Os 22 anos que separam Jumanji: Bem-vindo à Selva do original estrelado por Robin Williams e Kirsten Dunst foram suficientes para dissipar o menor traço de memória, afetiva inclusive, que eu ainda tivesse. Mas, se o fator esquecibilidade não argumenta em favor da produção de 1995, ao menos pode ajudar esta continuação com cara de reboot a ter identidade própria.
Isto se percebe desde a trama que, em vez de importar Jumanji ao mundo real, faz exatamente o oposto, transporta seus jogadores à selva, como o título deixa claro. É o que acontece com o nerd Spencer (Wolff), o jogador Fridge (Blain), a popular Bethany (Iseman) e a antissocial Martha (Turner) quando são enviados, por razões irrelevantes à trama, para a detenção, onde descobrem o videogame antigo em que se transmudou o jogo de tabuleiro enterrado na areia no longa anterior. Não demora para que a curiosidade envie este Clube dos Quatro a Jumanji no corpo dos avatares escolhidos no início do jogo, até porque os produtores não investiriam mais de 100 milhões de dólares em uma produção se não tivessem uma desculpa para contratar nomes do calibre de Dwayne Johnson, Kevin Hart, Jack Black e Karen Gillan. E após aquele tradicional estágio introdutório em que os personagens se aclimatam com toda a situação e descobrem que o jogo é mais real do que imaginam, eles partem em uma missão para devolver uma pedra preciosa e acabar com a maldição provocada pelo asqueroso Van Pelt (Cannavale).
Para tanto, o diretor Jake Kasdan (de Sex Tape: Perdido na Nuvem e Professora sem Classe) e os roteiristas Chris McKenna e Erik Sommers (de Homem-Aranha: De Volta ao Lar) e Scott Rosenberg e Jeff Pinkner (de Venom) precisam bolar uma maneira de adaptar à linguagem cinematográfica a lógica dos videogames. O resultado permanece no meio-termo: de um lado, as cut-scenes servem as vezes dos flashbacks e das inserções de Van Pelt enquanto planeja seus próximos movimentos e os personagens não-jogáveis, mesmo municiados de uma inteligência artificial limitada, oferecem as informações que os jogadores (e a trama) precisam para seguir adiante; do outro, contudo, o menu dos personagens com suas habilidades e fraquezas não obedece a lógica dos games, com o intento de ter mais cenas de humor, ao passo que a subdivisão em fases evidencia a estrutura episódica narrativa.
Também insatisfatório, o contador da quantidade de vidas dos personagens fracassa em qualquer que tenha sido seu propósito para ser apenas um elemento anti-climático. Não sentimos apreensão em assistir a Bethany ser devorada por um hipopótamo e Spencer ser empurrado do precipício, já que ambos têm vidas suficientes para gastar, criando o momento esperado no clímax em que eles terão somente uma vida e deverão usá-la com sabedoria (reforçando a mensagem de auto-ajuda deixada pelo diretor do colégio). E isto nem faz tanta diferença, pois a narrativa introduz o recursos de transferir vidas de um personagem ao outro, além de que jamais chegamos a duvidar de seu sucesso; e, por mais que saibamos que os mocinhos não irão ser derrotados pelo vilão – porcamente concebido e interpretado com canastrice por Cannavale -, não custa nada criar a ilusão de que isto pode ocorrer.
Não funcionando no quesito aventura, a narrativa encontra redenção na comédia despretensiosa: a química entre Dwayne Johnson e Kevin Hart proporciona momentos divertidos, ao passo que, individualmente, ambos dominam a comédia de troca de corpos, este através da tagarela e constante observação de que perdeu sua habilidade atlética, aquele, do contraste entre o avatar brutamontes e o nerd covarde que o controla. Por sua vez, Jack Black é talentoso o bastante para contornar a tolice e infantilidade de certas cenas e proporcionar o humor que delas se esperava; e se a inexpressividade de Karen Gillan é um obstáculo para a narrativa, até por ela ser, externamente, a única mulher do grupo, ao menos Jake Kasdan sabe transformar esse defeito em comédia.
E mesmo que a duração inchada ultrapasse o bom senso para esse tipo de aventura e o roteiro não resista ao exame mais cuidados (afinal, como Alex poderia vencer o jogo sozinho se ele nem tinha a pedra preciosa?), Jumanji: Bem-vindo à Selva ao menos é animado e engraçado para servir de passatempo descompromissado. Um que, em menos de 20 anos, eu já terei esquecido completamente.
Crítico de cinema filiado a Critics Choice Association, à Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Online Film Critics Society e a Fipresci. Atuou no júri da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo/SP, do 12º Fest Aruana em João Pessoa/PB, do 24º Tallinn Black Nights Film na Estônia, do 47º TIFF – Festival Internacional de Cinema em Toronto. Ministrante do Laboratório de Crítica Cinematográfica na 1ª Mostra Internacional de Cinema em São Luís (MA) e Professor Convidado do Curso Técnico em Cinema do Instituto Estadual do Maranhão (IEMA), na disciplina Crítica Cinematográfica. Concluiu o curso de Filmmaking da New York Film Academy, no Rio de Janeiro (RJ) em 2013. Participou como co-autor dos livros 100 melhores filmes brasileiros (Letramento, 2016), Documentário brasileiro: 100 filmes essenciais (Letramento, 2017) e Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais (Letramento, 2018). Criou o Cinema com Crítica em fevereiro de 2010 e o Clube do Crítico em junho de 2020.
1 comentário em “Jumanji: Bem-vindo à Selva”
Eu também pensei que era uma boa produção. É um ótimo filme porque combina comédia, ação, aventura e um pouco de romance. Eu gostei muito. Eu acho que o sucesso de Jumani Bemvindo A Selva é muito devido ao grande elenco, é bastante reconhecido por seu excelente trabalho. Eu particularmente adorei o desempenho de Jack Black, já que ele é quem, sem dúvida, acrescenta um toque de brilho à história. Eu definitivamente recomendo.