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Pele

75 min.

Por Alvaro Goulart

“Não existe meio mais seguro de fugir do mundo que a arte, e não existe forma mais segura de se unir a ele do que a arte”, disse Goethe.

A pele dos observadores está em contraste da pele pintada nas paredes. Não seriam os muros uma pele tatuada? Diversos podem ser os estilos de pinturas, das mais realistas aos mais cartunescos. A beleza das artes, que traz cores à uma realidade marginalizada. Sem ela, o mundo seria cor de cinza…chumbo.

Grafites, pichações, símbolos indecifráveis, palavras de ordem e declarações de amor revelam desejos, medos, fantasias e devaneios.

E Quem disse que só de grafite vive a arte de rua?

Os piches e todo seu alfabeto próprio proclamam justiça, amor, paz e tantos outros verbetes necessários aos dias atuais. “Pra que me ver por inteiro se me julga pela metade?” Diz um deles. Pros invisíveis, na parede existe o registro do seu grito por reconhecimento e existência; Instinto de sobrevivência que não será silenciado. “A Favela Vive!”, a parede grita. As colagens são igualmente letradas e bem humoradas: “É preciso (m) amar”. E a conversão de “arminha” em “pepeka” igualmente genial! Quem disse que crítica não tem que ter humor?

Entre batuques em baldes e o ritmo do som da cidade. Buzinas e carburadores compõem a harmonia que faz fundo sonoro à essa pinacoteca a céu aberto. O coro de gritos democráticos de “Lula Livre”, “Fora Temer” e “Fora Bolsonaro” também eram música pros meus ouvidos tocados durante o filme.

O “passinho” acompanha o ritmo da melodia urbana. A cidade é escalada pelo atleta de Parkour. Do hip-hop ao soul, todos são dançados. A ginga da capoeira não poderia faltar. E, é claro, que o Jazz e o Samba iam ter seu espaço. Quem diria! Yoga e Tai chi apareceram também! Afinal, têm espaço pra todos! Até os invisibilizados pela miséria são permitidos a aparecer, compondo o quadro com todo contraste necessário pra chocar.

Vestimentas e corpos nus. Tudo expresso em arte. Amor, sexo…religiões? A que você quiser. Seja com dança, música, sorrisos ou dor, não tem como não sentir, em vários sentidos o que é visto por aqui. O que começa nos olhos, arrepia a pele do expectador. Triste é saber que a pele preta é a mais pintada com vermelho sangue. Zumbi, Marielle VIVEM!

O longa metragem é um grito. Na pluralidade de manifestações multissensoriais, vemos diversos grupos marginalizados fazendo-se ser enxergado. Suas peles gritam, seus cabelos gritam, seus movimentos gritam, suas danças gritam, suas músicas gritam, suas artes e corpos gritam. A rua grita. A demolição grita…Tudo, a sua maneira, é ensurdecedor para que os que fingem não escutar possam sentir também na pele.

Tive a oportunidade de reconhecer algumas das artes apresentadas em minhas rotas pelas ruas do Rio de Janeiro. Mais feliz ainda foi poder deslumbrar outras ao longo desses 75 minutos de desbunde audiovisual. É reconfortante saber, ao fim do documentário, que a equipe de produção não poupou esforços para encontrar e dar o devido crédito aos artistas responsáveis pelas obras. Nada mais justo aqueles que nos entregam tanto – aos olhos, mente e coração – sem nos pedir nada em troca. Não só o cinema, mas toda arte serve pra comunicar e gerar empatia. E Pele é um veículo para uma viagem sensorial a um horizonte melhor.

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