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Homem-Aranha: Longe de Casa

Homem-Aranha: Longe de Casa

129 minutos

Mais um epílogo de Vingadores: Ultimato e a conclusão dos 22 filmes do universo cinematográfico da Marvel do que a continuação de Homem-Aranha: De Volta ao Lar, Longe de Casa já inicia situando o espectador no mundo após o “blipe” – como a juventude apelidou o sumiço de metade da população e, 5 anos depois, seu reaparecimento súbito e com a idade com que haviam virado poeira -, para então exibir o memorial do Homem de Ferro, da Viúva Negra e até do Capitão América, presumidamente morto. Seria cafona caso a proposta de Jon Watts, que dirigiu o antecessor, não fosse de homenagear as viúvas dos vingadores, dentre elas o próprio Peter Parker como nerd que é, enquanto também tira sarro da comoção generalizada ao som de Whitney Houston, com uma montagem que, desconfio, um fã da Marvel bolaria de olhos fechados.

Dentro deste contexto e como em toda aventura do aracnídeo que se preze, Peter (Holland, mais a vontade no papel) permanece amargando a ausência de sua versão de Tio Ben, Tony Stark, e começa a questionar a empolgação inicial de ser super-herói, colocando a frente a vontade de aproveitar a juventude e estar com a garota que ama, Mary Jane (Zendaya, apagada). Uma viagem à Europa é a oportunidade para que o rapaz declare seu amor – na Torre Eiffel, claro -, curta seus amigos e, por uma semana, aposente a responsabilidade que o uniforme lhe traz. Se esta premissa parece familiar, talvez seja porque foi objeto de um dos melhores representantes do subgênero, Homem-Aranha 2 (de Sam Raimi), reciclada ou, melhor, diluída no roteiro de Chris McKenna e Erik Sommers, que também escreveram o anterior.

O texto começa com a chegada de Nick Fury (Jackson) e Maria Hill (Smulders) no México, após a devastação provocada por um ciclone com rosto humano, vencido por Quentin Beck, o Mysterio (Gyllenhaal). Este afirma ser da Terra-833, uma dentre tantas no multiverso, e se voluntaria a enfrentar criaturas denominadas Elementais que destruíram seu planeta e agora ameaçam o nosso. Com a ajuda de Peter, que logo enxerga nele traços de Tony Stark, Mysterio ajuda a derrotar aqueles seres e proteger cidades europeias, e não demora para que parte da opinião pública comece a imaginá-lo como um Vingador.

É um dos temas principais da sequência: a forma como o desamparo, a paranoia social e o anseio por uma normalidade que jamais retornaria após tudo o que aconteceu possibilitam o aparecimento, dentro da sociedade, de mitos salvadores da pátria a fim de substituir aqueles que somente sobrevivem na memória afetiva e artística, em ilustrações feitas nos muros da rua ou em documentários biográficos. “As pessoas precisam acreditar e, hoje em dia, elas acreditam em qualquer coisa”, afirma certo personagem, na alusão evidente à sociedade da (des)informação e de como as fake news se tornaram parte, praticamente indissociável, do cotidiano.

Diante disso, é estimulante reparar como a narrativa rima sempre que pode com Homem de Ferro, a maioria das vezes, em alusões óbvias, como ao tocar Led Zep… digo AC/DC, ou na conclusão da primeira cena pós-créditos que estabelece o contraponto ao desfecho daquele filme. Também é marcante como Tony Stark permanece “vivo” mesmo após seu sacrifício, como um legado positivo pelo que inspira Peter a ser, mas também negativo, que somente falta rastejar para fora do túmulo como um morto-vivo ególatra que não deseja ser esquecido.

Ou esta é a percepção que Peter tem do peso da responsabilidade que aceita com relutância. A propósito, se pensarmos no amadurecimento do personagem desde Guerra Civil até esta continuação, teremos a figura de um adolescente irresponsável, empolgado em estar diante do Capitão América, embora seja como adversário, e que seguiu, por impulso, o Homem de Ferro ao espaço em Guerra Infinita, e ainda do garoto que temeu morrer após ser soterrado pelo Abutre ou daquele que, de fato, morreu e agora enxerga com clareza qual o encargo de ser super-herói, tanto que defende sua identidade secreta a todo custo.

Tenta, pelo menos, pois o roteiro apresenta problemas irremediáveis, como na cena em que Peter acompanha Mysterio ao bar… vestido com seu uniforme e sem máscara. A propósito, a trama esquece que até os gêneros fantásticos rejeitam soluções simplórias, e, apesar de a sequência na Holanda ser divertida ao ilustrar uma qualidade daquele povo, basta pensar nela por dois minutos para enxergar a preguiça dos roteiristas em encontrar alternativa melhor. Desleixo que também os segue no desenvolvimento dos personagens coadjuvantes, relegados ao terceiro plano ou ao que convir ao roteiro, ou na segunda cena pós-créditos, que põe em cheque o funcionamento do dispositivo EDITH e, principalmente, a participação de dois personagens essenciais à trama.

E, por mais que o roteiro e a direção estejam de parabéns em evitar que um sujeito com um aquário na cabeça pareça ridículo a ponto de destoar da narrativa, resta a dúvida em como o plano de Quentin Beck seria factível a longo prazo. Ainda assim, Jake Gyllenhaal tira leite de pedra com uma composição, com pausas nos diálogos e entreolhares, que revela quanto mais esconde.

Contudo, apesar da química entre Tom Holland e Jake Gyllenhaal, as cenas de ação são genéricas e repetitivas, e sempre quebro a cabeça como produções com um orçamento inchado igual a esta não fogem do lugar-comum, recorrendo à megalomania de cidades destruídas da forma como ocorria desde os primórdios do cinema (embora com melhores efeitos especiais). A frustração é maior diante das muitas possibilidades que as habilidades de Mysterio proporcionam, e basta recordar da sequência mais extraordinária para saber do que estou falando.

Ao término, Longe de Casa é (mais) uma boa aventura da Marvel, um passatempo que tenta iludir ser mais do que verdadeiramente é.

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