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Velozes e Furiosos X

4/5

Velozes e Furiosos X

2023

141 minutos

4/5

Diretor: Louis Leterrier

“Ele não sabia que era impossível. Foi lá e fez.” – Jean Cocteau

Já tem um tempo que a franquia Velozes e Furiosos deixou de ser apenas sobre carros tunados e rachas. Com o avançar dos filmes, a família foi crescendo e assim também a ousadia para superar desafios. Os rivais evoluíram de meros corredores audazes para criminosos internacionais e corporações de procedência duvidosa. Enquanto isso, os laços familiares seguem sendo responsáveis por amarrar os filmes ao longo dessa corrida que já dura pouco mais de vinte anos. O eterno retorno que vive a equipe de Dom (Vin Diesel) está sempre relacionado ao resgate de algum membro do seu clã ou da vingança de algum parente de um antigo desafeto. Em seu décimo filme, o roteiro não desbrava outro caminho.

Velozes e Furiosos X rebobina a trama aos acontecimentos do quinto filme da franquia, que se passa aqui no Rio de Janeiro. Durante o roubo do cofre, o narcotraficante Hernan Reyes (Joaquim de Almeida) acaba morrendo. Contudo, seu filho Dante (Jason Momoa) consegue sobreviver e jura vingança e sofrimento contra Toretto e sua família — que surpresa!

Jason Momoa está excelente! Muito confortável no papel do terrorista cínico e rancoroso. Os momentos de Dante em tela são um dos mais divertidos do longa. Momoa traz todo seu carisma para construir esse vilão bruto e ao mesmo tempo flamboyant. Estrategista, violento e debochado. O vilão de Momoa é cínico e sádico ao mesmo tempo. Mas não precisa ser uma figura sombria para desequilibrar o personagem de Vin Diesel. Pelo contrário! Abusa de cores e só falta dançar diante do protagonista. Dante é quase uma versão “maromba” do Coringa. De longe, um dos melhores antagonistas da série.

Momoa como Dante, o extravagante antagonista

A franquia Velozes e Furiosos já provou que nem o céu é o limite. A equipe de Dominic Toretto além de exímios pilotos de carros, são exímios lutadores, arquitetos de planos de fuga e até mesmo hackers. Se no primeiro filme eles são apenas corredores de racha, em Velozes e Furiosos X eles praticamente superam os Vingadores.  Thanos munido das Joias do Infinito não é nada comparado à Vin Diesel e um carro. E ele faz questão de deixar isso claro no filme. Hipérboles à parte,  é louvável que mesmo nove filmes depois, a ação siga sendo fundamentada na direção carros potentes.

Cypher (Charlize Theron) e Letty (Michelle Rodriguez) são poderosíssimas e uma das sequencias de luta mais bem coreografadas envolve as duas personagens. Outro que não deixa a desejar no filme é John Cena. Na pele do mais velho dos irmãos Toretto, Cena reencena seus movimentos dos tempos de WWE ao mesmo tempo que traz leveza quando assume o papel de tiozão gente boa. O resto da equipe, confesso que fica um pouco deslocada da trama. Meros peões no jogo de gato e rato.

Há muito tempo que Velozes e Furiosos faz questão de superar o imaginário do público seja pelo desafio às regras da física ou na destruição de patrimônios. Tudo pensado para que o espectador consiga imergir dentro da tela e se sinta participante da ação como se estivesse no banco carona de um dos carros.  Apesar de alguns cortes abruptos na montagem caótica, o uso de drones nas filmagens de planos sequência trazem algum equilíbrio sem que o filme perca o ritmo eletrizante ou se torne confuso. Até o recurso do Slow Motion é utilizado para que nos sintamos abraçados pelo calor das explosões e pelos fragmentos de vidros estilhaçados.

É sensacional que o filme não se leve a sério e assuma essa característica na construção de cada sequência de ação. Em especial, a cena de perseguição à enorme bomba em Roma é um divertido pastiche de Os Caçadores da Arca Perdida. A assinatura do contrato de suspensão temporária de descrença é constantemente invocada. Seja pelo constante desafio às leis da física, ou pelo diálogo quase que missionário de Dom: “Acredite” — Vale lembrar que o clã Toretto tem quase a mesma capacidade de converter opositores que o cristianismo.

Sequências de ação com carros potentes não faltam

A série Velozes e Furiosos ainda não conseguiu retratar o Rio de Janeiro da forma com que um carioca se sinta identificado. A cidade que tinha potencial para ser um personagem dentro da história, segue sendo apenas uma pintura de fundo. E, novamente, soa como um pastiche (Na moral, aqui não é “quebrada”. Aqui é “favela”, tá ligado?). Acho que só reconheço a Ludmilla, com a naturalidade de quem “chega chegando”.

Se a franquia Velozes e Furiosos rompe com a seriedade paralelamente com o conceito de “impossível”, o mesmo não se pode dizer do personagem de Vin Diesel. Por incrível que pareça, Dom é o ponto fraco da trama. Não pelas cenas de ação, mas por não transmitir a leveza que o longa merece. Se os demais podem rir de si mesmo, seja através de uma briga quase colegial ou por bolinhos batizados, me pergunto por que o personagem de Diesel precisa ser sempre enaltecido na tela. Seu discurso motivacional é tão fervoroso que chega a ser cafona. Ainda mais quando os demais personagens parecem rir das próprias frases de efeito. Vin Diesel acredita em cada uma das palavras que profere e, dessa forma, soa desafinado.

Vin Diesel sempre imponente e em destaque no quadro

Velozes e Furiosos X seria impecável como o filme mentiroso de ação envolvendo carros que pretende ser se não carregasse o peso de seu protagonista. É um legítimo entretenimento, um escapismo da realidade monótona do dia-a-dia. Mas infelizmente seu principal representante ainda não se deu conta disso. Talvez a única coisa que Dom saiba ouvir seja o ronco dos motores em tempos onde eles nem sejam mais tão necessários para garantir a diversão.

Velozes e Furiosos X está em exibição nos cinemas.

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