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Abestalhados 2

Abestalhados 2

90 minutos

Um fazer cinema descontraído e bem humorado com toques de Os Picaretas e The Office

Através da linguagem do humor espertalhão e pastelão, os diretores Marcos Jorge (de Estômago, cuja continuação está em processo de filmagem enquanto escrevo esta crítica) e Marcelo Botta (do programa Furo MTV) explicam o ato de fazer cinema de modo irreverente e engraçado com Abestalhados 2. O próprio título já é uma piada com a indústria, pois, no lugar de desenvolver o um, melhor dirigir a continuação e ter como trunfo a ideia de sucesso do antecessor inexistente. 

O roteiro escrito a oito mãos acompanha 4 amigos – Paulo (Paulino Serra), o diretor, Manuel (Raul Cheque), o roteirista, Eric (Leandro Ramos), o produtor e supervisor de som, e Alex (Felipe Torres), o diretor de fotografia – na tentativa de filme o projeto dos sonhos: o filme de ação Acelerados 2. Só que, durante a filmagem da cena final, que envolve o fechamento de ruas, a colocação de gruas, muita ação e efeitos visuais, a equipe torra o micro orçamento que havia à disposição e começa a entreter ideias de como filmar o restante do projeto. Ao mesmo tempo, o quarteto contrata a produção de documentário sobre os bastidores e têm a oportunidade de conversar com o espectador através da metalinguagem para explicar suas ambições e divergências em relação à produção. 

O barato de Abestalhados 2 está em extrapolar as etapas do processo cinematográfico, mas sem torná-lo incompreensível, enquanto brinca com os estereótipos da indústria. Paulo e Manuel disputam a autoria da obra cinematográfica, no retrato do embate interminável entre diretor e roteirista, com o desejo do último em manter íntegra a visão escrita versus o esforço do primeiro em colocar a sua impressão digital através do língua de imagens; já Eric é perfeccionista e defensor apaixonado da edição sonora, interrompendo tomadas no meio caso capte ruídos – chegando a modificar o figurino do Herói para corrigir distorções no áudio -, enquanto Alex é o cara que pensa em fotografia apenas em termos do estilo noir – o que gera o momento divertido da cena de filme pornográfico em contraluz. 

Sem abandonarem os estereótipos que criaram para si, o quarteto briga, discute, embora conserve a camaradagem mútua e o desejo em fazer cinema, aos trancos e barrancos. Aí entra a parte de processo cinematográfico com a chegada de um ex-piloto, DJ e investidor, Paolo (Nicola Siri), um sujeito malandro, que derrama dinheiro de procedência duvidosa na produção, e os pretextos que o quarteto realiza para filmar determinadas sequências: aí entram Alexandre Rodrigues, de Cidade de Deus, José Loreto, de Mais Forte que o Mundo, e Wellington Muniz, o Ceará, atuando no filme dentro do filme sem saber de que participam do projeto (similar a Os Picaretas, a comédia estrelada por Steve Martin e Eddie Murphy, com o estilo de The Office), e a decupagem heterodoxa de Paulo para filmar a mais simples das cenas, o plano e contraplano. 

Mesmo a etapa de pós-produção, com a criação do vídeo promocional, a negociação junto à distribuidora, a criação e divulgação de material de publicidade e a montagem, que tenta o milagre de transformar os fragmentos filmados em longa-metragem entra na brincadeira do elenco que, na maior parte do tempo, acerta no humor descontraído, que somente funciona se houve a suspensão de descrença do espectador. A isso, ainda acrescento as tiradas ou cenas críticas do trabalho criativo, a exemplo do nome dos personagens no filme dentro do filme (Herói ou Mocinha 1 e 2) e da necessidade de ser aprovado no teste de Bechdel para garantir a distribuição. 

Abestalhados 2 ainda tem a boa ideia de encerrar dando uma rasteira no espectador, com uma sacada descontraída que justifica o título da narrativa e o conceito metalinguístico. Afinal, ainda que fosse impossível sair algo que prestasse na produção sem pé nem cabeça do quarteto, havia algo melhor a ser descoberto no fim do dia. 

Abestalhados 2 está em exibição no Festival do Rio 2022.

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