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Bumblebee

Bumblebee

114 minutos

Mesmo com mais de 12 horas de material filmado (766 minutos para ser exato), Michael Bay não atingiu um décimo do comprometimento emocional alcançado pelo diretor Travis Knight (da animação Kubo e As Cordas Mágicas) em Bumblebee, com somente 114 minutos. “Ah, mas este não era o objetivo de Michael Bay”, responderá o fã mais cri-cri da franquia, então deixa eu acrescentar: Travis Knight também dá uma aula em matéria de direção, enfim conseguindo retratar o peso (físico, sobretudo) nas lutas entre robôs gigantes, sem recorrer à montagem picotada e incompreensível típica do cinema de Bay ou a dezenas de personagens que não dizem para o que vieram, com o único intento de engordar a trama sem torná-la menos trivial e simplória do que sempre foi.

E escrita por Christina Hodson, a trama de Bumblebee é também simples; entretanto, nunca tola. A milhões de anos-luz, durante a guerra que destruiu Cybertron, B-127 foi enviado à Terra a fim de encontrar porto-seguro aos Autobots e seu líder, Optimus Prime. Depois do primeiro contato com os soldados da área 7 liderados por Jack Burns (Cena, na tentativa de se fabricar um novo Dwayne Johnson), B-127, gravemente ferido, disfarça-se como fusca e pára em um ferro-velho em uma cidadezinha da Califórnia. Lá é descoberto pela adolescente Charlie (Steinfeld), órfã de pai, e que, na iminência de seu aniversário de 18 anos, acredita que concluirá o conserto do carro herdado, símbolo de sua independência e liberdade. Como já ocorreu em clássicos do naipe de E. T. – O Extraterrestre, Charlie e B-127, que rebatiza como Bumblebee por causa do zumbido que emite e da cor amarela, estabelecem uma amizade, mantida em segredo da família e, claro, do governo, em que ambos suprem as lacunas sentimentais uns dos outros.

Apesar de esse tipo de relacionamento haver se tornado clichê na narrativa cinematográfica, a maneira com que se desenvolve não é. Isto se deve às decisões do roteiro, e agora Bumblebee deixou de ser somente o acessório por meio do qual Sam (Shia LaBeouf, do original) tentava ser popular e azarar mais garotas, para agir como um substituto do vazio deixado pela figura paterna na forma do amigo que Charlie jamais teve. A cena em que ela chora ao som de Elvis Presley, na companhia do robô, alcança uma franqueza sentimental jamais atingida na franquia, do tipo que incita a identificação imediata do espectador, mesmo que a narrativa às vezes exagere na pieguice (como quando acompanha Charlie preparando-se para saltar novamente).

Mas não é o caso de Bumblebee ser somente o melhor dentre de seus pares, uma tarefa facílima se considerarmos que, com exceção do primeiro, apenas um entretenimento razoável, todos os demais figuraram na minha lista de piores do ano, inclusive nas primeiras posições. Sob qualquer parâmetro, a prequel é uma ótima aventura fantástica, com o coração posicionado no lugar certo e introduzindo personagens femininas fortes e independentes (heroína e vilã): Charlie é hábil em atravessar o bullying, sem insistir na vingança tão típica como (falso) sinal de superação, as inadequações familiares e o romance-ish com o vizinho, sem que este sequer ouse subtrair o essencial da narrativa. Já Shatter (voz de Angela Bassett, na versão original, e Paola Oliveira, na dublada) é mais do que apta a tomar suas próprias decisões e defendê-las contra a contestação de seu aliado, Dropkick.

Um outro charme da produção está em resgatar a aparência dos anos 80 (a trama passa-se em 1987): a fotografia de Enrique Chediak emprega uma paleta de cores amarelada, símbolo óbvio do personagem-título, como também do sol californiano e da aparência queimada da narrativa, para fugir da óbvia camada sépia. Enquanto isso, a trilha sonora de Dario Marianelli acomoda-se sutilmente à seleção musical que navega entre canções de The Pretenders a The Smiths. Já o visual dos robôs remete aos brinquedos clássicos, conferindo-lhes a aparência mais infantil ausente nos episódios anteriores (que queriam ser levados a série mesmo que, vejam só, tratavam de robôs gigantes alienígenas!). Por outro lado, como nem tudo são rosas, o roteiro tem problemas tão perceptíveis quanto é Bumblebee se escondendo na areia: Charlie e Memo invadem com tremenda facilidade uma base militar (algo que os jornalistas não conseguem fazer ou sequer tentam), além de a protagonista aparentemente ser indestrutível, pois constantemente é arremessada de um lado para outro, inclusive como resultado de explosões, sofrendo nada mais do que alguns arranhões. Aliás, as cenas envolvendo militares são um tanto embaraçosas porque não conseguem transmitir a importância daquele contato extraterrestre, senão através de um cientista maluco (Ortiz, que é o típico personagem que Michael Bay adoraria ter consigo).

Ainda assim, o talento de Hailee Steinfeld, que cativa e entusiasma com a naturalidade da grande atriz que é, e a forma com que Travis Knight injetou sentimento em uma franquia mais mecanizada do que seus personagens-título, lubrificando nossos canais lacrimais no processo, tornam Bumblebee o choque de vida que Optimus Prime e companhia precisavam para, finalmente, retornarem em grande estilo aos cinemas.


 

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