual concordo bastante (apesar de eu achar que gosto ainda menos do filme que você).
Quanto a minha sugestão, foi só um toque, mas entendi o que você quis dizer sim.
Abraço!